Dani Silva, de Guimarães para Verona: «Dizem que o futebol português é muito parado» | OneFootball

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·18 de novembro de 2024

Dani Silva, de Guimarães para Verona: «Dizem que o futebol português é muito parado»

Imagem do artigo:Dani Silva, de Guimarães para Verona: «Dizem que o futebol português é muito parado»

* por Diogo Organista Pereira Enfrentar a barreira linguística, adaptar-se às diferenças entre campeonatos e ajustar-se a novas rotinas são desafios inevitáveis para quem deixa a liga portuguesa em busca de novos patamares. Mudanças significativas acompanham este percurso, por vezes atribulado e pautado por altos e baixos.

O mercado de transferências é o principal motor que potencia essas transformações. Frenético, imprevisível e cheio de surpresas, alimenta o entusiasmo de quem o acompanha com propostas irrecusáveis, projetos aliciantes e rumores sonantes. Ano após ano, a janela de transferências prova ser o momento decisivo para mudanças, muitas delas concretizadas nos últimos instantes.


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Com este cenário em mente, o zerozero esteve à conversa com Dani Silva, médio português que deixou o Vitória SC em janeiro, ao fim de cinco épocas e meia, e rumou ao emblema italiano Hellas Verona.

Na primeira parte desta entrevista, o centrocampista de 24 anos retratou a chegada à Itália, os novos desafios que enfrentou na Serie A e a saída «atribulada» de Guimarães.

«Nem me tive tempo de despedir do Vitória»

Zerozero (ZZ) - Aterrou em Verona em janeiro e disputa agora a segunda temporada pelo clube. Como está a correr a experiência em Itália?

Dani Silva (DS) - Está a correr bem, é uma experiência totalmente diferente. Quando estava em Portugal, pensava que o futebol seria igual em toda a parte do mundo, mas notam-se essas diferenças mesmo dentro da Europa. Aqui, em Itália, é muito mais físico e mais tático. É normal que um jogador precise de mais tempo para se ambientar, para se adaptar ao sistema da equipa e ao funcionamento do campeonato.

Mas é uma experiência muito boa e estou a disputar um dos melhores campeonatos do mundo. Neste momento, é o mais competitivo, visto que os primeiros seis classificados estão taco a taco pela liderança. Passado um ano, sinto-me melhor jogador e melhor pessoa também.

ZZ - Quais foram as principais dificuldades na mudança para outro país e para outro campeonato?

DS - Em termos de rotina, não senti muitas dificuldades. Itália é muito parecida a Portugal, vive-se muito bem aqui. Verona é uma cidade muito bonita, com muitos turistas e o tempo é bastante agradável. A comida é um dos pontos fortes da região, se bem que no nosso país come-se melhor, especialmente no Norte, em Guimarães [risos]. Foi uma ambientação muito rápida.

A nível futebolístico, o trabalho que se faz no [Hellas] Verona é muito parecido com o do Vitória SC, não notei muitas diferenças. O que notei foi nos jogos, principalmente em termos de intensidade. Os treinos também são mais intensos, porque, lá está, essa intensidade que se coloca nos jogos tem de partir de algum lado.

ZZ - Sair do Vitória SC foi complicado?

DS - Foi duro porque não estava à espera de sair naquele momento e tive de tomar a decisão em dois ou três dias. Na altura, nem me consegui despedir dos meus colegas, nem da equipa técnica. Foi duro, mas o futebol é mesmo assim. Continuo a acompanhá-los, sempre.

ZZ - A Serie A sempre foi conhecida pelo estilo catenaccio, pela solidez defensiva. Sentiu muitas diferenças, nesse aspeto, em relação à liga portuguesa?

DS - Sim, senti algumas diferenças. É algo que nos faz crescer. Em Portugal, existe um futebol muito técnico, cá em Itália até dizem que é um futebol muito parado, que há tempo para tudo. Na Serie A, as equipas estão sempre a pressionar e apostam frequentemente na marcação homem a homem. Nós também já jogámos assim e aplicámos a pressão no campo todo.

O primeiro classificado tanto pode vencer facilmente na casa do último, como, muitas vezes, o último classificado consegue bater o líder na sua casa. O campeonato é muito imprevisível e muito defensivo também. Em Portugal, não se vê tanto essa parte física. Foram essas as principais diferenças que eu senti.

ZZ - Está quase a fazer um ano desde a sua mudança para Itália. Já se encontra totalmente adaptado à nova realidade? Tem correspondido às expectativas?

DS - Foi uma chegada muito repentina. Cheguei no final de janeiro e tive de me adaptar o mais depressa possível, a quatro meses da época terminar. Penso que, dentro das expectativas, a adaptação foi positiva. Consegui ajudar a equipa no que precisavam e conseguimos o objetivo maior, que era a manutenção.

A nível pessoal, defino-me como uma pessoa que quer sempre mais, sou ambicioso e nunca estou satisfeito. Se eu jogo 90 minutos, no próximo jogo vou querer repetir e fazer um golo ou uma assistência. Nunca estou satisfeito com aquilo que faço.

Talvez esteja a passar um momento em que gostaria de ter muitos mais minutos e sei que trabalho para isso. Vou continuar o processo para dizer que o Dani está cá. Espero que, quando o Verona precisar, eu possa dar novamente a mão e ajudar.

«O Tengstedt tem ligação fortíssima com o golo»

ZZ - Na época passada partilhou balneário com o Rúben Vinagre. Como foi essa experiência?

DS - O [Rúben] Vinagre foi muito importante, tornou-se um grande amigo do mundo do futebol e continuamos a falar todas as semanas. Ajudou-me imenso, não só a mim como à minha namorada. Foi a minha experiência fora de portas e ele já está nestas andanças desde os 16 anos. Com ele, a ambientação foi mais fácil.

Sei que também o ajudei muito, mas de certeza que ele ajudou-me muito mais. É mais velho, esteve noutros patamares. É uma pessoa com quem eu me identifico muito, tenho muito respeito por ele.

ZZ - Agora tem como colega de equipa um nome conhecido dos benfiquistas - Casper Tengstedt. Como tem sido e quais foram as primeiras impressões?

DS - Já o conhecia, porque ainda acompanho muito o futebol português devido ao Vitória SC. É um jogador muito forte tecnicamente e uma pessoa muito fácil de se dar. Por acaso, ele é o jogador que fica ao meu lado no balneário, então é uma das pessoas com quem eu me dou melhor dentro do clube, é muito divertido.

Tem uma ligação fortíssima com o golo e destaca-se no um para um com o guarda-redes. É bom contar com ele, está a ajudar-nos muito neste arranque de época.

ZZ - Sobre o início de época, o Verona tem oito derrotas e quatro vitórias para o campeonato, duas das quais frente a Roma e Napoli. Foram também afastados da taça na primeira ronda pelo Cesena. Que balanço faz do arranque da equipa?

DS - Faço um balanço positivo, mas podia ser ainda melhor. Os jogos são muito divididos e imprevisíveis, há sempre muita qualidade nas equipas. De certeza que não fomos os únicos [favoritos] a cair nessa ronda da Taça de Itália. Depois desse jogo, conseguimos dar uma resposta muito boa contra o Napoli, que neste momento é o primeiro classificado.

Temos muita qualidade na equipa, mas nota-se que falta alguma experiência em momentos do jogo. São pormenores que definem partidas, mas isso está a ser trabalhado. Falta-nos alguma consistência jogo a jogo.

ZZ - Como tem sido trabalhar com o mister Zanetti?

DS - É um líder na equipa, tem pouco anos como treinador mas foi jogador antes, o que é muito positivo. Consegue espelhar-se em nós, então é mais fácil desabafar. Nunca deixa o barco ir ao fundo, mesmo nos momentos mais difíceis. Tivemos três derrotas consecutivas e, mesmo assim, nunca perdeu a identidade.

Quer que nós pratiquemos bom futebol, o que é excelente para nos mostrarmos enquanto jogadores. É uma pessoa que gosta muito de trabalhar.

ZZ - Se o Dani tivesse que escolher um ou dois nomes que representem o jogador mais forte que enfrentou dentro de campo, quais escolheria?

DS - Um nome que tenho logo de caras é o do Rafael Leão. É um grande jogador, a capacidade que ele tem de condução é uma coisa de outro mundo. Parece ridículo o que vou dizer, mas parecia que o Leão ia de mota e nós de bicicleta [risos]. Quando arranca a sério... É um jogador fora de série nesse aspeto.

Também apanhei o Kenan Yildiz no meu primeiro jogo a titular, aqui no Verona. Ainda não era tão falado na altura como está a ser agora, mas reparei que tinha uma qualidade acima da média e vai chegar longe. O Kvaratskhelia também é diferenciado. Via estes jogadores na televisão e pensava que eram muito bons, mas jogar contra eles é outra coisa... Ou talvez estivessem inspirados contra mim, não sei [risos].

ZZ - Quais são os principais objetivos, tanto a nível pessoal como a nível coletivo, para o que resta da época?

DS - A nível individual, pretendo continuar a fazer o que tenho feito até agora. Trabalhar todos os dias no máximo para melhorar como jogador. Depois, são coisas que não decidimos, mas tenho de estar sempre pronto caso o mister queira colocar-me a jogar. Claro que gostaria de disputar todos os jogos até ao final, mas não depende só de mim.

É importante estar preparado para ajudar a equipa a 100 por cento e, no final, repetir o mesmo do ano passado. O objetivo do Verona é simples: passa por manter-se no primeiro escalão.

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