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·26 de agosto de 2022

Como a Guerra do Futebol influenciou a Copa do Mundo de 1970

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O futebol tem uma capacidade ímpar de unir as pessoas. E a Copa do Mundo é talvez a época em que os povos mais se juntam para celebrar este esporte tão apaixonante.

Ao longo das décadas, são vários os exemplos de como o futebol foi capaz de se converter em um instrumento de paz. No entanto, a contrapartida também é verdadeira, e tem talvez seu grande exemplo ocorrido em 1969, quando um jogo decisivo foi o estopim para uma guerra entre Honduras e El Salvador.

No futebol, a rivalidade entre países vizinhos pode culminar em algo que extrapole o limite dos gramados. Foi isso o que aconteceu nas Eliminatórias da Concacaf para a Copa do Mundo de 1970. El Salvador e Honduras iriam disputar as semifinais para ver quem jogaria contra o Haiti (algoz da seleção dos Estados Unidos) e ficaria com a vaga no Mundial.

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Imagem: francodelavita/Wikipedia

Os dois países na época já demonstravam um relacionamento bastante instável por conta de questões envolvendo imigração e disputa por terras. Apesar de Honduras ser cinco vezes maior do que El Salvador territorialmente, sua população na época era menor do que no país vizinho. Estipula-se que cerca de 20% da população de Honduras tinha origem salvadorenha em 1969.

Para piorar, em 1967, uma reforma agrária aprovada pelo Congresso hondurenho tomou algumas terras que estavam ilegalmente em posse de imigrantes salvadorenhos, que terminaram expulsos do país.

Foi nesse contexto de ebulição que aconteceram as três partidas entre Honduras e El Salvador, nos dias 8, 15 e 27 de julho de 1969.

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A primeira partida foi disputada na capital de Honduras, Tegucigalpa, com vitória dos donos da casa por 1 a 0, gol de Rigoberto Gómez. O árbitro dessa partida foi o peruano Arturo Yamasaki, que apitaria o chamado “Jogo do século”, a semifinal da Copa de 1970 entre Itália e Alemanha. A Itália venceu ao final por 4 a 3, tendo sido este o único de todas as Copas do Mundo com cinco gols marcados na prorrogação.

Mas veio o segundo jogo em El Salvador e a seleção local venceu por 3 a 0, com dois gols de Juan Ramón Martínez e um de Elmer Acevedo, forçando um terceiro jogo em campo neutro, que viria a ser disputado no México.

Relatos de violência, tanto dentro quanto fora de campo marcaram os jogos e a tensão entre os países, que já era grande, chegava a uma situação praticamente insustentável.

No terceiro jogo, com a presença de 1,7 mil policiais mexicanos no estádio e fora dele, a seleção salvadorenha conseguiu o triunfo por 3 a 2 na prorrogação, e conseguiu assim avançar. Na decisão da vaga, venceria o Haiti em três jogos (mais uma vez, a partida final foi realizada em campo neutro, na Jamaica) e se classificaria para a Copa do Mundo do ano seguinte. Os jogadores se abraçaram, apertaram as mãos e deixaram o campo. Três semanas depois, Honduras e El Salvador estavam em guerra.

Mesmo que a guerra em si tenha durado “apenas” quatro dias, o número de baixas foi de 3 mil mortos. Além disso, 300 mil salvadorenhos tiveram que deixar Honduras às pressas, mas em sua pátria-mãe não encontraram qualquer tipo de assistência e uma parcela passou a viver na extrema pobreza. Um tratado de paz só foi assinado em 1980, em Lima (Peru).

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Major Jorge Colindres Reyes (à dir), das forças armadas de Honduras, em cerimônia que marcou o fim do conflito (Imagem: George Colindres, via Wikipedia)

Foi a primeira participação de El Salvador nos Mundiais, tendo perdido todos os jogos e não marcando nenhum gol: 3 a 0 para a Bélgica, 4 a 0 para o México e 2 a 0 para a União Soviética.

Anos depois, em 1982, o selecionado salvadorenho voltaria a participar de um Mundial, e novamente com uma marca negativa: a maior goleada da história das Copas ao perder por 10 a 1 para a seleção húngara. Anos mais tarde, a seleção hondurenha jogaria duas Copas seguidas: 2010 e 2014.

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