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·03 de dezembro de 2020

Conheça Luis Artime, o Gerd Muller argentino

Imagem do artigo:Conheça Luis Artime, o Gerd Muller argentino

Nesta semana, a coluna Catimbando traz o passado grandioso de um atacante argentino. Ele brilhou na liga do país, na seleção e até em times brasileiros. Trata-se de Luis Artime, goleador comparado com o alemão Gerd Muller. Embora não fosse alto e habilidoso, sempre achava um jeito de marcar gols. Seja com a cabeça ou com o pé, a rede sempre balançava. Sendo assim, vem entender melhor essa história.

Artime nasceu em Mendoza, no dia 2 de dezembro de 1938. Começou a jogar futebol no Independiente Rivadavia, umas das principais equipes locais. Depois, como sua família era de Junín, cidade na província de Buenos Aires, ele se mudou quando tinha nove anos. Então, entrou no Independiente de Junín. Em pouco tempo, chamou a atenção do Atlanta, um time pequeno, mas tradicional, que havia saído dos holofotes há alguns anos.


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COMEÇO NO ATLANTA

No time do bairro Vila Crespo, Artime afirma que foi muito bem, apesar do processo de adaptação. Não sabia se o fato de ser um menino do interior indo jogar na cidade grande o atrapalhou, mas diz que se sentiu um pouco perdido. Por conta disso, quase não saía da pensão onde ficava por medo e desconfiança da capital Buenos Aires.

Mesmo assim, o técnico do Atlanta na época, Victorio Spinetto, conhecido pelos seus dias no Vélez Sarsfield, o deu a chance de brilhar. Apesar de iniciar com o terceiro time em 1958, Artime logo subiu para a equipe reserva após nove jogos. No mesmo ano, conseguiu estrear no time principal.

Em resumo, pode-se dizer que o Atlanta teve um de seus melhores períodos enquanto Luis Artime fazia parte do clube. Nos seis anos que esteve por lá, o modesto time portenho conquistou a Copa Suécia em 1960 e teve grandes performances no Campeonato Argentino. Quanto ao goleador de Mendoza, um jogo contra o Boca, em La Bombonera, o apresentou ao mundo. Em um empate por 4 x 4, Artime marcou três vezes, algo nunca antes visto no histórico estádio xeneize.

No ano seguinte, tanto o atacante quanto seu clube continuaram se destacando. Sem dúvida, os 25 gols de Artime no campeonato ajudaram o Atlanta a terminar na 4ª colocação. Apenas Sanfilippo, o jogador com mais gols do San Lorenzo, resolveu desafiá-lo ao marcar 26 vezes.

“Minha alegria era enorme. O primeiro que me passou pela cabeça foi todo o esforço que haviam feito meus velhos para que eu jogasse futebol. O único que me exigiram foi que não deixasse os estudos”, declarou Artime.

ASCENSÃO NO RIVER

Porém, em 1962, o destino reservava algo mais grandioso: vestir a camisa do gigante River Plate. Provavelmente, a mudança assustou o atacante em um primeiro momento, mas a verdade é que ele foi muito bem nos Millonarios. Poderia até representar a seleção na Copa do Mundo do mesmo ano, mas o treinador Juan Carlos Lorenzo não gostava dele por algum motivo.

De qualquer forma, o time portenho pagou 15 milhões de pesos para contar com um goleador nato. Acostumado com o clima de família do Atlanta, ele poderia ter sucumbido à pressão. Porém, não foi isso que aconteceu. Em 1962, meteu mais dois gols contra o Boca, em um jogo que o River venceu de virada. Naquela temporada, Artime seria o artilheiro, mas seu time perderia o título para o grande rival.

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Na penúltima rodada do campeonato, o Azul y Oro venceu um confronto decisivo, no qual um brasileiro desperdiçou a chance do empate no final. Após pênalti sofrido por Luis Artime, Delém errou a cobrança e, dessa forma, fez o River dar adeus às chances de levantar a taça.

Aliás, essa foi uma marca daquele time cheio de talentos. Embora tivesse muita qualidade, nunca conseguiu conquistar nada. “Até hoje não entendo como não pudemos obter nenhum título nesses anos”, lamentou Artime. É provável que a falta de fôlego para fechar os campeonatos pesou para a equipe.

JOGANDO NO RIVAL DE INFÂNCIA

Assim, o grande artilheiro foi vendido para outro Independiente: o de Avellaneda, mais conhecido. Curiosamente, quando garoto, torcia justamente pelo Racing, o maior rival. Apesar disso, sempre jogou bem contra seu time do coração. Pelos clubes que passou, marcou 19 vezes contra ele e, em três oportunidades, anotou um hat-trick. Em 1967, se tornou campeão pelo Rojo bem contra La Academia e, mais uma vez, foi artilheiro. Apenas Maradona se consagrou mais vezes como goleador máximo na Argentina.

Pela seleção, Artime foi espetacular. Infelizmente, não teve tantos jogos para aborrecer as defesas adversárias, mas nos que esteve presente, quase sempre deixou o seu. No total, marcou 24 gols em 25 partidas, em uma média impressionante de 0,96. Na Copa de 1966, na Inglaterra, o técnico não o ignorou e percebeu o erro de quatro anos antes. Dos cinco gols argentinos, Artime fez quatro. Em 1968, decidiu testar novos ares, dessa vez no Brasil. Acabou por encerrar sua participação pela seleção no ano anterior, pois ela não aceitava quem jogava fora do país.

AVENTURAS NO EXTERIOR

Aqui em solo tupiniquim, veio jogar no Palmeiras. Ficou pouco, mas não deixou de fazer gols: 48 em 57 partidas. No Paulistão de 1969, marcou 19 vezes, ficando atrás apenas de Pelé. Por conta de uma boa oferta do Nacional de Montevidéu, se transferiu para ser o artilheiro que eles tanto precisavam na Copa Libertadores. Juntamente com o brasileiro Célio, Artime foi campeão e maior goleador do Campeonato Uruguaio logo em seu primeiro ano.

Assim, já em sua segunda fase de carreira, foi extremamente vitorioso e anotou 158 gols pelo time da capital uruguaia. Além disso, a tão sonhada Libertadores veio em 1971, com gol de Artime na final contra o Estudiantes. Em seguida, no Intercontinental, enfrentou o Panathinaikos do então técnico Puskás, que o chamava de lento. O húngaro se arrependeu do que disse ao ver o argentino marcar os três gols do Nacional que deram o título.

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Apesar do sucesso no campo, os uruguaios sofriam nas finanças. Por isso, Artime retornou ao Brasil para jogar no Fluminense, que acabara de contratar Gérson. Porém, seu jeito reservado o prejudicou com Lula, embora o ponta-esquerda nunca tenha confirmado isso. Talvez sua idade tenha atrapalhado também, já que estava perdendo gols fáceis, algo raro. De qualquer forma, o Canhotinha de Ouro chegou a dar a seguinte declaração sobre o atacante argentino: “Eu recebo a bola do Denílson, lanço o Lula e corro para abraçar o Artime”.

A DESPEDIDA

Desmotivado, achou uma desculpa para se afastar do Tricolor Carioca. Primeiro, retornou à Argentina para resolver “problemas estomacais” e conferir seus negócios no país. Assim, na sequência, devolveu parte das “luvas” recebidas e retornou ao Nacional para encerrar a carreira em fevereiro de 1974.

Pendurou as chuteiras em um jogo contra o Olimpia na Libertadores. Fez gol, é claro. No livro sobre os 100 anos do River, o autor destaca que, nesse dia, “o gol ficou sem um amigo”. Ele não estava errado. Atualmente, com quase 82 anos, Artime é dono de uma rede de lojas de material esportivo em Buenos Aires.

Confira algumas frases marcantes durante a carreira de Artime:

“O destino me deu o melhor presente a que pude aspirar em minha campanha: ser técnico de um time em que jogue Luis Artime. É muito mais que um jogador ou um fabuloso goleador: é um símbolo do Rio da Prata. Se Artime fosse brasileiro, nesse país já o teriam endeusado à altura de Pelé”. Etchamendy, técnico do Nacional. “Não diga Artime, diga gol”, frase famosa sobre o atacante na Argentina, na década de 60. “Quase a metade de meus gols acontecem porque erro a conclusão.” Declaração do artilheiro argentino em um programa de rádio a João Saldanha, grande cronista esportivo brasileiro.

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Foto destaque: Reprodução/Desconhecido

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