Stats Perform
·07 de maio de 2020
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·07 de maio de 2020
Ricardo Quaresma é acima da média. Dentro e fora das quatro linhas. Não fosse a genialidade do amigo Cristiano Ronaldo, possivelmente seria o maior nome do futebol português nos últimos anos. Irreverente, sempre teve a técnica apurada como principal característica. Ficou marcado diversas vezes por lances de efeito, com destaque especial para os cruzamentos de trivela.
Já perto do fim de carreira, aos 36 anos, o atacante de origem cigana e com passagens por Sporting, Porto, Barcelona, Inter de Milão e Besiktas continua a partir para cima dos adversários. Talvez não com a mesma intensidade de outrora no campo, mas seguramente com enorme afinco na luta contra o racismo. No "mano a mano" com líder do partido "Chega", que descaradamente anda de mãos dadas com o fascismo em Portugal, chamou para o drible e levou a melhor.
Recém-eleito deputado, André Ventura, que é uma espécie de cópia portuguesa de Jair Bolsonaro, declarou no início da semana ser a favor de "um plano de confinamento específico para a comunidade cigana que não aceita, maioritariamente, as regras sanitárias e de autoridade pública para a generalidade dos cidadãos". Resumidamente, acusou os ciganos de se acharem "acima da lei" e serem um "sério problema" num país que, convenhamos, é destacado frequentemente como referência mundial no combate à Covid-19.
Quaresma não deixou barato. Não se calou. Fez valer o papel de figura pública e, sobretudo, de cidadão. Resolveu então aplicar a mais bela e decisiva trivela da carreira ao mostrar que jogador de futebol pode – e deve – sair a qualquer momento da própria bolha. Provou que há (muita) vida além do futebol.
"Triste de quem tenta ser alguém na vida atirando os homens uns contra os outros. Triste de quem se ajoelha só para ficar bem na fotografia, para enganar os outros e parecer um homem de bem aos olhos do povo", criticou o meia-atacante, que é "cigano como todos os outros ciganos e português como todos os outros portugueses".
"O racismo apenas serve para criar guerras entre os homens em que apenas quem as provoca é que ganha algo com isso. A nossa vida é demasiada preciosa para ouvirmos vozes de burros", completou.
Na réplica, Ventura não surpreendeu. Fez o que todo covarde geralmente costuma fazer numa batalha de palavras: apelou e contestou a liberdade de expressão.
"É lamentável que um jogador da seleção nacional se envolva em política. Espero que as autoridades do futebol não deixem que isto se torne o novo normal", explicou o político, que, curiosamente, também é comentarista esportivo.
Muito sinceramente, lamentável mesmo é o fato de pouquíssimos jogadores, sejam portugueses ou brasileiros, famosos ou desconhecidos, milionários ou com salários mínimos, se envolverem em questões políticas. Por mais Quaresmas no futebol. Por menos Venturas na política.