
Central do Timão
·26 de abril de 2025
Diretoria decide reabrir contas de 2023 e gera reações nos conselhos; antiga auditora monitora situação

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·26 de abril de 2025
Na tarde desta sexta-feira, 25, o Corinthians publicou nota em seu site confirmando a atual gestão do clube irá reabrir o balanço de 2023, para oficializar a atribuição de supostas contingências de R$ 191,3 milhões àquele exercício. O valor representa cerca de um terço dos R$ 602 milhões relativos ao aumento de dívida registrado pela diretoria em suas contas de 2024.
Segundo o texto, a decisão estaria justificada por parecer da auditoria externa conduzida pela GF Brasil, empresa contratada na atual gestão para substituir a RSM Brazil, que auditava os demonstrativos financeiros do Corinthians até 2023. Observa, ainda, que a decisão foi “comunicada” ao Conselho Deliberativo (CD) e Conselho de Orientação (CORI) do clube, e que os documentos estarão à disposição para as reuniões destes órgãos nesta segunda-feira, 28.
Foto: Divulgação/Corinthians
A nota foi publicada pelo clube poucas horas depois de uma sequência de eventos no Parque São Jorge que incluiu a protocolização da ata da reunião do Conselho Fiscal (CF), que recomendou ao CORI a rejeição das contas de 2024 do Corinthians, um pedido da gestão ao CD para que a votação do próximo dia 28 fosse adiada, e a recusa a esse pedido, por meio de ofício do CD.
O que diz a GF Brasil
A Central do Timão confirmou junto à assessoria do presidente Augusto Melo que o parecer da auditoria ao qual a nota faz referência é o relatório presente no balanço de 2024 entregue pela gestão. Este relatório é assinado pelo auditor independente Ronaldo Antonio Bordini, representando a GF Brasil.
Sua opinião sobre os demonstrativos incluíam três bases para ressalvas, sendo a primeira delas exatamente as “contingências” que vem sendo alvo de debate no clube há algumas semanas. O texto divide esses valores em dois, sendo R$ 106,24 milhões relativos a autos de infração e multas de ISS (Imposto Sobre Serviços) e encargos relacionados ao Profut.
Os outros R$ 85,056 milhões são categorizados como provisões para contingências de naturezas cível, trabalhista, fiscal e tributária. Em outras palavras, são montantes relativos a processos que o clube responde e tem mais chance de perder do que de ganhar – e, por isso, o clube precisa indicar, prever, essa possível/provável despesa em seu balanço.
A auditoria, então, explica que o balanço “expurgou” (ou seja, excluiu) esses valores das suas contas, para “refletir” o que seria, na visão do clube, a visão mais correta sobre o seu desempenho financeiro em 2024. Diz, ainda, que os valores relativos aos encargos do Profut e as contingências com fatos geradores anteriores a 2024 (que somam R$ 56,233 milhões daquele total de R$ 85,056 milhões) devem ser retificados no balanço de 2023, conforme norma estabelecida no CPC 23.
CPC é a sigla para Comitê de Pronunciamentos Contábeis, um órgão criado em 2005 pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) que, em resumo, normatiza os atos da profissão. No CPC 23, ocorrido em 2009, o tema tratado foi as políticas contábeis, mudanças de estimativa e notificação de erro. O documento regula quando um balanço pode ser corrigido, e de que forma isso deve ocorrer dependendo do erro apontado.
Recepção não é unânime
A decisão da atual gestão alvinegra de atribuir R$ 191,3 milhões em contingências às contas de 2023, já auditadas e aprovadas, tem gerado discussões desde o início do mês. O assunto foi pauta de trocas de notas entre diretoria e Conselho de Orientação (CORI), e também de pronunciamentos do atual e do ex-diretor financeiro do clube, Pedro Silveira e Wesley Melo, que acusou a diretoria de fugir à responsabilidade pelo endividamento ocorrido ano passado.
Além disso, o tema foi debatido em reunião entre representantes do clube e da diretoria dos Gaviões da Fiel na última terça-feira, 22. A nota sobre o encontro, a torcida cita que uma das pautas foram os “R$ 191 milhões de dívidas de gestões passadas contabilizadas em 2024, mas que não necessariamente todas deveriam já estar contabilizadas em 2023”.
Por sua vez, o CF tratou do tema em sua análise das contas, protocolada nesta sexta-feira no CD. O órgão concordou com o parecer da GF Brasil que apenas as contingências relativas ao Profut e às provisões com fato gerador em 2023 justificariam uma reabertura de balanço, caso se comprovem.
Em relação às dívidas de ISS e o restante das provisções, o Conselho Fiscal entendeu que tratam-se de lançamentos contábeis relativos a 2024, devendo constar balanço e não ser atribuído a 2023 como deseja a gestão. Estas duas contingências representam ao todo R$ 104,852 milhões.
Horas depois, o Conselho Fiscal emitiu um ofício, no qual tomou ciência da decisão da diretoria de reabrir o balanço e dizendo que aguardará os resultados, pois, a depender do que for feito, uma retificação pode impactar nas contas de 2024 e alterar elementos do parecer do órgão sobre os demonstrativos.
Já o CORI também citou a questão em ofício onde rejeitou o pedido da diretoria para adiar a reunião que acontece nesta segunda-feira, 28. Ao final do texto, o órgão afirma: “…este órgão não encontrou no relatório da auditoria solicitação de reabertura das contas do exercício de 2023 como mencionado em vossa solicitação”.
Fontes ligadas ao Corinthians, ouvidas pela Central do Timão, se dividem sobre o tema. Algumas entendem que a decisão da diretoria basta para reabrir as contas, bastante comunicar os órgãos fiscais do clube. Mas outros entendem que essa reabertura só poderia acontecer se a atual auditoria do clube notificasse a anterior, para que as possíveis correções fossem feitas a partir desse check-up. Há ainda quem defenda que a reabertura só pode avançar com anuência dos conselhos corinthianos, incluindo o Deliberativo, não bastando uma simples comunicação.
Possível conflito em vista
Caso realmente procesa com a reabertura do balanço de 2023, o Corinthians poderia se ver diante de uma possível briga com a RSM Brazil, empresa que até por anos auditou os demonstrativos financeiros do clube, até 2023.
A Central do Timão apurou que, este mês, a empresa foi procurada por um representante do clube, que pediu documentos relativos às classificações de riscos processuais feitas pela RSM para embasar a análise do balanço de 2023. Essas classificações são o que definem se um processo contra o Corinthians será ou não considerado com “alta chance de perder”, afetando o balanço pois, nestes casos, é necessário incluir uma provisão com valor equivalente ao da causa.
Ainda segundo a apuração, a empresa teria se negado a fornecer os documentos, exigindo um convite formal da gestão para prestar esclarecimentos com os devidos registros. Ciente dos desdobramentos posteriores do caso, a RSM teria revisado seus pareceres sobre as contas do Corinthians, não apenas de 2023 mas todos os anos anteriores, não encontrando falhas que necessitassem de reparação.
Por fim, também foi apurado que a empresa estaria observando os próximos passos da gestão corinthiana, disposta a questionar tentativas de correção ao seu trabalho que considere ilegítimas, não excluindo possíveis judicializações se entender necessário.
Enquanto o tema não avança, a gestão se prepara para munir o CORI e o CD com os últimos documentos sobre as contas de 2024 antes das reuniões que ocorrerão nesta segunda-feira. A tendência no momento é de reprovação do balanço, e caso isso ocorra a diretoria ficará sujeita a um processo de destituição, conforme determina o artigo 106 do estatuto alvinegro.
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