
Calciopédia
·15 de julho de 2025
Com estilo ofensivo, o ala Christian Maggio conquistou a torcida do Napoli

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·15 de julho de 2025
Poucos jogadores representaram com tanta entrega e constância a figura do ala moderno no futebol italiano quanto Christian Maggio. Incansável ao longo da faixa direita do campo, o atleta oriundo do Vêneto construiu uma carreira marcada pela contundência no apoio ao ataque e pela disciplina tática. De promessa do Vicenza a ídolo no Napoli, com passagens emblemáticas por Sampdoria, Benevento e com a camisa da seleção de seu país, o atleta atravessou mais de duas décadas como um símbolo de comprometimento com os times que defendeu. Jamais buscou os holofotes, mas fez sua presença ser sentida através de sua liderança.
Nascido no dia 11 de fevereiro de 1982 na cidade de Montecchio Maggiore, na região do Vêneto, no nordeste da Itália, Maggio não se notabilizou por ser um jogador polêmico ou aparecer muito, mas obteria notoriedade por ser uma valorosa peça ofensiva. Sua carreira começou no Vicenza, maior time de sua província, no qual ingressou na base aos 15 anos.
Maggio surgiu como meia pela direita e estreou profissionalmente em 2000, com apenas 18 anos, em uma partida da Serie A contra o Milan. Christian foi revelado por Edoardo Reja, que oito temporadas depois o levaria ao Napoli, mas teve poucas oportunidades na elite – embora recebesse convocações para as seleções sub-18 e sub-20 da Itália; com a última, aliás, ganharia o Torneio das Quatro Nações. Foi apenas em 2001-02, após o rebaixamento do time biancorosso para a segundona, que o jovem começou a se firmar na equipe titular.
Maggio estreou pelo Vicenza e, poucos anos mais tarde, vestiu a camisa da Fiorentina (New Press/Getty)
Na campanha em que passou a ter espaço, Maggio também começou a ser utilizado como lateral-direito por Eugenio Fascetti, que substituiu Reja no Vicenza. Por sua formação como meia, mostrava características diferentes do padrão para atletas daquela posição no futebol italiano, possuindo grande força ofensiva – era uma espécie de lateral “à brasileira”. No entanto, esse talento foi colocado em xeque por conta de uma lesão que o afastou de grande parte da temporada 2002-03.
Ainda assim, Maggio chamou a atenção de um time grande que buscava retomar seu lugar na elite. A Fiorentina, ainda na Serie B, confiou no lateral-direito vêneto. O garoto se tornou titular absoluto da Viola e foi importante na campanha de retorno da equipe à primeira divisão, em 2003-04. Porém, quase não teve espaço na posterior luta contra o rebaixamento após a contratação de Tomás Ujfalusi, que vinha prestigiado por uma boa Euro.
No início da temporada 2005-06, perdeu de vez seu espaço com a afirmação do checo como lateral. Escanteado, Maggio acabou emprestado ao virtualmente rebaixado Treviso para um final melancólico de campeonato. Ao fim da Serie A, com o descenso dos vênetos e o interesse da Fiorentina em seguir co Ujfalusi, foi contratado pela Sampdoria e viu sua sorte mudar.
Maggio se encaixou muito bem no 4-4-2 do técnico Walter Novellino e, atuando como lateral ou meia pela direita, foi uma das grandes válvulas de escape da equipe, liderada por Fabio Quagliarella no ataque. Após o ótimo ano de estreia em Gênova, no qual ajudou a Sampdoria a ser nona colocada da Serie A e semifinalista da Coppa Italia, o jogador vêneto – que tinha sido emprestado pela Fiorentina – foi adquirido em definitivo. E pôde brilhar mais intensamente pelos blucerchiati.
O ala passou a obter maior destaque quando pôde colocar seus atributos ofensivos a serviço da Sampdoria (imago/IPA)
Para 2007-08, Novellino deu lugar a Walter Mazzarri, que começou a privilegiar o esquema 3-5-2. Jogando em um time que usava primordialmente sistemas com três zagueiros, Maggio manteve sua regularidade e passou a ter mais liberdade para atacar, de modo que descobriu sua veia goleadora. Naquela temporada participaria de 17 gols, com 10 tentos e sete assistências em apenas 34 partidas. Já seriam números relevantes para um atacante e eram extremamente altos para um lateral, por mais ofensivo que fosse.
Na temporada mais prolífica de sua carreira, Maggio foi fundamental para a Sampdoria – tanto quanto o capitão Angelo Palombo e o atacante Antonio Cassano, contratado junto ao Real Madrid. Entre seus gols, o ala pôde se gabar de uma pérola de voleio contra o Siena, de uma finalização decisiva na vitória por 1 a 0 no Derby della Lanterna, ante o Genoa, e de ter anotado um dos tentos do triunfo sobre o Palermo, que garantiu a vaga dos dorianos na Copa Uefa.
Seu bom rendimento promoveu o reencontro com Reja, técnico que lhe deu suas primeiras oportunidades, ainda no Vicenza. Mas, desta vez, seu destino seria o Napoli, onde passaria a década seguinte. Os primeiros anos nos partenopei foram de ótimo desempenho, mantendo o alto número de participações em gols em um clube mais competitivo. Assim, rapidamente ele chegou à Nazionale: sua primeira convocação foi feita por Marcello Lippi, em novembro de 2008. A propósito, se imaginava que mesmo antes, na gestão de Roberto Donadoni, o ala fosse convocado para a Euro, mas isso não ocorreu.
Sob o comando de Reja, Maggio teve um bom impacto no Napoli: marcou cinco gols – decidindo, por exemplo, jogos complicados contra Fiorentina, Siena e Catania – e participou de outros seis até romper o ligamento cruzado anterior do joelho direito em março de 2009, o que lhe ter que encerrar sua temporada mais cedo. Recuperado, trabalhou muito pouco com Donadoni, que havia sucedido Edy, e reencontrou Mazzarri em outubro daquele mesmo ano. Para seu futebol, melhor não poderia ter sido a troca de técnico.
Maggio atingiu seu auge pelo Napoli e foi eleito para a seleção da Serie A em três temporadas seguidas (Getty)
Depois que recuperou a forma, o ala vêneto se tornou um dos principais nomes do time de Mazzarri, reeditando a parceria com Quagliarella – mas tendo também Marek Hamsík, Ezequiel Lavezzi e Germán Denis como aliados ofensivos. Sem grife, mas com muita dedicação e qualidade, Maggio anotaria gols importantes, como os de vitórias sobre Bologna e Fiorentina, e ainda assinaria uma pintura ao melhor estilo Marco van Basten, num 2 a 0 contra o Livorno: sem ângulo, acertou um tirambaço de primeira, com a bola no alto, e encobriu Alfonso De Lucia, arqueiro adversário.
Embalado pelos seis gols que ajudaram o Napoli a ser sexto colocado da Serie A e se classificar para a Liga Europa, o ala foi convocado por Lippi para a Copa do Mundo de 2010. Como a Itália jogava com linha de quatro defensores, Christian ficou no banco e só entrou na derradeira partida dos azzurri, contra a Eslováquia. Ele foi a campo no segundo tempo, numa desesperada (e vã) tentativa do treinador de evitar a eliminação na fase de grupos.
De volta da África do Sul, Maggio continuaria a exercer seu papel fundamental no Napoli – a função de um atleta incansável, que corria de 10 a 12 km por partida, e que era influente nas jogadas de ataque dos azzurri. A propósito, por aliar intensidade e velocidade, o vêneto chegou a receber o apelido de Superbike, em referência a uma das categorias mais populares do motociclismo. Se valendo dessas características, em 2010-11, Christian teria uma das melhores temporadas de sua carreira e, com gol e assistência contra a Juventus, além de um tento decisivo no Dérbi das Duas Sicílias com o Palermo, ajudaria os partenopei a conquistarem a terceira posição da Serie A e estrearem na fase moderna da Champions League, 21 anos depois de sua participação anterior na Copa dos Campeões. No fim das contas, seria incluído no time ideal do campeonato na eleição feita pela AIC, a Associação Italiana de Futebolistas.
Superbike repetiria a dose em 2012 e 2013, com muita consistência. Na temporada 2011-12, ele contribuiu com assistências contra Juventus e Milan, além de gol sobre a Inter, numa campanha de quinto lugar do Napoli – ademais, também deu passes-chave em empates com Manchester City e Bayern de Munique na bela trajetória dos italianos na Champions League, que só foi encerrada num duelo duríssimo com o Chelsea, nas oitavas de final. A cereja no bolo azzurro, entretanto, seria o título da Coppa Italia, obtido com triunfo por 2 a 0 sobre a Juve, na decisão. Havia 25 anos que os partenopei não faturavam aquele troféu.
O ala vêneto foi vice-campeão europeu pela Itália e levantou três taças pelo Napoli (Getty)
Naquele período, Maggio foi ganhando espaço e tendo mais oportunidades pela seleção italiana. O ala chegou a começar a Euro 2012 como titular da equipe de Cesare Prandelli, que optou inicialmente por um 3-5-2. Contudo, se tornou opção de banco depois que o treinador voltou a utilizar o 4-3-1-2 durante o torneio, que acabaria com o vice-campeonato da Nazionale.
Em 2012-13, o ala começou voando e mantendo a parceria com Hamsík em alto nível: gol e assistência da dupla na vitória por 3 a 0 sobre o Palermo na Serie A, que sucedeu a derrota na Supercopa Italiana, contra a Juve. Compensando as eliminações precoces nas copas, o Napoli se dedicou fortemente ao campeonato nacional e foi vice-campeão – obtendo sua melhor classificação desde 1990, quando, nos tempos de Diego Armando Maradona e Careca, faturou o scudetto. Naquela temporada, Maggio utilizou a faixa de capitão dos azzurri pela primeira vez e ainda contribuiu com quatro tentos e seis assistências na brilhante campanha. Na sequência, viajou ao Brasil para representar a Itália na Copa das Confederações e atuou em quatro das seis partidas da trajetória da Nazionale, terceira colocada.
Em 2013, a saída de Mazzarri para a Inter e a chegada de Rafa Benítez, técnico que privilegiava linhas de defesa de quatro defensores, poderia ser ruim para Maggio. Contudo, o vêneto manteve seu posto no time titular durante ao biênio de gestão do espanhol e até utilizou a braçadeira de capitão mais vezes – por outro lado, teve um menor número de gols e assistências. Nas duas temporadas de trabalho do hispânico, os partenopei obtiveram um terceiro e um quinto lugar na Serie A, e faturaram também títulos da Coppa Italia e da Supercopa Italiana.
Menos agudo ofensivamente, Maggio acabou perdendo seu lugar na seleção e encerrou sua passagem na Nazionale em 2014, pouco antes da Copa do Mundo, para a qual não foi convocado. No Napoli, viu seu espaço ser reduzido de 2015 em diante, com a chegada de Maurizio Sarri, ex-Empoli, ao comando. O novo técnico levou Elseid Hysaj junto consigo e Superbike ficou estacionado no banco de reservas com grande frequência. Nesses três anos em que se tornou opção no elenco e uma peça de liderança nos vestiários, o time campano foi duas vezes vice-campeão da Serie A e terceiro colocado em uma ocasião.
Após uma década de Napoli, Maggio seguiu na Campânia e se tornou capitão do Benevento, que disputava a Serie B (Getty)
Assim, aos 36 anos, Maggio (em fim de contrato) optou por deixar o Napoli após dez temporadas. A admiração e a gratidão da torcida se justificava pelo fato de o ala ter encerrado sua passagem pelos azzurri com a conquista de três títulos e a participação em 308 partidas, que o colocaram no rol dos 10 atletas com mais aparições pelo clube – mais tarde, cairia na lista, mas seguiria entre os 20 mais presentes. Superbike, no entanto, continuou na Campânia: assinou com o Benevento, recém-rebaixado à Serie B.
Seu primeiro ano vestindo giallorosso não foi dos mais empolgantes e o time acabou sendo eliminado nas semifinais dos playoffs de acesso à elite. No seguinte, utilizando a braçadeira de capitão da equipe comandada pelo técnico Filippo Inzaghi, mostrou a voltar seu talento ofensivo, contribuindo com 10 tentos, marcando três e assistindo mais sete na campanha do primeiro título de Serie B da história do Benevento.
Já a temporada 2020-21 começou de forma acidentada, com mais problemas físicos e uma lesão que o afastaria dos gramados por cerca de um mês. Assim, Maggio foi liberado no fim da janela de transferências do inverno de 2021 e fechou com o Lecce. Sua passagem pelos salentinos, então na Serie B, foi breve, mas simbólica: aos 39 anos, Superbike se tornou o jogador mais velho a marcar pelo clube.
Maggio ficou no Lecce somente até junho de 2021 e, depois da eliminação do time nos playoffs de acesso à Serie A, encerrou sua passagem pela Apúlia. O veterano ficou parado por alguns meses, até receber uma proposta para encerrar sua carreira no Vicenza, onde tudo começara.
Com a camisa do Benevento, Superbike fez seus últimos jogos na elite (Getty)
O retorno teve gosto de ato de lealdade, visto que o time biancorosso brigava para não cair, mas terminou sendo um amargo epílogo da trajetória do ala. Christian até marcou na vitória sobre o Cosenza, na ida dos playouts, mas os calabreses obtiveram a virada na volta e condenaram os vênetos à terceirona. Quando acabou a temporada, Maggio, então com 40 anos, decidiu que era hora de dar um ponto final em sua carreira.
Como principal legado, Maggio deixou a sua dedicação em campo: foi um jogador funcional, que entendeu que o esporte é coletivo e que o bem do time precede vaidades individuais. Seu nome não estampou as principais manchetes do futebol italiano, mas ficou no imaginário de quem valoriza a entrega dentro das quatro linhas acima de tudo. Com as chuteiras penduradas, o ex-ala se tornou comentarista e, depois, auxiliar técnico das seleções sub-15 e sub-21 da Itália.
Christian Maggio Nascimento: 11 de fevereiro de 1982, em Montecchio Maggiore, Itália Posição: lateral-direito e ala-direita Clubes: Vicenza (2000-03 e 2022), Fiorentina (2003-06), Treviso (2006), Sampdoria (2006-08), Napoli (2008-18), Benevento (2018-21) e Lecce (2021) Títulos: Torneio das Quatro Nações (2002), Coppa Italia (2012 e 2014), Supercopa Italiana (2014) e Serie B (2020) Seleção italiana: 34 jogos