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·29 de novembro de 2018
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·29 de novembro de 2018
O esporte costuma levar pessoas para os mais diversos lugares, e quando o assunto é futebol não tem país que exporte mais ‘pé de obra’ do que o Brasil. De acordo com o último relatório de transferências divulgado pela FIFA, em janeiro deste ano, em 2017 foram mais de 800 brasileiros transferidos para os mais diversos países.
Isael Barbosa, ponta de 30 anos, é um destes operários da bola. Ele foi revelado pelo Grêmio, passou pelo Sport e já teve três experiências no exterior: jogou na Turquia e Portugal, mas jamais havia imaginado que um dia iria ser um dos maiores ídolos do Kairat, do Cazaquistão.
“Nem sabia onde o Cazaquistão ficava no mapa. Mas o futebol tem dessas coisas e oferece oportunidades incríveis”, disse em entrevista para a Goal Brasil. No país mais conhecido popularmente pelo personagem Borat, criado pelo ator britânico Sacha Baron Cohen, Isael disputou mais de 170 jogos e vive a fase mais vitoriosa de sua carreira: já foram quatro títulos conquistados (duas Copas e o mesmo número de Supercopas), além da chance de testemunhar o crescimento do futebol na ex-república soviética.
Recentemente, o clube anunciou a sua saída e homenageou o brasileiro em campo: "Isa, vamos sentir a sua falta".
Abaixo, o ponta conta alguns ‘causos’ curiosos – como quando o frio extremo chegou a congelar o seu cabelo – e revela a vontade de dar um passo além na carreira.
Qual foi o maior desafio que você teve ao chegar no Kairat? Alguma eventual semelhança com o futebol russo (onde já havia jogado pelo Krasnodar) chegou a te ajudar inicialmente?
Isael: Culturalmente, Rússia e Cazaquistão são parecidos e por ter jogado no Krasnodar, da Rússia, a adaptação ao futebol cazaque foi mais tranquila. O futebol dos dois países também tem semelhanças, como a força física e entrega tática. No entanto, hoje acredito que a Rússia está um passo a frente, por já ter investido no desenvolvimento da liga local e ter trazido grandes jogadores nos últimos anos. O Cazaquistão está no mesmo processo e, em breve, terá um campeonato ainda mais forte.
Quando assinei com o Kairat confesso que não tinha muitas informações sobre o Cazaquistão e até carregava um certo preconceito. Quando cheguei, no entanto, logo de cara percebi que é um ótimo país de se morar, muito seguro, confortável e com ótima estrutura profissional e de lazer, tanto para locais quanto para estrangeiros. A parte mais difícil é o frio. Já chegamos a jogar com temperatura de -20 graus celsius. Até o cabelo congelou.
Inicialmente você assinou um contrato de apenas seis meses com o Kairat e hoje faz a sua sexta temporada: o que fez você ficar por tanto tempo?
Isael: Eu sou um jogador muito comprometido e realmente visto a camisa do clube. A adaptação ao Cazaquistão não é fácil. Tem o frio extremo, a dificuldade da língua e peculiaridades de um país majoritariamente muçulmano. Essa combinação faz com que muitos atletas joguem por um período e já peçam para sair.
Não foi meu caso. Eu também passei essas dificuldades, mas resolvi que iria superá-las para contribuir ao máximo, e acho que tanto torcida quanto companheiros de clube reconhecem isso. Hoje, sou o estrangeiro com mais partidas jogadas pelo Kairat, com 171, e ídolo local.
Nos últimos anos o Astana tem aparecido nas competições europeias, eles são os seus maiores rivais? Qual é a principal rivalidade do país?
Isael: O Astana é nosso principal rival no país. É um ótimo time e sempre briga por títulos, tanto do campeonato local quanto das Copas. Sempre que os enfrentamos é diferente e o país como um todo espera por esse duelo. São as duas principais forças locais e, certamente, a maior rivalidade.
A bebida tradicional do país é leite de égua fermentado: chegou a experimentar? Recomendaria para um amigo ou para um inimigo?
Isael: Não experimentei, não, rs.
E carne de cavalo?
Isael: Também não. Sou fã de churrasco, mas as carnes que como são mais tradicionais, rs.
Dizem que o personagem Borat não é muito popular por aí. O personagem é motivo de piada entre vocês jogadores? Amigos brasileiros chegam a brincar com isso?
Isael: Nós brasileiros somos muito bem-humorados e brincamos com tudo. Mas não existe uma brincadeira específica sobre o Borat. Já comentamos entre nós, mas não está na nossa resenha habitual.
No Kairat, você é camisa 10 e já fez diversos gols: pensa em voltar ao Brasil ou está bem adaptado o suficiente para planejar seguir a vida por aí?
Isael: O presidente me fez uma proposta de renovação, mas recebi outros convites para disputar ligas maiores. Joguei quatro anos por aqui, me realizei profissionalmente e sei que deixei minha marca.
Fui campeão da Copa e da Super Copa local duas vezes, joguei 171 partidas oficiais pelo clube, marquei 38 gols e dei diversas assistências. Agora, acho que é hora de voar para novos ares.
Quais você diria que são as principais semelhanças entre o Cazaquistão e o Brasil?
Isael: Na minha opinião, absolutamente nada. As duas culturas não se relacionam em aspecto cultural nenhum, muito menos em termos geográficos ou climáticos. Acho que também por isso ainda é difícil ver jogadores brasileiros jogando por aqui. Tem que estar muito disposto a "virar a chave".