Zerozero
·15 de novembro de 2024
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·15 de novembro de 2024
O folclore da Premier League diz que uma equipa, para evitar as ameaçadoras trevas da descida de divisão, tem de atingir o mais rapidamente possível a marca dos 40 pontos. Essa máxima foi questionada na temporada transata, quando o Nottingham Forest celebrou a manutenção tendo somado uns míseros 32 pontos.
Uma vez que esse total significaria a despromoção em 27 das 29 temporadas disputadas no atual formato, a equipa foi acusada de sorte. E é certo que houve um elemento fortuito - a fraca campanha dos três recém-promovidos ajudou bastante -, ainda assim, na reta final de 2023/24, os dados estatísticos (mais que os resultados) já mostravam sinais de melhorias sob o comando do português Nuno Espírito Santo.
Ao fim de três meses, o Forest está nos lugares cimeiros da tabela e é uma das grandes surpresas da nova temporada. Mesmo tendo perdido o último jogo, ocupa o quinto lugar com os mesmos 19 pontos que Arsenal (4º) e Chelsea (3º), assumiu-se como a segunda melhor defesa em prova, e parece determinado a assumir-se novamente entre os gigantes ingleses. Estes foram os fatores para a revolução...
O primeiro passo na direção certa foi o abrandar do surreal número de contratações (44 jogadores recrutados nas duas primeiras temporadas no regresso ao primeiro escalão). Essa foi uma mudança fundamental na filosofia.
Falamos, ainda assim, da megalómana Premier League, pelo que o investimento em jogadores seria sempre uma ferramenta importante para o sucesso. Com a ajuda de Pedro Ferreira, que deixou o Benfica para chefiar o recrutamento dos ingleses, isso foi feito de uma forma mais sensível e as mudanças sentiram-se, principalmente, na defesa.
Um dos principais problemas da equipa era a tendência para sofrer nas bolas paradas defensivas - um máximo na última edição da Premier League -, mas esse foi praticamente erradicado com a contratação de Nikola Milenkovic à Fiorentina por 14,3M€. Além disso, o gigante sérvio formou com Murillo uma das parcerias mais seguras de Inglaterra, o que ajuda a explicar como é que apenas o líder Liverpool sofreu menos vezes.
A boa forma de Ola Aina e Álex Moreno também contribuiu para o fenómeno, mas o que realmente deu alívio aos adeptos foi algo que chegou a parecer impossível: estabilidade na baliza. Depois do fracasso de Dean Henderson, Wayne Hennessey, Keylor Navas, Matt Turner e Odysseas Vlachodimos (!!!), eis que o belga Matz Sels conseguiu apagar o fogo e agarrar o lugar. Valeu um treinador que bem conhece a posição.
Podia ser um lamento em relação à desflorestação, mas não é tão sério assim. É simplesmente uma forma de descrever rapidamente o processo ofensivo dos tricky trees, uma vez que ninguém chega aos lugares de topo da tabela só com uma boa defesa.
«Rapidamente». É mesmo essa a palavra. Com jogadores como Hudson-Odoi e Elanga nas alas (Jota Silva o suplente), o objetivo de Nuno Espírito Santo parece ser levar a bola para o último terço da forma mais célere possível. Até os médios são especialistas nessa progressão, ora no passe, no caso do criativo Gibbs-White, ou na condução, como acontece com Elliot Anderson, médio que custou mais de 40 milhões de euros.
A grande figura é Chris Wood, que com oito golos é o segundo melhor marcador da Premier League, só atrás de Haaland, mas o trintão neozelandês não faz mais do que ocupar uma posição central e finalizar as jogadas desta equipa. Um ponta de lança que em outubro se tornou o primeiro jogador do Forest a vencer o prémio de melhor do mês na prova, mesmo interpretando a sua posição da forma mais old school.
O futebol costuma ser morbífico para ligeiros casos de amnésia e foi por isso que a notícia de que Nuno Espírito Santo iria assumir o comando técnico do Nottingham Forest foi encarada com indiferença e desilusão, em oposição a entusiasmo. Quiçá uma amnésia seletiva, já que muitos adeptos preferiram lembrar os 17 jogos do português ao leme do Tottenham em vez da brilhante passagem pelo Wolverhampton, onde subiu de divisão e terminou por duas vezes em sétimo lugar no escalão de topo.
Com apenas sete vitórias nos primeiros 26 jogos no regresso a Inglaterra, chegou mesmo a parecer que o técnico não seria capaz de fazer esquecer Steve Cooper, mas o tempo deu-lhe razão. A manutenção foi assegurada, com ou sem sorte, e a preparação para a nova campanha foi bem feita, com o abandonar da defesa a três a favor de um 4-2-3-1 bem mais ajustado às qualidades do plantel.
Frio na análise, bem ao seu estilo, NES por mais do que uma vez neste bom arranque sublinhou a importância da equipa se manter humilde, ainda assim, é também o próprio que aponta para o potencial. «Penso que podemos ser melhores, claro», disse no início deste mês, «O grupo vai ficar ainda mais forte e com o passar do tempo esta ligação só vai crescer. É essa a minha crença».
Atingiu no passado fim de semana os 500 jogos oficiais como treinador e, apesar da derrota, o técnico pode ter orgulho numa marca construída em palcos de topo e alcançada numa fase muito boa da carreira. Se conseguir manter a posição e levar este clube outrora bicampeão europeu de volta às provas UEFA será um herói celebrado, mas isso são outros quinhentos...