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Carter Batista·29 de julho de 2020
Clubismo OF: Quem é o campeão brasileiro de 1987?

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Carter Batista·29 de julho de 2020
Uma das disputadas mais irreconciliáveis da História do futebol brasileiro ainda é o campeonato brasileiro de 1987.
Se a Polêmica fosse uma religião politeísta, um de seus deuses mais cultuados seria necessariamente o Título Brasileiro de 1987.
O clubismo move as discussões. Ou seja, pouco importa para o torcedor o que realmente aconteceu em 1987, mas sim e somente aquilo que ficar “comprovado” do debate naquele momento. Quem discordar é clubista.
Antes de ir a 1987, é preciso visitar 1986 e contemplar o fracasso da CBF em organizar um campeonato que fosse atrativo, rentável e que compatibilizasse os interesses dos clubes. Isso levou a entidade a abrir mão de organizar o campeonato no ano seguinte.
Essa foi a deixa para o famoso Clube dos 13 se reunir e revolucionar o campeonato nacional com a criação da Copa União, um campeonato que já nasceu em outro patamar no que diz respeito ao marketing esportivo, à geração de recursos e a exploração das imagens e transmissão de clubes e jogadores.
No final das contas, é certo que a CBF voltou atrás e decidiu participar daquela nova dança que era realmente revolucionária e irresistível. Nascia assim o conceito dos módulos verde e amarelo, cada um deles com 16 clubes.
No módulo verde, a nata do clube dos 13:
Flamengo, Internacional, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Grêmio, São Paulo, Fluminense, Palmeiras, Botafogo, Vasco, Bahia, Coritiba, Goiás, Santa Cruz, Santos e Corinthians.
No módulo amarelo os clubes preteridos, mas que também queria participar daquela dança:
Sport, Guarani, Atlético Paranaense, Bangu, Vitória, Criciúma, Portuguesa, Inter de Limeira, Treze, Rio Branco, Atlético Goianiense, Ceará, Náutico, Joinville, CSA e America RJ.
Como todo mundo sabe, a grande controvérsia é o cruzamento final entre o campeão e o vice de cada módulo.
Mesmo antes da decisão entre Flamengo e Inter, o clube dos 13 jamais aceitou cruzamento. Já os clubes do Módulo Amarelo, liderados pelo próprio Sport, formaram o empecílio que não permitiu que houvesse unanimidade na reunião do Conselho Arbitral que, por maioria, decidiu declarar o Flamengo campeão. Sem a unanimidade, o cruzamento era aplicável com base numa concordância anterior feita por Eurico Miranda assinando, em tese, por todos os clubes.
Hoje em dia seria impensável imaginar um dirigente como Eurico Miranda tendo poderes para decidir o futuro dos maiores clubes não só do Rio de Janeiro, mas também de São Paulo, Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.
Esse detalhe deu azo à ação do Sport Club do Recife na Justiça Federal que iniciou uma série de vitórias do Leão da Ilha nos tribunais, que tornaram o Sport, sim, o legítimo campeão brasileiro de 1987.
Eu fui testemunha ocular do Brasileiro de 1987, da Copa União. Eu colecionei o álbum de figurinhas. Um viajante do tempo que voltasse a 1987 não veria o Sport campeão brasileiro, pois o principal (e, sob a ótica da cobertura da imprensa na época, quiçá o único) campeonato brasileiro que aconteceu foi a Copa União. Esse título, ninguém tira do Flamengo.
Quer dizer, ninguém não, pois a Justiça tira. Tanto que tirou realmente. Mas isso só aconteceu porque o Flamengo foi absurdamente negligente na condução do processo judicial.
O STJ, por exemplo, nunca analisou o mérito da discussão. Isso porque o recurso do Flamengo contra a decisão do TRF5 – que declarou o Sport campeão – não foi acompanhado das peças obrigatórias. Quando isso acontece, o tribunal nem lê o recurso. É como se o Flamengo tivesse mandado um livro para os ministros lerem, mas nesse livro faltavam as principais páginas, e nas páginas que ainda tinham faltavam as letras.
Em resumo, o Flamengo ganhou sim o brasileiro sob todos os holofotes e isso realmente não dá para apagar da memória do torcedor, porém, tirando o conhecimento e o clubismo (esses realmente ninguém pode nos tirar), tudo que se ganha pode ser perdido. E o Flamengo ganhou e depois perdeu.
Mas isso e só o que eu acho. Esse não é o fim dessa história, nem desse campeonato. Até porque eles nunca vão terminar.
Foto de destaque: Reprodução/Twitter
Carter Batista é colunista convidado do OneFootball e escreve a coluna Clubismo OF às quartas-feiras.