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Carter Batista·04 de março de 2021
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Carter Batista·04 de março de 2021
Se você fechar os olhos por um segundo e se concentrar um pouco, aposto que vai conseguir se lembrar do Fred irritado balançando os braços em sinal de cancelamento e dizendo: “Acaba o Carioca, acaba! O Carioca tem que acabar”.
Mas será, amigos?
Vou estender a pergunta para todas as 27 unidades da Federação: os estaduais devem mesmo acabar?
Ora, os estaduais são o berço do futebol brasileiro. Até meados dos anos 80 eram os campeonatos que realmente importavam para os clubes brasileiros, sendo que o Carioca e o Paulista tinham ainda o peso da centralidade geopolítica e do domínio econômico da região sudeste.
Durante um século inteiro o Fluminense Football Club se exibia com orgulho por ser o maior vencedor do estadual, só sendo ultrapassado pelo Flamengo no século XXI.
Grandes e pequenos, os clubes do Brasil inteiro bordavam estrelas acima dos seus escudos que faziam alusões a conquistas estaduais.
Basta lembrar que em 1979, Corinthians, Santos e São Paulo decidiram não jogar o Brasileiro (que dava vaga para a Libertadores) para jogar o Campeonato Paulista.
Ou seja, em 1979, Santos, São Paulo e Corinthians abriram mão do Brasileiro e da Libertadores para jogar o estadual. O estadual era tão cobiçado nessa época que em 1979 tivemos dois campeonatos paulistas e dois cariocas, que, aliás, o Flamengo ganhou os dois.
10 anos depois, em 1989, o Botafogo encerrava um jejum de 20 anos vencendo o Flamengo no último grande Campeonato Carioca. O Carioca ainda teria dois gloriosos estertores em 1995 e em 2001, pelas circunstâncias específicas desses anos, mas hoje em dia ninguém valoriza.
Em São Paulo, estimo que o último grande campeonato Paulista tenha sido o de 1993, quando o Palmeiras venceu o Corinthians e também saiu da fila, depois disso o brilho se extinguiu.
O estadual em RJ, SP, RS e MG hoje em dia só vale para quem perde, pois ainda conta vencer os rivais e manter-se hegemônico (o clubismo mais uma vez salvando o futebol), mas para quem ganha pouco acrescenta.
Perder um estadual ainda é relevante e o São Paulo FC que não vence o Paulista desde 2005 é a prova disso, pois um título estadual diminuiria a pressão do longo jejum e tornaria as coisas mais fáceis interna e psicologicamente.
Porém, repita-se: ganhar estadual não é mais relevante, sobretudo no sagrado seio do grupo outrora conhecido como o Clube dos 13.
Não obstante, felizmente, futebol brasileiro não se resume a esses quatro estados. Os 12 principais clubes dos estados citados formam um privilegiado topo da pirâmide do futebol brasileiro, mas para os milhares de clubes da base, o estadual segue fundamental.
A santa, a incontrovertível verdade é a seguinte: o futebol brasileiro deixaria de existir sem os estaduais.
Precisamos de criatividade, de ações de marketing que atraiam interesse e investimento. Também de clubes melhor estruturados e de um calendário que comporte tudo isso.
Vida longa aos estaduais.
Eu ouvi um amém?
Carter Batista é colunista convidado do OneFootball e escreve a coluna Clubismo OF às quintas-feiras. Esta semana, excepcionalmente, na sexta-feira.
Foto de destaque: Lucas Uebel/Grêmio