
Central do Timão
·07 de junho de 2025
Corinthians rompe com Bepass e pode fechar biometria com Ligatech, que promove projeto piloto na Arena

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·07 de junho de 2025
Na noite desta sexta-feira, 6, o Corinthians publicou nota oficial em seu site anunciando um distrato amigável entre o clube e a Bepass, com quem havia sido firmado, em abril, um acordo para implementar a biometria facial da Neo Química Arena. A possibilidade de romper com a empresa havia sido adiantada pela Central do Timão em matéria publicada na última segunda-feira, 2.
Segundo divulgado na ocasião, a gestão interina do Alvinegro avaliou que embora o contrato com a Bepass tenha sido assinado em 21 de março, com vigência de cinco anos, pouco se fez para efetivar a implementação da biometria no estádio em Itaquera. A presença de Flavio Portella, sócio da Ticket Hub, como líder do projeto, também deixava a nova diretoria do Corinthians desconfortável com a parceria.
Foto: Alexandre Schneider/Getty Images
O encerramento do vínculo, no entanto, ocorreu de forma pacífica e sem custos para o Corinthians. Embora houvesse no contrato a previsão de uma multa rescisória de R$ 50 mil por mês não cumprido (o que daria à Bepass o direito de receber cerca de R$ 2,9 milhões pelos 58 meses restantes), houve a compreensão de que a falta de avanço nos trabalhos desde a assinatura era uma justa causa para o rompimento amigável e sem gerar nenhum compromisso financeiro para as partes.
Parceria anterior
Na nota, o CEO da Bepass Ricardo Cadar citou também que a diretoria interina do Corinthians o informou que “o clube já contava anteriormente com parceiro para desenvolvimento de biometria facial, em estágio de testes mais avançados”. A Central do Timão apurou a afirmação e confirmou que a empresa em questão é a Ligatech, que desde 2021 opera as catracas da Neo Química Arena.
Isso pois desde maio de 2024 a empresa conduz um projeto piloto no estádio alvinegro, testando o seu sistema de biometria facial. O projeto teve início quatro dias após a assinatura da primeira renovação contratual entre Corinthians e Ligatech feita pela gestão Augusto Melo (a segunda ocorreria em março de 2025), e vem ocorrendo em quatro locais do estádio: Portão C, Portão N-3 Sul, Elevadores e Zona Mista (Administrativo).
Estas informações constam em documento, acessado pela Central do Timão, onde a Ligatech apresenta seu portfólio de serviços e parcerias. Ao todo, nove terminais vem sendo testados simultaneamente no projeto piloto em Itaquera, com números expressivos: quase 42 mil cadastros feitos, gerando um total de 117 mil acessos faciais em um total de 147 eventos registrados nestes últimos meses.
Além disso, segundo apurado pela redação, em uma das reuniões do Conselho de Orientação (CORI) onde o tema foi tratado, os membros do órgão fiscalizador receberam a informação de que a tecnologia de biometria facial utilizada pela Ligatech no projeto estava operando com boa assertividade.
Passado recente conturbado
A relação entre Ligatech e Corinthians viveu grande impasse em janeiro deste ano, justamente por conta da biometria facial. Em meio às conversas para renovar o acordo de prestação de serviços das catracas, a empresa recebeu do clube a promessa de também passar a operar a biometria facial em Itaquera. A negociação foi conduzida pelo departamento de TI do Alvinegro, após a diretoria afastada não iniciar conversas com a Imply, vencedora do Request for Proposal (RFP) feito em 2024 para fornecer uma série de tecnologias ao clube.
Nas conversas, já detalhadas pela Central do Timão em matéria esta semana, a Ligatech foi convencida a cobrir os valores oferecidos pela Imply e se responsabilizar pelos custos de implementar o facial em Itaquera: R$ 381.920 em equipamentos, R$ 89.650 em serviços de instalação e R$ 118.000 em adequação de sistemas. No total, a empresa investiu R$ 589.570 baseada na garantia dada pelo clube de que o contrato com o facial adicionado entre os serviços prestados seria assinado.
Porém, a gestão corinthiana não apenas não assinou o contrato como, dias depois, demitiu o responsável pela negociação – Marcelo Munhoes, chefe do TI – e pediu para que a Ligatech excluísse a biometria facial da proposta, que foi assinada em março pelo mesmo valor que teria caso a tecnologia não tivesse sido retirada – afinal, o investimento em equipamentos e sistemas foi 100% feito pela própria empresa.
O fato é que embora o projeto piloto seguisse sendo conduzido pela Ligatech na Neo Química Arena, a diretoria alvinegra trabalhava para ceder a operação da tecnologia, na verdade, para a Bepass, o que acabou acontecendo no final de março com a assinatura do contrato, com valores que representaram um gasto R$ 5 milhões mais alto para o clube do que o acordo negociado pelo TI em janeiro.
O “quase” da NewC
Os poucos testes feitos pela Bepass após se vincular ao clube foram feitos, segundo apurado pela Central do Timão, em ticketeiras da NewC, que operam com tecnologia diferente da OneFan. A explicação está no fato de que a diretoria planejava, também, assinar contrato com a empresa, com o aceite tendo sido dado pelo presidente afastado Augusto Melo horas antes de o Conselho Deliberativo (CD) aprovar seu afastamento cautelar em 26 de maio.
A confiança de que a parceria com a NewC também seria concretizada era tanta que que a diretoria alvinegra chegou a planejar um teste de biometria para a Neo Química Arena para o jogo diante do América de Cali (COL), pela quarta rodada da Copa Sul-Americana, em 6 de maio. O plano não foi em frente, no entanto, porque a ideia era utilizar nos testes as ticketeiras da NewC, com quem o clube não tinha contrato assinado, no lugar dos equipamentos da OneFan.
Além dos riscos legais envolvidos – pois tal situação poderia motivar uma quebra contratual com a atual parceira do Alvinegro, o teste, caso tivesse ocorrido, poderia ter representado um sério problema com a torcida. Isso pois, segundo apurado, a tecnologia da NewC não tem compatibilidade com o sistema do Fiel Torcedor, operado pela OneFan, que gera os QR Codes individuais no ato da venda dos ingressos.
Isso significa que, caso o teste tivesse ocorrido e surgisse alguma falha, não haveria uma alternativa para identificar os corinthianos presentes em Itaquera, pois seria impossível comprovar a veracidade dos ingressos apresentados na catraca. Essa alternativa é chamada de “plano de contingência” e, na sua ausência, restaria ao clube duas opções: não permitir a entrada dos torcedores afetados ou liberar o acesso sem confirmar se os ingressos eram verdadeiros, expondo o clube a fraudes.
Outro detalhe relevante é que o acordo com a NewC contaria ainda com a presença, em contrato, da empresa Latin United Arenas (Luarenas), cujo presidente e diretor são, respectivamente, Bruno Balsimelli e Flavio Portella (sócios da Ticket Hub). No desenho da parceria, a Luarenas ficaria responsável pelo controle das informações dos jogos do Corinthians na Neo Química Arena, tais como quantidade de ingressos vendidos e renda bruta e líquida, pois lhe seria delegada, pelo clube, a operação das partidas.
Urgência para resolver
Embora não seja possível confirmar ainda, a apuração da Central do Timão é de que são grandes as chances de que a Ligatech fique responsável pela implementação da biometria facial na Neo Química Arena, no lugar da Bepass. A urgência para resolver a situação, já que o prazo legal para adequar o estádio às normas irá expirar no próximo dia 14, é um dos principais fatores para que a decisão caminhe para esse lado.
Isso pois a Ligatech já adquiriu tanto os equipamentos quanto os sistemas necessários para realizar tal implementação, devido ao acordo frustrado de janeiro. Além disso, vem conduzindo o projeto piloto em Itaquera desde maio do ano passado, com resultados considerados positivos pelas equipes de monitoramento. Por fim, são altas as chances de que um possível aditivo assinado com a empresa, incluindo o facial no seu escopo de serviços ao Corinthians, não gere custos adicionais ao clube.
É possível deduzir isso ao analisar a proposta enviada pela empresa ao clube em 17 de janeiro deste ano, onde o facial ainda constava como um dos serviços oferecidos. Nele, todos os valores cobrados do Corinthians são os mesmos praticados atualmente: R$ 39 mil mensais pela manutenção das 145 catracas (e do sistema que as operam), R$ 54 mil pela consultoria e apoio técnico nos jogos do futebol masculino, incluindo staff de 15 a 20 pessoas e valor variável, calculado caso a caso, para outros eventos, ou a operação de jogos de outros times.
Caberá à diretoria interina, portanto, e caso decida de fato pela Ligatech para operar a biometria, manter ou melhorar tais condições financeiras do vínculo, além dos outros termos do contrato atual. Hoje, a parceria com a empresa tem duração de 12 meses , renováveis por outros 12 meses mediante manifestação expressas das partes. Além disso, a multa rescisória é baixa, estipulada em R$ 500 mil e podendo ser acionada por ambos os lados.
Confira a nota do Corinthians anunciando o rompimento com a Bepass:
“O Sport Club Corinthians Paulista informa que assinou nesta sexta-feira (06), em comum acordo, o distrato com a empresa Bepass S.A.
‘O Corinthians agradece a empresa por compreender o estágio delicado em que o processo de implantação da biometria facial encontra-se no momento, numa tratativa conduzida junto a nosso departamento jurídico de forma totalmente amigável e sem qualquer ônus para o clube’, afirmou o presidente em exercício do Corinthians, Osmar Stabile.
‘A Bepass tomou conhecimento, por meio da nova diretoria do Corinthians, que o clube já contava anteriormente com parceiro para desenvolvimento de biometria facial, em estágio de testes mais avançados. Desta forma, mesmo já tendo realizado alguns investimentos, concordou-se por bem fazer uma rescisão de contrato amigável. Por respeito pelo Corinthians e pelo profissionalismo com que trabalhamos rotineiramente, consideramos esta a melhor solução para o impasse que foi criado. Desejamos sempre o melhor para o Corinthians e deixamos as portas abertas para parcerias no futuro’, afirma Ricardo Cadar, CEO da Bepass.”
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