🔥 Clubismo OF: Qual é o maior clássico do Brasil? | OneFootball

Estou em Buenos Aires, dentro de um taxi, percorrendo Avenida Corrientes, buscando o número 348, num desejo de materializar o endereço da música de Carlos Gardel e – claro – o assunto, em portuñol fluente, com o taxista, é o futebol.

É véspera de um Boca-River, incontestavelmente o maior clássico do futebol argentino. Dois minutos atrás, o taxista me perguntou qual era o maior clássico do Brasil. Eu pedi para ele repetir a pergunta e, então, ele especificou bem: queria saber qual era o nosso Boca-River.

Os argentinos e nós somos povos tão parecidos. Nos equivalemos em paixão e clubismo, mas a verdade é que nós não temos aqui um clássico como o Boca-River que captura o interesse de 90% da população do país inteiro.

Vi que o nome do motorista é Facundo. Vou tentar responder objetivamente. Esqueci momentaneamente o Carlos Gardel de repente e estou pensando em todas as cidades e clássico importantes do nosso país de extensão continental. Não é fácil apontar um só.

Mas vamos tentar: em primeiro lugar, preciso lembrar que nem sempre foi tão difícil apontar o maior clássico do Brasil, pois o Fla-Flu já ocupou esse lugar, com distinta naturalidade, nos tempos em que era o clássico da Capital do país e tinha uma vantagem que nenhum outro já teve: seus cronistas.

Foto: Andre Coelho/Getty Images

Nelson Rodrigues e Mário Filho, irmãos divididos na paixão: Nelson, tricolor, e Mário, rubro-negro, registraram parte da história desse confronto e o elevaram ao status que serviu de modelo a todas as rivalidades, começando pelo nome Fla-Flu, que depois foi replicado em outras disputas como Sansão, Grenal, Ba-Vi, Brapel, Ca-Jun e Comefogo, por exemplo.

Não por acaso, Nelson Rodrigues escreveu que o Flamengo e o Fluminense eram os irmãos Karamazov do Futebol brasileiro. Porém, a grandeza no futebol é um ativo em constante movimento, tudo flui e nada permanece o mesmo.

Por isso, hoje precisamos eliminar possibilidades. O Brasil é grande demais. Se estivéssemos em busca da maior rivalidade, é certo que ela estaria em cidades como Belo Horizonte e Porto Alegre, divididas ao meio por duas paixões incandescentes.

Porém o maior clássico não é definido apenas pela maior rivalidade. A envergadura dos clubes no cenário nacional, fora de suas cidades de origem e os títulos conquistados são essenciais.

A geopolítica não diminui os clássicos regionais em si, mas afasta alguns concorrentes ao posto de maior clássico brasileiro, como os já aludidos Cruzeiro x Atlético e Grêmio x Internacional

No critério do alcance e representatividade nacional, os grandes clássicos de Rio de Janeiro e São Paulo estão na mesma página, por isso que, se houver uma resposta, ela sairá do famoso Eixo RJ-SP, para o desespero de muitos.

Em São Paulo, nada supera  o Corinthians x Palmeiras. O famoso Derby da Capital é uma história marcada por um antagonismo especial. O clubes dividiram o palco em algumas finais históricas como a do Brasileiro de 1994 e em duelos eliminatórios pela Copa Libertadores da América e as folclóricas finais do Paulistão de 1993 e dos Paulistinhas de 1999 e 2018.

No Rio de Janeiro, para muitos, o Flamengo x Vasco superou o Fla-Flu em importância e rivalidade, depois de uma série de jogos decisivos, como a final da Copa do Brasil de 2006 e as semifinais do Brasileiro de 1992 (quadrangular) e 1997 e uma série de finais do Campeonato Carioca, todas vencidas pelo Flamengo.

No momento em que me preparava para dar a resposta ao Facundo ele parou o carro. Chegamos:

“Corrientes tres cuatro ocho Segundo piso ascensor No hay porteros ni vecinos Adentro cocktail y amor”

Então, agora não vai dar tempo de explicar tudo pra você, Facundo. Mas no pasa nada. Daqui, vou descer a pé até o Porto e depois subir pela Avenida de Mayo e tomar um café com medialunas no número 825. Hasta la vista.

Mas vou te falar uma última coisa: se o maior é tão difícil definir, o melhor é bem fácil. Nas suas próximas férias, vá até Belém do Pará e conheça o RExPA, o Clássico-Rei da Amazônia, o Clássico mais disputado do mundo. Quem sabe você pega o próximo, Facundo, o RExPA número 754 vem aí.

O RE-PA é o nosso Boca-River.

Carter Batista é colunista convidado do OneFootball e escreve a coluna Clubismo OF às quartas-feiras.

Foto de destaque: Buda Mendes/Getty Images