Com Ceni e Muricy Ramalho, Expressinho do São Paulo foi até o fim e conquistou a Copa Conmebol de 1994 | OneFootball

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·01 de outubro de 2022

Com Ceni e Muricy Ramalho, Expressinho do São Paulo foi até o fim e conquistou a Copa Conmebol de 1994

Imagem do artigo:Com Ceni e Muricy Ramalho, Expressinho do São Paulo foi até o fim e conquistou a Copa Conmebol de 1994

O calendário do futebol brasileiro hoje em dia é abarrotado de jogos, atrapalha a qualidade do jogo e a saúde dos atletas. Na década de noventa, ele era apenas bizarro. O São Paulo ganhou a Libertadores de 1993 e defenderia o título no ano seguinte. Como foi quarto colocado no Brasileirão, também se classificou para a Copa Conmebol, embrião da Copa Mercosul, que foi o embrião da Copa Sul-Americana. Ainda tinha que jogar o Campeonato Paulista. E o Campeonato Brasileiro. E a Supercopa Sul-Americana. Fez 97 jogos em 1993 e 92 no ano seguinte. Nesse contexto, quem representou os tricolores na Copa Conmebol de 1994 foi um time reserva, batizado carinhosamente de Expressinho, e ele fez uma bela fumaça. Com uma goleada incrível na final contra o Peñarol, os garotos do São Paulo foram campeões.

Essa é uma história cara ao torcedor são-paulino. Primeiro porque todo mundo gosta de pratas da casa. São geralmente identificados com o clube e passam aquela energia jovial. Ainda não deu tempo também de eles perderem muitos gols ou pisarem na bola. Acima de tudo, aqueles garotos do São Paulo eram especiais. Além de nomes como Juninho Paulista, Denilson, Caio, Bordon e Ronaldo Luiz, contavam com Rogério Ceni, o treinador que comandará os paulistas na decisão da Copa Sul-Americana deste sábado contra o Independiente Del Valle em Córdoba, e eram treinados por Muricy Ramalho, o atual coordenador. É como se fosse a história de origem de dois dos maiores ídolos do São Paulo.


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O Expressinho era uma tradição tricolor. Nos anos 40, os seus aspirantes dominaram os Campeonatos Paulistas da categoria, com cinco títulos consecutivos. Nomes como Yeso Amalfi, Leopoldo, Antoninho e Savério foram revelados. A referência era ao Expresso da Vitória, como ficou conhecido o excelente time do Vasco daquela época. Muricy Ramalho havia acabado de ser promovido a auxiliar técnico de Telê Santana e recebeu a responsabilidade de conduzir a campanha da Copa Conmebol, com um grupo que mesclava garotos do sub-20 e alguns reservas mais adultos.

“Não tínhamos nenhuma chance. Ninguém acreditava que passaríamos da primeira fase. Aí foi dando liga, foi se encorpando”, disse Muricy em entrevista ao Terra, em 2013. “O Telê me pediu que eu arrumasse um time de meninos que ele não fosse utilizar no Brasileiro. Por isso, como tínhamos cruzamentos difíceis pela frente, as pessoas achavam que não íamos durar muito. Nosso time tinha pouca experiência, ainda mais para uma competição internacional. Estreamos contra o Grêmio titular, que só tinha feras. Em mata-mata, é assim. Deu no que deu”.

Em 1994, o Grêmio era treinado por Luiz Felipe Scolari. Estava em meio a uma época dourada. Havia conquistado a Copa do Brasil daquele ano e emendaria títulos do Campeonato Brasileiro e da Libertadores. O São Paulo segurou dois empates por 0 a 0 e passou nos pênaltis para enfrentar o Sporting Cristal, do Peru. O primeiro jogo das quartas de final foi no Morumbi, em 16 de novembro. No mesmo dia, um pouco antes, o São Paulo principal venceu o Grêmio, pelo Brasileirão, por 3 a 1 no… Morumbi também. Eu disse: bizarro. Juninho Paulista atuou nas duas partidas saindo do banco de reservas. Comandou a vitória, de virada, por 3 a 1 sobre o Cristal. No Peru, bastou outro 0 a 0.

“Preferi guardá-lo para usá-lo da maneira que usamos”, contou Telê Santana, em entrevista à Rádio Globo, depois dos dois jogos, segundo o Globo Esporte. “Se houvesse necessidade, ele entraria durante a partida (contra o Grêmio) e teria condições de jogar mais 35 ou 40 minutos (contra o Sporting Cristal). Tivemos um zagueiro machucado, o Nelson, e Muricy já estava aquecendo o Nem. Eu mandei que ele colocasse o Juninho. Arriscamos e felizmente deu certo, ele desequilibrou, decidiu a partida”.

Haveria um clássico na semifinal. Para chegar à decisão, o Expressinho teria que passar pelo Corinthians, que contava com nomes como Branco, Marques e Casagrande. O jogo de ida, em 2 de dezembro, foi um festival de gols. Casagrande pegou a sobra na entrada da área e abriu o placar com um chute cruzado. Denilson deixou para Juninho Paulista empatar. Em um rápido contra-ataque, Juninho recebeu nas costas da defesa, driblou Ronaldo e virou para o São Paulo no Pacaembu. Juninho estava impossível. Dois minutos depois, ainda no primeiro tempo, fez fila pela meia-direita e rolou para Catê ampliar para 3 a 1. Branco contou com um desvio na barreira para descontar, mas Juninho pegou um rebote de Ronaldo e fez 4 a 2. Marques deu números finais aos 39 minutos.

Os adultos do São Paulo foram eliminados nas quartas de final do Brasileirão no dia seguinte, pelo Guarani. Todas as atenções estavam voltadas aos garotos, que precisavam apenas empatar o jogo de volta – também no Pacaembu porque o Morumbi havia sido interditado por questões de segurança; seria liberado para as finais do Brasileirão. Caio Ribeiro abriu o placar, aos 15 minutos. Aproveitando uma saída precipitada de Rogério Ceni do gol, Daniel Franco empatou, perto do intervalo. O São Paulo voltou a ficar à frente, mais uma vez com Juninho. Tupãzinho empatou e, a 11 minutos do fim, Rogério saiu errado novamente e permitiu que Viola virasse para o Corinthians. A vaga na final seria decidida nos pênaltis.

A lenda de Rogério Ceni começaria a ser construída. Ele defendeu a primeira batida corintiana, de Gralak. Todo mundo acertou, menos Caio, que bateu fraco, mais ou menos no meio, e parou em Ronaldo. Mas Ceni também barraria o chute de Leandro Silva, antes de Nelson confirmar a classificação. Com um detalhe, que você já deve imaginar: o goleiro são-paulino também converteu a sua cobrança. Naquele mesmo dia, o torcedor havia recebido uma boa notícia. Apesar do interesse do Flamengo, Telê Santana decidiu renovar contrato para permanecer no Morumbi.

O Peñarol era forte. Estava em meio a um pentacampeonato uruguaio, igualando sua maior sequência, e tinha caras da seleção uruguaia, como Pablo Bengoechea, que seria decisivo na conquista da Copa América de 1995. Ele deve ter ficado otimista quando abriu o placar, aos quatro minutos, com Aguillera, mas, relembrando outro apelido que o São Paulo tinha nos anos quarenta, o Expressinho foi um rolo compressor. Caio empatou no fim do primeiro tempo, desviando escanteio. Catê empatou pouco depois do intervalo, o primeiro dos três gols que faria naquela noite. Toninho virou uma bicicleta para completar o rebote de um chute de Pereira no travessão, após linda jogada de Catê pela direita. Caio ampliou de cabeça. Catê fechou sua tripleta, depois de Ceni fazer uma linda defesa à queima-roupa, e o São Paulo venceu por 6 a 1. A maior goleada aplicada em uma final de um torneio sul-americano.

O São Paulo talvez tenha relaxado um pouco demais no jogo de volta. O Peñarol acertou o travessão, e Rogério Ceni fez defesas importantes para manter o 0 a 0 no primeiro tempo no Estádio Centenário de Montevidéu. Depois do intervalo, os uruguaios tiveram chances e chegaram a fazer 3 a 0, mas a vantagem brasileira era grande demais para deixar o título escapar.

Um título que alimentou a excepcionalidade que os são-paulinos compreensivelmente sentiam naquela época. O time principal havia ganhado o Brasileiro de 1991, duas Libertadores consecutivas e a Supercopa Libertadores de 1993. Passou pelo Barcelona, sendo comparado a uma Ferrari por Johan Cruyff, e pelo Milan no Mundial de Clubes. Agora até o time reserva conseguia ser campeão continental também, batendo rivais domésticos como Grêmio e Corinthians.

Alguns daqueles jogadores, nenhum mais que Rogério Ceni, deixaram suas marcas nos anos seguintes, que não foram tão bons assim para o São Paulo, que se separou de Telê Santana, com problemas de saúde, no começo de 1996. Precisaria esperar quase uma década para voltar a dominar o futebol brasileiro e sul-americano, mais ou menos quando o goleiro e o comandante do Expressinho se reencontraram.

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