Trivela
·02 de março de 2022
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Raros atletas russos se posicionaram sobre a invasão de Vladimir Putin na Ucrânia durante os últimos dias. Artem Dzyuba não tinha sido um deles, mas passou a ser cobrado. Embora não venha figurando nas convocações da seleção desde a chegada do técnico Valeriy Karpin, o centroavante era o capitão da Rússia até a Euro 2020 e também um dos jogadores mais relevantes do país. Jogadores ucranianos, especialmente aqueles em atividade na Inglaterra, passaram a pedir uma posição de Dzyuba – como Andriy Yarmolenko e Vitaliy Mykolenko. Nesta quarta, o centroavante do Zenit resolveu se pronunciar.
Dzyuba condenou a guerra, mas sua mensagem se voltou mais à discriminação contra a população russa em meio aos conflitos. O centroavante se queixou da maneira como muita gente não considera que parte dos russos não apoia a invasão e destila ódio contra seu povo. Também criticou a decisão de punir as seleções e equipes russas nas competições internacionais. O veterano garantiu que preferia não se manifestar por não ser um especialista, mas que as cobranças o levaram a uma posição pública. No final, ainda direcionou uma mensagem dura aos jogadores ucranianos.
Vale dizer que nem todos os jogadores da seleção ucraniana adotaram um tom político nas menções a Dzyuba. Capitão da Ucrânia, Yarmolenko foi até mais brando ao dizer: “Tenho uma pergunta aos jogadores russos: caras, por que vocês estão sentados como merdas e não dizem nada? Em meu país, estão matando pessoas, esposas, mães, crianças. Mas vocês não dizem nada, não comentam nada. Digam-me, por favor, o que aconteceria se todos nós, juntos, mostrássemos às pessoas o que está acontecendo de verdade no meu país. Conheço muitos de vocês e todos me dizem que ‘não deveria ser assim’, que é o seu presidente que está agindo errado. Então, caras, vocês têm influência sobre as pessoas, mostrem isso, estou pedindo por favor! Sei que alguns de vocês gostam de mostrar seus colhões diante da câmera, mas agora é hora de mostrar seus colhões na vida real”.
Já o lateral Mykolenko partiu ao ataque pessoal: “Enquanto você, seu bosta, e seus companheiros com cabeça de merda estão em silêncio, Artem Dzyuba, civis estão sendo mortos na Ucrânia. Você e, mais importante, seus filhos, ficarão trancados neste buraco de merda pelo resto da vida. E estou sinceramente feliz por isso. Vocês nunca serão perdoados”.
Em sua resposta, Dzyuba primeiro explicou a demora de sua manifestação: “Até recentemente, eu não queria falar sobre os eventos na Ucrânia. Não queria não porque estivesse com medo, mas porque não sou especialista em política, nunca entrei no tema e não pretendia – diferentemente de um grande número de cientistas políticos e virologistas que surgiram recentemente na internet. Mas, como todo mundo, eu tenho minha própria opinião. Como estou sendo chamado para esse assunto por todos os lados, vou me expressar”.
“A guerra é assustadora. Mas também estou chocado com a agressão e o ódio, que todos os dias adquirem proporções transcendentes. Sou contra a discriminação baseada em nacionalidade. Não tenho vergonha de ser russo. Tenho orgulho de ser russo. E não entendo por que os atletas devem sofrer agora. Sou contra incoerências. Por que se pode fazer tudo, mas toda a culpa agora está em nós? Por que todo mundo sempre está gritando sobre o esporte fora da política, mas, na primeira oportunidade, quando isso acontece com a Rússia, esse princípio é completamente esquecido?”, complementou.
“De novo, a guerra é assustadora. Em situações de estresse, as pessoas mostram sua essência, algumas vezes negativa. Quanta raiva, sujeira e bile se derramaram agora sobre todo o povo russo, independentemente de sua posição e profissão. Aquelas milhares de pessoas que escrevem insultos e ameaças – entrem na fila! É duplamente estranho ouvir tudo isso de pessoas a quem a Rússia deu muito, muito em suas vidas. Tudo isso só cria mais negatividade. A guerra terminará, mas as relações humanas permanecerão. E será impossível retroceder. Lembre-se disso”, finalizou.
Por fim, Dzyuba deixou a mensagem endereçada a Yarmolenko e Mykolenko, sem deixar de expressar também seu patriotismo através de uma hashtag: “PS: E para alguns colegas que se sentam em suas mansões na Inglaterra e dizem coisas desagradáveis: isso não pode nos ofender, nós entendemos tudo! Paz e bem a todos! #SouUmPatriotaDoMeuPaís #EsportesForaDaPolítica”.
Dzyuba soma 55 partidas e 30 gols pela seleção russa. O centroavante possui uma relevância histórica na equipe nacional, até por seu papel na Copa do Mundo de 2018. Apesar de alguns entreveros, o veterano também permanece como uma liderança importante no Zenit e é um dos capitães da equipe, que busca o quarto título nacional consecutivo nesta temporada.