Futebol Latino
·23 de junho de 2020
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·23 de junho de 2020
*Por Alvaro Tallarico
O futebol brasileiro luta pelo seu espaço em Portugal. Em Canidelo, freguesia de Vila Nova de Gaia, jovens jogadores batalham pelo sonho do sucesso na Europa. Quando chego no apartamento, Kauan está se distraindo com um game – de futebol, claro.
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Com apenas 18 anos, joga na posição de volante, ou, como chamam em Portugal, trinco. Estava indo bem e tinha conseguido a vaga de titular no time. Foi bem nos quatro jogos que disputou. Porém, com a pandemia, terá que retornar ao Brasil.
“A idade foi chegando, tive que começar a trabalhar, ajudar em casa. E surgiu essa oportunidade de Portugal, através do Rodimar. Alguns meses aqui num intercâmbio. Mas agora com a pandemia, vou ter que voltar.” Perguntei se ele iria desistir. “Continuar, até o limite, né? Estou na metade do caminho já. Vai ser complicado, mas é olhar para frente”, respondeu, confiante, com os olhos brilhantes.
Kauan mostra que ganhou maturidade com o tempo longe de casa, do seu país de origem e do convívio familiar. Foi a primeira oportunidade em um clube de verdade. Ele diz que percebeu muita diferença técnica entre o jeito brasileiro e o português de treinar e jogar. Afirma que em Portugal é tudo mais rápido, trabalhos curtos e interessantes. Além disso, há uma curiosidade que a maioria dos times menores do país treina em grama sintética.
“Joguei no Coimbrões e o pessoal abraçou bastante a gente ali. Pelo estilo de jogo, estilo de vida. Nosso jeito de falar, as brincadeiras”, conta Kauan, que volta ao Brasil já encaminhado para jogar em um clube de Curitiba, mas ainda pretende tentar de novo em Portugal quando a pandemia passar.
Em outro caminho, Rafael Lange, 22 anos, centroavante, ou, como a posição é conhecida na terrinha: ponta de lança. Esse jogou futebol nos Estados Unidos (high school) e fala de como a escola norte-americana de futebol é distinta com treinos mais técnicos e físicos, sem a habilidade solta do Brasil. Ele até teve oportunidade de fazer faculdade lá, mas pro problemas pessoas e financeiros, retornou ao Brasil. Começou a cursar arquitetura, mas a vontade de ser jogador profissional falou mais alto. Realizou trabalhos voluntários no Peru e no México. O sonho continuava gritando em seu peito. Em mais um retorno ao Brasil, jogou no Trieste Futebol Clube como volante, zagueiro. Contudo, no dia em que jogou na posição que realmente gosta, atacante, Rodimar estava assistindo e viu potencial. Pela idade avançada, seria sua última chance.
Rafael chegou em Portugal e fez teste para o Pedras Rubras, mas não passou. Então foi para o Coimbrões, mas só aceitavam portugueses no sub-23. Tentou mais alguns e não foi aceito. Até que conseguiu entrar no sub-23 do Oliveira Douro. Treinou duro para conseguir espaço jogando de extremo, ou seja, ponta. Até que alguém sugeriu que tentasse como centroavante. No primeiro jogo que entrou como titular fez um gol; no próximo, dois gols. Foi convidado para o time principal, que está na quarta divisão. Então, a boa surpresa veio. Um clube do Açores, o Vale Formoso, viu uma exibição de Rafael e gostou. E é para onde ele está indo agora. A felicidade dele é clara.
No meio de tudo isso está Rodimar Garcia (52). Ele foi o olheiro que descobriu o talento do zagueiro Léo Pereira, hoje no Flamengo. Ele foi ex-atleta do Coritiba, mas parou com 21 anos. Na base chegou a fazer 168 gols pelo time. Jogou na época do Élcio e Pachequinho, nos anos 80. Por volta de 2011, Rodimar foi treinador do sub-17 do Boavista, de Portugal, onde ficou aproximadamente dois anos. Voltou para Curitiba, continuou com seus projetos de formação de jogadores, e, mais uma vez, retornou para Portugal, onde abriu a empresa RG Agenciamento Esportivo. Dessa forma, ele procura fornecer a estrutura para esses jovens jogadores que querem sucesso na Europa.
Até antes da pandemia eles estavam com cinco atletas. Três deles tiveram que retornar para o Brasil, pois todas as competições pararam. Além disso, o euro está cada vez mais alto, dificultando tudo um pouco mais. Assim, Rodimar volta ao Brasil também. O sonho da carreira na Europa segue vivo em busca dos próximos novos talentos.
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