🔥 Clubismo OF: por que a gente sofre tanto com o futebol? 😓 | OneFootball

Imagina torcer para um time que ganha todos os jogos, líder isolado nos pontos corridos e Rey de Copas nos mata-matas – goleadas nos rivais, open bar de humilhações, a maior torcida, vários troféus, a camisa mais bonita e a história mais linda?

Deus me livre.

A experiência do futebol só é tão fantástica, necessária e transformadora por causa do SOFRIMENTO.

Zóon pou ypoférei, o homem é um animal que sofre. O ser humano é o único animal que paga sócio torcedor, pay-per-view e compra tijolinho e camisa oficial pra sofrer. Que Deus conserve essa graça.

Recentemente, vimos o Barcelona tomar de OITO, a Alemanha tomar de SEIS, o Flamengo, que dominou o futebol brasileiro em 2019 tomar de CINCO, QUATRO, TRÊS, DOIS UM e o São Paulo, outrora sobreano, atravessar a atual seca de títulos. Tudo isso só comprova que o sofrimento é democrático e está disponível e acessível para todas as classes sociais.

E ainda existe o Botafogo, o Atlético MG e o Corinthians que têm histórias construídas sob o verniz do sofrimento romântico.

Mas pergunte se algum desses torcedores pensa ou pensou em trocar de time quando a fase virou. NUNCA! O homem troca de religião, de partido político, gosto musical (digamos que ele evolui) e até de amigos, mas o time jamais.

O time pelo qual a gente torce desde criancinha é PARA SEMPRE. Se você conhece algum raro torcedor que cometeu essa terrível APOSTASIA saiba que no fundo ele nunca vai mudar e que ele continua devoto, sofrendo e torcendo em silêncio, como um homem santo que recita uma prece.

Isso, naturalmente, não se aplica a todos os casos – há clubes e clubes -, mas, geralmente, tempo que a gente comemora títulos e vitórias é de apenas 10% do total dedicado ao futebol. Cerca de 60% é o puro e irresgatável sofrimento. Os outros 30% vem da alegria de ver o sofrimento dos rivais.

Daí poderíamos escrever toda uma teoria do caráter dúplice do sofrimento e de como ele (o sofrimento alheio) alimenta o nosso próprio sofrimento e o torna suportável com o passar dos anos.

Os argentinos (esses torcedores maravilhosos, poucos torcem e vivem o futebol como eles), têm uma frase INCREÍBLE que traduz de forma irrefutável a experiência do torcedor com o seu clube e com o futebol: “en las buenas siempre y en las malas mucho más”.

Ou seja, eu poderia tentar uma tradução livre que soaria mais ou menos assim: “nos bons momentos tamo junto, no sofrimento muito mais”.

Carter Batista é colunista convidado do OneFootball e escreve a coluna Clubismo OF às quintas-feiras.

Foto de destaque: Pedro Vilela/Getty Images