
Gazeta Esportiva.com
·21 de julho de 2025
Corinthians identifica sumiço de faturas e registra B.O. por subtração de documentos

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·21 de julho de 2025
O Corinthians registrou um Boletim de Ocorrência, no último sábado, após identificar que faturas e documentos sigilosos não se encontram nos arquivos físicos e digitais do clube. A suspeita é de subtração criminosa, parte dela possivelmente ocorrida no dia 31 de maio, durante a invasão ao prédio administrativo do Parque São Jorge.
A constatação sobre o sumiço de arquivos foi percebida após o presidente corintiano em exercício, Osmar Stabile, determinar ao departamento financeiro a apuração sobre faturas e gastos que têm sido expostos nas redes sociais e que serão fruto de investigação por parte da Comissão de Ética do Conselho Deliberativo.
“(…) faturas de cartão de crédito corporativo vinculadas à Presidência do clube, referentes à gestões anteriores, deixaram de constar nos arquivos físicos e digitais oficiais da instituição, sem que houvesse qualquer autorização ou justificativa formal para sua retirada ou eliminação. Ressalta-se que tais faturas passaram a circular de forma fragmentada e seletiva na imprensa, o que reforça a hipótese de acesso indevido com propósito ilícito”, diz trecho da descrição da ocorrência na Polícia Civil.
O Corinthians também destaca, no B.O., a violação à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei n.º 13.709/2018), e chama atenção para o eventual cometimento de crime de subtração ou destruição de documentos administrativos, estes previstos no artigo 305 do Código Penal.
Diante deste cenário, o clube solicita às autoridades “investigação urgente”, abertura de Inquérito Policial e salienta a suspeita sobre a subtração também ter ocorrido sobre outros diferentes documentos.
(Foto: José Manoel Idalgo/Agência Corinthians)
Procurado pela Gazeta Esportiva, o Corinthians se manifestou em nota:
“O Sport Club Corinthians Paulista informa que durante o processo de apuração a respeito de faturas de cartões de crédito corporativos, determinado pelo presidente, a fim de responder solicitação do Presidente do Conselho Deliberativo foi identificada a subtração de inúmeros documentos relacionados a controles de despesas, entre outros registros administrativos.
A extensão da conduta relativa a subtração dos documentos ainda está sendo apurada. A ocorrência foi devidamente registrada junto à Polícia Civil, que conduz as investigações em andamento.
Apesar das dificuldades impostas, a atual gestão reafirma seu compromisso com a transparência, a boa governança e o pleno esclarecimento de quaisquer irregularidades, inclusive solicitando ao banco competente as segundas vias das faturas subtraídas. A apuração seguirá com o rigor e a responsabilidade que o tema exige, tanto junto aos órgãos internos e ao Poder Público, quanto perante a opinião pública.
Por fim, o Sport Club Corinthians Paulista repudia com veemência qualquer ação que viole a integridade institucional do clube e lamenta profundamente que disputas políticas tenham ultrapassado os limites do respeito à história, ao patrimônio e ao ambiente associativo do Corinthians”.
Romeu Tuma Júnior, presidente do Conselho Deliberativo, órgão responsável pela fiscalização das condutas de dirigentes e conselheiros, também abordou o assunto ao ser procurado pela reportagem.
“Sobre recentes denúncias de mau uso do cartão corporativo, requeri à atual Presidência informações e preservação dos documentos, a fim de que as comissões do Conselho Deliberativo e os órgãos de controle do clube tivessem acesso durante apuração que irei determinar, nos termos do Estatuto.
Fui informado de que durante a inconcebível invasão na sede do Parque São Jorge no dia 31 de maio, houve furto em que foram levados documentos relativos ao controle de despesas de gestões anteriores, dentre os quais provavelmente estariam incluídos estes documentos.
Imediatamente, apoiei que o clube lavrasse boletim de ocorrência, de modo a assegurar o aditamento, a complementação e a continuidade do registro feito naquela data que gerou a instauração de Inquérito Policial que tramita junto à 6ª Delegacia de Polícia do DRADE da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Crimes como esse não ficarão impunes, e o Corinthians vai provar que, mesmo com todas as tribulações de sua vida política, ainda é uma instituição robusta e capaz de sobreviver ao caos em que se encontra”.
APURAÇÃO INTERNA
No último dia 15, o Conselho de Orientação (Cori) também enviou à Comissão de Ética, entre demandas, a sugestão de apuração sobre a ação de ex-dirigentes e funcionários do clube devido a divulgação de faturas de cartões de crédito em perfis, alguns deles fakes, nas redes sociais.
Augusto Melo, presidente afastado do Corinthians, Pedro Silveira, ex-diretor financeiro, Luiz Ricardo Alves, o Seedorf, ex-gerente financeiro, Josué Lopes de Souza, ex-auditor financeiro, e Dayna Barossi, assessora de Augusto Melo, serão investigados em um processo disciplinar interno e também devem prestar esclarecimentos à Polícia em breve.
(Foto: Peter Leone/O Fotografico/Gazeta Press)
No entendimento da atual gestão e do Cori, o vazamento não pode ser confundido com o crime de subtração, já que as faturas em questão desapareceram do clube. Além disso, os responsáveis pelas exposições dos documentos não estão protegidos pela prerrogativa da função jornalística, prevista em Lei, por não se tratarem de profissionais do ramo e, portanto, também podem ser responsabilizados por eventuais crimes neste sentido.
CLUBE JÁ TEMIA SUMIÇO
O Corinthians já demonstrava preocupação com a proteção de documentos sigilosos e o risco de subtração após o episódio da invasão à sede social, no dia 31 de maio, quando aliados de Augusto Melo tentaram colocar o presidente afastado de volta à cadeira da presidência.
O clube peticionou nos autos do Inquérito Policial que apura o caso da VaideBet, no dia 5 de junho, o aviso de que havia registrado Boletim de Ocorrência naquela oportunidade.
“Fez-se referência ao risco e temor de que a referida invasão tenha resultado na subtração de documentos que não apenas levaram ao indiciamento do Sr. Augusto Melo, mas que também possam versar sobre a péssima situação financeira que o Clube se encontra”, diz trecho da petição, que vislumbrou uma ação policial.
“(…) tendo em vista o fundado receio de que documentos sigilosos ligados a esta investigação possam ter sido subtraídos ou acessados indevidamente, o Peticionário pugna pela adoção das providências cabíveis que melhor se adequarem. No mais, requer-se também que esta Autoridade Policial pondere, especificamente, sobre a eventual necessidade de adoção de medidas cautelares em face dos envolvidos. O intuito do pedido é, sobretudo, a proteção da higidez das investigações em curso, considerando principalmente o bem-estar do Sport Club Corinthians Paulista”, aponta o texto enviado ao Delegado do caso, Tiago Fernando Correia, que, por ora, preferiu não tomar nenhuma providência neste sentido, mas tem sido atualizado sobre casos posteriores.
MILÍCIA DIGITAL
Os documentos que, eventualmente, foram subtraídos do Corinthians têm sido divulgados, primeiramente, por perfis nas redes sociais que estão sob investigação ou, momentaneamente, sob atenção das autoridades devido a um Inquérito Policial que foi aberto, no fim de 2024, após a solicitação de Romeu Tuma Júnior, presidente do Conselho Deliberativo do clube, e que relata à Polícia Civil uma série de ameaças e ações orquestradas contra ele e outros sócios e conselheiros corintianos.
O caso está no Drade (Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva) e foi instaurado pelo delegado José Eduardo Jorge, que tem sido acompanhado por um representante do Ministério Público.
A reportagem apurou que dois dos investigados já foram identificados e qualificados devido à exposição de páginas dos autos, que corre em segredo de Justiça. Novos depoimentos devem ser colhidos em breve, pois a investigação, segundo a Gazeta Esportiva, entrou em fase de afunilamento.
A Polícia pretende intimar uma série de nomes envolvidos e acusados, e concluir sobre a existência ou não de milícia digital. Nesta hipótese, ainda apurar sobre os eventuais financiadores e interessados nesta prática, assim como averiguar a relação da subtração de documentos do clube e o vazamento para perfis “anônimos” nas redes, além do acompanhamento da ligação dos mesmos com pessoas da gestão de Augusto Melo, inclusive com possibilidade de delação a ser negociada em breve.
AUTOR IDENTIFICADO
Parte dos documentos desaparecidos dos arquivos físicos e digitais do Corinthians e que motivaram solicitações de apuração tanto na esfera criminal como também nos órgãos internos do clube, remetem a faturas de cartões corporativos, ora utilizados por Andrés Sanchez e Duilio Monteiro Alves.
Um perfil denominado “@Prmalaoficial” na rede social X, antigo Twitter, foi o responsável por dar publicidade aos documentos, que nos casos de comprovação, tiveram a devida repercussão na imprensa.
Na rede social, o perfil em questão esconde a identidade de seu autor por completo, sem qualquer referência de imagem ou nome.
(Foto: Reprodução)
As investigações em curso, no entanto, identificaram que trata-se de Luiz Carlos Martucci Junior, de 41 anos, membro do programa Fiel Torcedor e suspeito de gerenciar dezenas de perfis nas redes sociais com alta mobilização e apoio de demais perfis, em grande parte, que também escondem a identidade de seus responsáveis.
Antes de intensificar as postagem sobre o Timão, o perfil do “Pastor Mala” concentrou-se em discussões políticas, com defesas e ataques a partidos e candidaturas para cargos públicos.
Luiz Carlos Martucci Junior, segundo dados da Polícia, chegou a ser preso em flagrante sob acusação pelo crime de receptação culposa, em 2015, quando respondeu em liberdade após o pagamento de fiança. Ele teve a prisão preventiva decretada, mas, em 2024, a Justiça comunicou sobre a prescrição do processo, o que impediu que ele fosse levado ao sistema prisional.
Antes, Luiz Carlos Martucci Junior, o “Pastor Mala”, foi detido por suspeita de lavagem de dinheiro. A Polícia encontrou mais de R$ 70 mil guardados embaixo do colchão do então suspeito. O caso, no entanto, foi arquivado após um diretor da Imperial Transportes — cooperativa de ônibus urbanos com mais de 150 veículos que presta serviços à SPTrans — alegar que o dinheiro pertencia à empresa.
A reportagem apurou que Luiz Carlos Martucci Junior deve ser convocado pela Polícia Civil para prestar esclarecimentos sobre a eventual participação dele em uma organização de milícia digital e também para apurar eventuais crimes de divulgação de documentos sigilosos do clube sem que haja prerrogativa profissional para isso.
PEDIDO DE DUILIO
Independentemente das apurações das autoridades, os gastos com os cartões corporativos do Corinthians serão averiguados pela Comissão de Ética do clube e, posteriormente, levados ao plenário do Conselho Deliberativo, e os resultados independem da resolução de inquéritos policiais, como acontecera com Augusto Melo no caso VaideBet.
Andrés Sanchez já assumiu gastos para fins pessoais, depositou o valor de ressarcimento ao clube e terá, ainda assim, que responder processo disciplinar. O mesmo pode acontecer com Duilio Monteiro Alves, que ainda não teve o caso encaminhado à Comissão de Ética.
(Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians)
Ainda assim, Duilio solicitou, na última quinta-feira, todas as faturas de cartão do clube referente ao período da gestão dele, de 2021 a 2023. No pedido enviado a Leonardo Pantaleão, superintendente jurídico do Corinthians, o ex-presidente disse desconhecer a autenticidade de alguns documentos vazados e se mostrou temeroso sobre montagens para construção de narrativas que visem prejudicar a imagem dele. Duilio manifestou, também, o interesse em responder qualquer questão sobre o tema.
Pantaleão, porém, não concedeu a Duilio as faturas. No dia seguinte, o superintendente explicou ao ex-presidente, em ofício, que o acesso direto a documentos internos da administração do clube não encontra amparo no Estatuto e apontou para o fato da atual gestão ter adotado medidas rigorosas para assegurar o sigilo, a integridade e a rastreabilidade de documentos sensíveis.
Após a troca de e-mails, no último sábado, Pantaleão foi informado pelo departamento financeiro de que as faturas não se encontravam onde deveriam estar arquivadas, o que motivou o chefe do departamento jurídico a lavrar um Boletim de Ocorrência imediatamente.