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Carter Batista·03 de dezembro de 2020
🤔 Clubismo OF: Para que time seu filho vai torcer?

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Carter Batista·03 de dezembro de 2020
Não torcer para o time do seu próprio pai é uma grande ingratidão.
Só um pai poderia perdoar uma coisas dessas.
O meu perdoou.
A culpa foi dele, afinal, que não posicionava o futebol na ordem correta na escala de prioridades.
Ou seja, meu pai ligava pouco para o futebol e quando me tornei torcedor de um rival (que ele nunca odiou), achou até graça.
Desde que me tornei pai essa é uma questão que me inquieta.
Como quase todo pai, só quero ver os meus molequinhos (o menino e a menina) do mesmo lado da arquibancada que eu em dia de clássico, vestindo as mesmas cores e entoando os mesmos cânticos. É essa a minha missão.
E ninguém vai me segurar. Nem a PM ♫
Com o menino, inicialmente, adotei uma postura racional, menos combativa. Andava repetindo que seria ele quem de fato escolheria seu time (o que não deixa de ser verdade), não forcei nenhuma barra, deixei que a coisa fluísse naturalmente. Ele só tinha 3 aninhos, é cedo ainda, pensava eu.
Até que chegou o mês da Copa do Mundo de 2018 e eu fui para Moscou e fiquei quase um mês fora de casa. No primeiro final de semana fora, minha esposa me ligou da festa do aniversário do pai dela e disse que o pequeno estava com o avô e com o primo cantando o hino de determinado clube rival (não disse qual). Nunca levei uma punhalada, mas agora acho que sei como é. Corta. Rasga. Vai fundo. Revira tudo.
Lembro de ter ouvido um ‘o que você quer que eu faça?’ e ter respondido um ‘tire ele daí agora’. Um pai só quer proteger sua prole.
Nesse dia eu entendi que a culpa era minha. A identidade de um torcedor surge com a emoção e não com a razão.
Agora é assim, vou levar e buscar na escola todo dia cantando o hino do clube. Todo dia veste e beija o manto sagrado. Ele ainda não dedica 90 minutos para acompanhar os jogos, mas comemoramos juntos todos os gols.
Não se enganem: não basta só incentivar, o pai tem que forçar a barra mesmo e detratar os rivais sempre que possível. Guerra é guerra.
Com os sons da arquibancada, com brincadeiras, doces e recompensas (coisa que os rivais não oferecem), vou ajudando meu pequeno a construir suas memórias no futebol.
Quando chegar o momento dele escolher o seu time, já terá sido escolhido. Ele já foi.
A menina veio já nesse clima e como o clubismo é transmitido via DNA, não precisei nem me esforçar. As engrenagens do clubismo (moto eterno) já se movem sozinhas. Ela é a menor clubistinha do mundo e a maior torcedora dessa casa.
Graças a Deus.
Amém.
Carter Batista é colunista convidado do OneFootball e escreve a coluna Clubismo OF às quintas-feiras.
Foto de destaque: Carl de Souza/AFP via Getty Images
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