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·26 de abril de 2025
Corinthians contesta R$ 6 mi de acordo verbal inserido no RCE por Pedro Silveira em dívida com Bertolucci

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·26 de abril de 2025
O Corinthians inseriu e, portanto, reconheceu no Regime Centralizado de Execuções (RCE) uma dívida de R$ 78,2 milhões com Giuliano Bertolucci, empresário de atletas. Deste montante, R$ 42,2 milhões referem-se ao negócio feito sobre a compra de direitos econômicos do jogador Ramiro. O valor se tornou elevado devido ao descumprimento de pagamentos por parte do clube.
Em fevereiro deste ano, porém, o Corinthians entrou com um embargo na Justiça para tentar suspender a execução da dívida com o empresário sob a alegação de equívoco no valor final. O clube, neste embargo, não reconhece R$ 6 milhões.
O Corinthians, no processo, explica que não houve apresentação de uma planilha que justificasse o valor pedido pelo empresário sobre este caso em específico, lembrou que a cobrança de juros sobre juros é inconstitucional no país e usou condições estabelecidas no contrato firmado pelo Corinthians com Bertolucci, durante a gestão Duilio Monteiro Alves, para sustentar a tese de que há uma cobrança incorreta.
A defesa de Bertolucci, por outro lado, não pretende abrir mão dos R$ 6 milhões citados no embargo corintiano. A sustentação do escritório que defende o empresário destaca que o valor está citado no RCE e que não houve nenhuma objeção feita pelo Corinthians nos autos do mesmo RCE, que foram iniciados antes desta contestação e ratificados pela Justiça em abril.
Para justificar a ausência da apresentação de cálculos que remetam ao valor final e a utilização de juros compostos, a defesa de Bertolucci alega que houve um acordo “pactuado entre as partes de forma verbal”.
Este acordo foi alinhado em conversa por WhatsApp entre o representante de Giuliano Bertolucci e o executivo André Lavieri, que presta auxílio e consultoria ao departamento financeiro do Corinthians em nome da Alvarez & Marsal.
No print juntado ao processo, ao qual a Gazeta Esportiva teve acesso, Lavieri encaminha uma planilha com os valores finais ao representante do empresário, onde consta a concordância com o pagamento de R$ 42,2 milhões a ser feito pelo clube por causa da dívida sobre a compra de Ramiro. Esta conversa aconteceu dia 22 de agosto de 2024 e Lavieri cita, nela, que os números já haviam passado por Pedro Silveira, então diretor financeiro do Corinthians e responsável pelas decisões. O advogado de Bertolucci chega a sugerir ao juiz que Lavieri seja convocado para que se evidencie uma “prova testemunhal” dos fatos.
NOTA DA A&M À Gazeta Esportiva, a Alvarez & Marsal revelou que, no atual contrato com o clube, a empresa não tem direito a nenhuma receita sobre acordos feitos com credores do Corinthians e salientou que as decisões do departamento financeiro não recaem sobre André Lavieri.
“A Alvarez & Marsal informa que seu contrato com o Sport Club Corinthians Paulista tem como objeto apoio operacional à Diretoria Financeira com valor fixo mensal, sem vínculo com performance e sem qualquer bonificação relacionada à renegociação de dívidas. Esclarece ainda que não possui autonomia para tomar decisões e atua exclusivamente sob demanda, orientação e supervisão do Corinthians, seguindo sempre rígidas normas de governança e compliance globais da consultoria”, disse a empresa.
NOTA DO CLUBE O Corinthians, por sua vez, reconheceu a responsabilidade de Pedro Silveira nas tomadas de decisões e admitiu a participação do departamento jurídico, liderado por Vinicius Cascone, na atuação deste tipo de demanda. Ambos, sob o comando do presidente Augusto Melo.
O clube, no entanto, não deu maiores detalhes sobre a decisão interna de embargar um acordo costurado por Pedro Silveira de forma verbal. A Gazeta Esportiva também não obteve respostas de questionamentos sobre o papel de Fred Luz nestas negociações; sobre o processo de formalização de todas as negociações e acordos incluídos no RCE; e sobre o aumento elevado de juros em processos relacionados ao RCE e negociados pela atual gestão.
“O Sport Club Corinthians Paulista informa que as Diretorias Jurídica e Financeira atuam de forma integrada, sob a coordenação da Presidência do Clube.
Em relação à dívida mencionada, o Corinthians esclarece que está seguindo rigorosamente o procedimento previsto em contrato firmado pelo ex-presidente do Corinthians Duílio Monteiro Alves e o empresário Giuliano Bertolucci, que inclui a aplicação de juros compostos, corrigidos mensalmente.
No âmbito jurídico, o Clube utiliza todos os recursos legais disponíveis com o objetivo de proteger os interesses da instituição.
Adicionalmente, o Corinthians ressalta que a empresa Alvarez & Marsal presta apoio operacional à Diretoria Financeira, conforme contrato vigente. Trata-se de um contrato com valor fixo mensal, sem vínculo com performance e sem qualquer bonificação relacionada à renegociação de dívidas. A empresa não possui autonomia para tomar decisões e atua exclusivamente sob demanda, orientação e supervisão do Corinthians.
A atual gestão segue empenhada em honrar todos os compromissos assumidos, reafirmando seu compromisso com a transparência e a responsabilidade na condução administrativa do Clube”, informou o Corinthians em nota à reportagem.
NOTA DE DUILIO Duilio Monteiro Alves, citado na nota do clube, negou que tenha inserido juros compostos no acordo firmado com Giuliano Bertolucci e destacou, em sua defesa, a cláusula citada pelo próprio atual departamento jurídico do Corinthians no embargo contra o empresário.
“Essa informação de que as condições de negociação seguem as que foram previstas em contrato na minha gestão é mentirosa. O contrato está presente na ação de execução, que é pública e pode ser vista por todos. Nela, o autor insere a cláusula 3.1 como forma de correção”, comentou o ex-presidente.
No caso, a cláusula diz o seguinte: “Na hipótese de atraso no pagamento de 03 (três) parcelas ou mais parcelas, consecutivas ou não, ocorrerá o vencimento antecipado da dívida total, a qual será exigível de imediato, com acréscimo de multa de 2% (dois por cento), juros de 1% (um por cento) ao mês e correção pelo IPCA, até o efetivo pagamento”.
Duilio ainda completou.
“Como se não bastasse isso, o próprio autor afirma, categoricamente, que a negociação foi fechada informalmente com o Sr. Lavieri, da Alvarez & Marsal, com autorização do Diretor Financeiro Pedro Silveira, incluindo na ação print de conversa por WhatsApp que comprova o suposto acordo e requerendo, ainda, que eles sejam chamados a testemunhar contra o clube de modo a provar que o acordo foi fechado em nome do Corinthians.
O que é espantoso e extremamente preocupante é pensar que todos os acordos contidos na RCE foram realizados através de negociações realizadas pela gestão Augusto Melo, que fecha acordo com um credor e depois contesta sua própria diretoria financeira”.
SUSPEITA E DEMISSÃO No Regime Centralizado de Execuções proposto pelo Corinthians à Justiça, o clube inseriu R$ 379,2 milhões de dívidas. A lista inclui pendências que já estão sendo cobradas nos tribunais ou questionadas extrajudicialmente.
Todos os valores individuais, com cada empresário, foram negociados sob a liderança de Pedro Silveira, com o auxílio da Alvarez & Marsal e anuência de Vinicius Cascone e Augusto Melo.
O exemplo do caso com Giuliano Bertolucci pode levantar suspeita de que a mesma situação ocorreu em outras negociações pactuadas no RCE, como uma espécie de padrão, o que implicaria em gastos elevados e que poderiam ser evitados pelo clube. Esta discussão deve ser levada ao Conselho Deliberativo para apuração.
Pedro Silveira pediu demissão na noite desta sexta-feira. O economista está nos Estados Unidos tratando de um problema de saúde. A Gazeta Esportiva apurou que ele pretendia deixar o cargo após a votação das demonstrações financeiras de 2024, que está agendada para acontecer na próxima segunda-feira, mas a decisão de Augusto Melo em tentar abrir as contas de 2023 fez Silveira antecipar sua retirada da gestão por discordar da postura adotada pelo presidente.