Clube haitiano desiste da Concachampions ao não conseguir vistos suficientes para entrar nos EUA | OneFootball

Clube haitiano desiste da Concachampions ao não conseguir vistos suficientes para entrar nos EUA | OneFootball

In partnership with

Yahoo sports
Icon: Trivela

Trivela

·18 de fevereiro de 2022

Clube haitiano desiste da Concachampions ao não conseguir vistos suficientes para entrar nos EUA

Imagem do artigo:Clube haitiano desiste da Concachampions ao não conseguir vistos suficientes para entrar nos EUA

O New England Revolution não precisou entrar em campo para se tornar o primeiro classificado às quartas de final da Concachampions 2022. Os americanos enfrentariam o Cavaly, clube do Haiti, que garantiu sua vaga através do Campeonato de Clubes do Caribe. No entanto, os haitianos precisaram desistir de sua participação na competição continental por um motivo insólito: a embaixada dos Estados Unidos não forneceu todos os vistos necessários à delegação, entre atrasos e pedidos negados. Desta maneira, a diretoria optou por abrir mão do torneio, botando o Revolution diretamente na próxima fase.

O Cavaly é um clube pequeno mesmo para os padrões do Haiti. Os rubros estão localizados na cidade de Léogâne, que possui 90 mil habitantes e foi o epicentro do terremoto de 2010 no país. O único título nacional tinha sido conquistado em 2007 e a mera classificação para o Campeonato de Clubes do Caribe caiu no colo da equipe. Os representantes haitianos seriam os dois clubes com maior pontuação na tabela agregada do Clôture 2019 e do Ouverture 2020. Uma dessas temporadas foi interrompida por massivos protestos no país e a outra pela pandemia. Assim, o Cavaly conquistou a vaga com míseros 22 pontos somados em nove partidas disputadas, apesar de ter sido vice-lanterna no Ouverture de 2019.


Vídeos OneFootball


Mesmo com todos os problemas, o Cavaly conquistou o Campeonato de Clubes do Caribe, que possui um nível semiprofissional. A equipe venceu todos os seus jogos, enfrentando equipes de Curaçao, São Vicente e Granadinas, Guiana, Martinica e Suriname. Derrotaram na decisão o Inter Moengotapoe, equipe surinamesa mais conhecida por ter sido desclassificada da última Concachampions – depois que o vice-presidente do país, que é dono do clube e até entrou em campo aos 60 anos, distribuiu dinheiro aos adversários do Olimpia depois da derrota por 6 a 0 no torneio principal.

A classificação do Cavaly para a Concachampions levou sua diretoria a contratar reforços. Por conta disso, os Cavalos Vermelhos optaram por adiar os pedidos de vistos na embaixada americana. No entanto, a crise política no Haiti reduziu a operação dos Estados Unidos na embaixada haitiana e também aumentou o rigor nos processos de emissão de vistos. A burocracia se tornou muito mais lenta que de costume. Vale lembrar que, em julho do ano passado, o presidente Jovenel Moïse foi assassinado em meio às disputas internas. Assim, o Cavaly não teve tempo hábil para conseguir todas as permissões rumo aos EUA e algumas delas também seriam negadas. Segundo o jornalista Jon Arnold, especializado em MLS, o clube cumpriu as suas obrigações nos documentos, mesmo que os tenha enviado em tempo limitado.

Outra questão ao redor do confronto era a decisão do Cavaly em não mandar o seu jogo em casa. Os rubros entraram em acordo com a Concacaf e com o New England Revolution para que ambos os duelos acontecessem no Estádio Gillette, em Foxborough, por conta da situação social e política no Haiti. A escolha por duas partidas na casa do Revolution, além de facilitar a logística, poderia garantir um rendimento maior com a bilheteria para os haitianos do que um embate em campo neutro. De qualquer maneira, isso também criava a necessidade de permanência da delegação nos Estados Unidos por pelo menos uma semana.

Instituições do governo do Haiti tentaram acelerar o processo e garantir as aprovações, incluindo o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério do Esporte. Um senador local igualmente entrou em contato com a embaixada americana. Nos Estados Unidos, o próprio New England Revolution tentou intermediar a questão com o poder público local, assim como se prontificaram dois membros do congresso americano. Apesar de tudo isso, não houve resolução junto aos responsáveis por aprovar os vistos.

A Concacaf, por sua vez, até acatou um pedido do Cavaly para adiar a partida, na intenção de esperar um pouco mais os vistos. Apesar de tal postura, a confederação recebe questionamentos no Haiti por não ter agido de maneira tão incisiva dentro dessa necessidade diplomática. Houve uma aparente falta de boa vontade. É difícil imaginar um comportamento tão passivo caso ocorresse o contrário – se uma equipe dos EUA não pudesse entrar no Haiti por imbróglios burocráticos. A própria desistência sugere uma pressão de bastidores.

O Cavaly anunciou sua desistência na última terça-feira, justificando os atrasos recorrentes nas respostas da embaixada americana e também os vistos negados a membros da delegação. Certamente representar o Haiti na competição continental seria algo bastante significativo aos Cavalos Vermelhos, ainda mais depois da digna participação em 2021 do compatriota Arcahaie, que chegou a segurar um empate por 0 a 0 contra o Cruz Azul na República Dominicana, antes de tomar a goleada por 8 a 0 no México. Além dos jogadores contratados pensando na Concachampions, o Cavaly estava realizado uma preparação especial antes de desembarcar nos EUA, inclusive para lidar com as temperaturas baixas em campo. Tudo em vão.

A desistência é um golpe no aspecto esportivo da Concachampions, uma competição com mostras recorrentes de desorganização por parte da Concacaf. Historicamente, mesmo países rompidos não costumam complicar a emissão de vistos para eventos esportivos, algo diferente do que fez os Estados Unidos com os haitianos. Tal episódio indica até certo descaso ao redor do torneio, quando a solução não deveria ser tão distante. Mas, indo além do futebol, a situação é um retrato forte da crise que afeta os haitianos em diferentes aspectos.

Saiba mais sobre o veículo