Trivela
·05 de maio de 2022
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·05 de maio de 2022
Foram quase duas décadas de espera até que, finalmente, um clube de fora do México voltasse a conquistar a Concachampions. O tão aguardado dia que marcaria o fim da hegemonia da Liga MX no torneio continental aconteceu nesta quarta-feira. E o Seattle Sounders foi o responsável por quebrar a escrita, sagrando-se campeão da Concacaf pela primeira vez. Donos da torcida mais fanática dos Estados Unidos, os Rave Green lotaram o Lumen Field com 68,7 mil espectadores e quebraram o recorde de público na competição. Dentro de campo, os jogadores não decepcionaram a massa e foram claramente melhores que o Pumas UNAM, construindo uma vitória por 3 a 0, com dois gols de Ruidíaz e outro de Lodeiro. Assim, depois do empate por 2 a 2 arrancado nos minutos finais dentro do Estádio Olímpico Universitário, os Sounders puderam comemorar a façanha. É o terceiro título da MLS no torneio, o primeiro em 22 anos, e levará os EUA pela primeira vez ao Mundial de Clubes.
É verdade que os clubes mexicanos deixaram a desejar nesta edição da Concachampions. Alguns times dominantes no torneio não participaram dessa vez, incluindo o atual campeão Monterrey, que não tinha vaga automática pelo título anterior. Outros representantes sem tanta história na competição derraparam logo cedo. Já o Pumas, que, apesar de três conquistas, sustenta um jejum de 33 anos no certame, voltou a perder uma decisão contra um “não-mexicano” – assim como tinha ocorrido contra o Saprissa em 2005, na última derrota do país antes que a hegemonia de 16 anos se iniciasse. Os problemas dos representantes da Liga MX, todavia, não reduzem os muitos méritos do Seattle Sounders na campanha.
Os Sounders conquistaram o título da Concachampions com uma campanha invicta, vencendo todos os jogos em casa e empatando todos fora. A epopeia começou com um 5 a 0 na classificação contra o Motagua, nas oitavas. Depois, seria a vez de fazer inapeláveis 3 a 0 contra o León (num placar que poderia ser maior) e de empatar por 1 a 1 no México. Já na semifinal, em duelo doméstico da MLS, os Rave Green fizeram 3 a 1 no New York City e se garantiram na inédita decisão com novo empate longe dos domínios. Por fim, surgiu o encontro com o Pumas. Os felinos chegaram a abrir dois gols de vantagem no Estádio Olímpico Universitário durante a ida, mas cederam o empate por 2 a 2 com um pênalti convertido aos 54 do segundo tempo por Nicolás Lodeiro. A reação dava aos americanos o direito de depender de uma vitória simples no Lumen Field, onde a torcida favoreceria bastante.
Nesta quarta, o clima nas arquibancadas pareceu contagiar o Seattle Sounders, que começou mandando no jogo. Os Rave Green tinham mais presença ofensiva e pressionavam no ataque, embora não fosse uma partida exatamente vistosa. O duelo acabava um tanto quanto travado e muito disputado na intermediária. Ainda assim, quando as finalizações aconteciam, os americanos é que tentavam. O Pumas oferecia pouco na frente e o artilheiro Juan Ignacio Dinneno estava muito bem marcado. As notícias ruins para os anfitriões eram as lesões de Nouhou Tolo e João Paulo, substituídos com menos de meia hora.
O Pumas teve a grande chance de abrir o placar aos 32 minutos. Lançado na área por Favio Álvarez, Washington Corozo pôde definir diante da meta e isolou. Pouco depois, num lance que acabou anulado, o goleiro Stefan Frei realizou uma defesa milagrosa num tiro de Dinneno. Já no fim da primeira etapa, o Seattle Sounders voltou a apertar um pouco mais. Um aviso veio numa batida perigosa de Lodeiro para fora. Já aos 47, saiu o gol dos anfitriões. Albert Rusnák ajeitou para trás e Raúl Ruidíaz fuzilou. O chute do peruano desviou na marcação e matou o goleiro Alfredo Talavera.
O Seattle Sounders retornou ao segundo tempo ainda num ritmo mais forte. A equipe da casa permanecia mais presente no campo de ataque e concedia pouco ao Pumas. Os mexicanos tiveram sua primeira finalização na segunda etapa apenas aos 16 minutos, numa cobrança de falta frontal que Dinneno chutou perigosamente por cima do travessão. O atacante brasileiro Rogério viraria uma aposta dos felinos para a sequência do duelo. E uma nova oportunidade de empate surgiu aos 20, numa cabeçada fulminante de Diogo que parou em uma defesaça do goleiro Stefan Frei.
(Steph Chambers/Getty Images/One Football)
Neste momento, o Seattle Sounders se continha um pouco mais e buscava os contra-ataques. Diante da postura afobada do Pumas, sobravam mais espaços. Quase deu para Cristian Roldán fazer o segundo, numa reposição errada de Talavera, mas o goleiro se recuperou e espalmou. E os contragolpes seriam mesmo o caminho do ouro, até que Ruidíaz se confirmasse como herói e aumentasse a diferença aos 35. Num avanço muito bem construído pela equipe, com vários passes de primeira, Lodeiro de um tapa para o lado e o peruano só precisou tirar do alcance de Talavera. No fim, o desespero bateu no Pumas e os mexicanos mal finalizavam. Era a deixa para o golpe fatal aos 43, com o terceiro gol. Jordan Morris chutou e Talavera defendeu, em bola que ainda bateu na trave. O rebote ficou limpo para Lodeiro, que se confirmou também como um protagonista do título. Antes do fim, Lodeiro e Ruidíaz seriam substituídos, aplaudidos de pé pela torcida no Lumen Field. O apito final só confirmaria o que já era concreto em meio ao vareio: os Sounders se tornavam os novos campeões da Concacaf.
A comemoração de Lodeiro no terceiro tento foi bastante emblemática. O uruguaio tirou a camisa e pulou no meio da galera. O Seattle Sounders, afinal, possui uma das cenas de arquibancada mais ativas da MLS e carrega uma história no futebol que é anterior à própria liga, com um clube existente desde os tempos de NASL. A cidade de Seattle é apaixonada por futebol e possui um grande envolvimento com o time. Assim, os Sounders passam longe de qualquer artificialidade que por vezes afeta as “franquias” dos Estados Unidos. É um clube com tradição, com torcida numerosa e com um trabalho estruturado desde a base. Algo que se reverte em títulos e, agora, num feito de muito peso no futebol de clubes da Concacaf.
Por todo esse contexto, o Seattle Sounders era um candidato natural a quebrar a dinastia mexicana na Concachampions. Os Rave Green chegaram a quatro finais da MLS nos últimos seis anos e conquistaram dois títulos, sempre competitivos. Pesou a forma como o time encarou o torneio internacional, se valendo da força de sua torcida e de um futebol muito agressivo. No fim das contas, é um título inquestionável dos americanos. A maneira como dominaram o Pumas nesse jogo de volta não deixa dúvidas sobre a superioridade dos novos campeões. Não sentiram o peso da hegemonia adversária e nem se perderam no mental, como ocorreu com vários representantes da MLS ao longo desses anos de jejum.
No banco de reservas, o treinador Brian Schmetzer é um personagem fundamental em toda a história do Seattle Sounders. Nascido em Seattle, o ex-atacante jogou pelo clube na NASL e até no futebol indoor. Virou técnico nos tempos de USL, depois assistente de Sigi Schmid a partir da entrada na MLS, até que o próprio Schmetzer assumisse o cargo principal em julho de 2016. Logo na primeira temporada, conquistou a MLS Cup em cima do Toronto e repetiu o troféu em 2019, além de ter sido vice em 2017 e 2020. Agora, o técnico é o responsável por uma quebra de barreira para todo o futebol da Concacaf.
Já em campo, algumas figuras se sobressaem. Lodeiro teve o gosto de erguer a taça como capitão, bem como marcou gols nos dois jogos decisivos contra o Pumas. É outro a participar de todo o fortalecimento, desde 2016. Ruidíaz chegou tempos depois, em 2018, mas se estabeleceu como um dos melhores jogadores da MLS e se afirma agora com os gols fundamentais na Concachampions. Já na meta, Stefan Frei está com os Sounders desde 2014 e, embora eclipsado pelos atacantes nesta quarta, também fez a diferença para tornar o placar possível. Não à toa, terminou eleito como o melhor jogador da competição, o que amplia seu posto como ídolo do clube. Por fim, o velho ídolo Fredy Montero acabou restrito aos minutos finais no Lumen Field, mas arrebentou diante do León nas quartas e também merece menção especial nessa galeria de campeões.
Com o título do Seattle Sounders, os Estados Unidos passam a somar três troféus na Concachampions. DC United (1998) e Los Angeles Galaxy (2000) tinham sido os campeões anteriores. Ainda é uma fração pequena em comparação com as 37 taças do México, considerando que cinco clubes do país foram pelo menos três vezes campeões. De qualquer forma, esse título dos Sounders é o que permite a esperança de uma maior diversidade nos próximos anos do torneio. Os Rave Green deram um passo que custou tanto aos compatriotas e que certamente motiva outros representantes da MLS a repetirem o feito.
Veja os melhores momentos do jogo: