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·24 de setembro de 2020
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A Coluna Papo Azteca dessa semana vem contar uma das histórias mais curiosas do futebol mexicano no século XXI. Seis Meses. Esse foi o tempo de duração do Colibríes. Já imaginou fazer isso no futebol profissional e não no jogo virtual ‘Football Manager’, que podemos abandonar a hora que quisermos.
Entretanto, não era E-Sports e aconteceu no México no ano de 2003. A equipe era da região de Cuernavaca Morelos. O acontecimento faz muito lembrar a série do Netflix ‘Club de Cuervos', também mexicana e lançada em 2015 na plataforma streaming.
O time nasceu um ano antes. Será que o vôo foi muito alto para o Colibríes? Porque essa brincadeira? Pois o dono do clube era um piloto de avião e proprietário de uma companhia aérea mexicana chamada Aerolíneas. A compra se deu por meio da venda do empresário Enrique Fernández, que mantinha o Atlético Celaya e repassou a franquia para Jorge Rodríguez, denominado no México ‘El Capi’.
Contudo, como o time profissional era novato, algumas de suas estruturas eram bastante questionáveis. Por exemplo, o estádio estava mais para campo de várzea para o bairro de Morelos. A nomenclatura do palco para receber os jogos quando atuasse em casa era o Mariano Matamoros. Aliás, outra curiosidade ao campo é que ele ficava próximo a periferia e os moradores podiam ver a partida de suas casas sem necessitar comprar ingressos. Ademais do outro lado havia um rio a céu aberto.
“No primeiro jogo, como show de abertura, ele [Jorge Rodríguez] colocou alguns aviões no ar e eles passaram como diversão ao público. Ao lado da quadra havia um rio e a bola voou até lá. Aquele foi o primeiro jogo, foi um espetáculo”
O depoimento é do jornalista mexicano Martín Del Palacio. Ou seja, jogar ali seria sempre uma aventura a mais além das quatro linhas de Cuernavaca Morelos.
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A partir da confirmação da vaga, o Colibríes se preparou para o Clausura Mexicano de 2003. Nos quatro primeiros cotejos profissionais como preparação para a temporada que está por vir três triunfos contra Pumas, Tecos e Tigres. O único revés foi para o Veracruz. Porém, as problemáticas começaram antes. O treinador até então era Carlos Trucco, todavia, com salários não pagos por três meses, o mesmo decidiu deixar o clube.
Sergio Rubio é convidado e assina contrato para dirigir o Colibríes na temporada. No entanto, os problemas financeiros que pareciam sanados só aumentaram. Por conta do endividamento foi necessário retirar seus pertences do CT alugado para treinos e foram guardar na casa de um jogador do elenco. Este atleta era o brasileiro Claudinho, que por ter uma casa mais arborizada também cedeu sua residência para treinamento.
Embora as problemáticas parecessem irreversíveis, Zlatko Petricevic, chega com poderio financeiro e paga as pendências do clube. Apesar disso, dois jogos depois, o croata se retira do clube. Surreal, não? Todo o planejamento que parecia um modelo de negócio rentável começava morrer antes da prática aplicada. Rubio voltaria a cair do cargo pela 2ª vez pelos resultados ruins no campeonato. O jogo da queda foi na derrota dentro do estádio Azteca para o América do México. Mas o que ficou na memória foi o protesto dos jogadores contra seus próprios dirigentes ao entrar em campo.
Depois das batalhas vencidas e perdidas, o Colibríes foi a última rodada ainda com chances de terminar a temporada na primeira divisão da Liga MX. Ao mesmo tempo, o adversário era páreo duro, o Cruz Azul. Vencer ou ao menos empatar era válido para não cair, como fizeram, desde que, o Jaguares Chiapas, não vencesse o Tecos. Não aconteceu. Ainda sim, o locutor do estádio trouxe a tona uma ‘fake news’ de empate no jogo de lá e a torcida foi para o campo comemorar com os atletas, mais tarde, se descobriu a verdade.
Chiapas havia vencido a partida por 1 x 0 e jogado o time de Cuernavaca Morelos para a 2ª divisão. Não só isso, mas a vitória empurrava o Colibríes para o seu fim. O mesmo, jamais retornaria a um campo profissional. Ali, no gramado onde se comemorava a “fake news” ninguém sabia, nem mesmo os atletas, porém, o Colibríes estava fadado a morte a partir desse momento. Afinal, a dívida tributária adquirida durante o Clausura Mexicano de 2003, fazia com que os donos não conseguissem quitar os débitos. Dessa forma, a FMF (Federação Mexicana de Futebol), seguiu o rito legal, determinou prazos e se cassou a licença de participação do clube. Além disso, a mentira contadada para a torcida e para os jogadores foi uma tramóia de dirigentes que aproveitaram a festa para fugir.
Dessa forma o Colibríes de Cuernavaca Morelos encerrava sua aventura de 180 dias no México. Ainda assim, no curto prazo de existência contabilizou seus gols na história. O brasileiro, Claudio da Silva Pinto, foi o maior artilheiro do time com apenas oito gols. Revelado no Juventude e com passagens por Santo André, Vitória, Atlético Goianense e Bahia, o atacante foi fazer carreira no México em 1996/1997. Por lá passou por Monterrey, Morelia e Pachuca, como os principais no currículo. Por certo, hoje está aposentado e vivendo em Bom Jesus, no Rio Grande do Sul, sua cidade natal.
Foto Destaque: Reprodução/MilenioDeportes