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·14 de maio de 2020
Como o Brasil de 1982 inspirou o trabalho de Guardiola

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·14 de maio de 2020
Mesmo sem ganhar a Copa do Mundo, a seleção brasileira de 1982 entrou para a história como uma das maiores equipes de todos os tempos. Comandados por Telê Santana, Sócrates, Zico, Júnior, Falcão e cia. encantaram o mundo e mudaram para sempre o modo como se joga futebol. Mas além disso, aquela seleção participou indiretamente em uma segunda revolução no esporte.
Aos 11 anos de idade, Pep Guardiola se apaixonou pelo modo ofensivo com que o time jogava e a constante movimentação dos jogadores, capaz de deixar qualquer adversário perdido em campo. E depois de quase 30 anos, Guardiola usou muitos desses conceitos para criar o tão famoso tiki-taka.
"Essa seleção foi uma das melhores que existiram. Todos os jogadores eram maravilhosos: Éder, Zico, Júnior. Foi uma seleção extraordinária", disse o treinador do Manchester City à ESPN Brasil no ano passado.
"Se, depois de tantos anos, as pessoas ainda lembram desse time, é porque era muito bom. Não sei se alguns campeões são lembrados tanto quanto esse time. Uma equipe é boa quando 20,30, 40 anos se passam, e ainda se fala sobre isso”, destacou.
Hoje, quase 40 anos depois daquele mundial, a influência de Telê Santana ainda pode ser vista nas equipes de Guardiola. O treinador brasileiro inovou e deu extrema liberdade para os laterais Júnior e Leandro avançarem, muitas vezes atuando praticamente como meias. Mais tarde, no São Paulo, fez a mesma coisa com Cafu.
Guardiola também utilizou a estratégia com Dani Alves, no Barcelona, ou Philipp Lahm e Alaba, no Bayern de Munique. E logo que chegou no Manchester City, gastou milhões para contratar Walker e Mendy, dois dos laterais mais caros do mundo.
Telê também sempre queria que suas equipes ganhassem jogando bem e era contra um jogo pragmático, apenas pelo resultado. Outra filosofia que ecoa em Guardiola, que sempre joga para vencer, mesmo quando o empate é suficiente.
Essa postura rendeu algumas críticas ao catalão, principalmente por dominar as ligas nacionais na Alemanha e na Inglaterra mas não vencer a Champions League.
Mas mesmo assim, Guardiola é amplamente considerado o melhor tático do mundo e já está influenciando novos treinadores, como Mikel Arteta, do Arsenal, e Xavi, ex-companheiro de equipe do Barcelona, hoje no Al Sadd.
Mas Telê não foi o único influenciador de Guardiola, que sempre falou de Marcelo Bielsa, Juan Manuel Lillo, Arrigo Sacchi e, claro, seu mentor mais importante, Johan Cruyff. Contudo, os três treinadores também foram inspirados pelo brasileiro.
Bielsa ainda considera o São Paulo de 1992, que derrotou seu time dos Newell Old Boys na final da Libertadores como um dos melhores times que já enfrentou. Sacchi já admitiu anteriormente que era mais influenciado pela marca brasileira de atacar do que pelo jogo defensivo da Itália.
No prefácio da biografia de Sócrates, Cruyff lamentou o efeito negativo da vitória italiana em 1982 e disse que o fracasso do Brasil foi semelhante ao dos grandes times holandeses na década anterior.
Ele enfrentou Telê - que foi inspirado pelo lendário treinador holandês Rinus Michels - na final do Mundial de Clubes 1992, entre Barcelona e São Paulo, que terminou com a vitória do tricolor em um jogo que tinha Guardiola em campo.
"Foi uma das poucas vezes que não tive problemas com uma derrota. Sempre admirei o técnico brasileiro Telê Santana por sua visão, porque sempre exibia uma amor genuíno pelo futebol", escreveu Cruyff em sua autobiografia.
Assim como o holandês, Telê Santana já se foi, mas graças a Guardiola e outros treinadores, seu amor pelo futebol segue vivo.