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·12 de agosto de 2022

Chile, 1962: da Batalha de Santiago à adoção dos cartões no futebol

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É provável que demore muito tempo para que o público veja tantos cartões em um jogo de Copa do Mundo como viu naquele Portugal x Holanda da Copa de 2006. Afinal, na vitória portuguesa por 1 a 0 pelas oitavas de final, nada menos que 16 cartões amarelos foram distribuídos, sendo nove para os portugueses e sete para os holandeses. De quebra, cada seleção teve dois expulsos.


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Mas os cartões são uma novidade relativamente recente em Copas do Mundo, sendo adotados a partir da edição de 1970. Por isso, é possível que o principal torneio internacional de seleções tenha visto jogos tão ou mais agressivos quanto o que se viu em Nuremburg naquele 25 de junho de 2006. Duvida?

Para encontrar uma candidatura à altura, é preciso voltar a 1962, à Copa do Mundo realizada no Chile. Anfitriã do torneio, a seleção chilena estava no Grupo 2, ao lado de Alemanha Ocidental, Itália e Suíça. E logo na estreia, em 30 de maio, mostrou a que veio com uma vitória por 3 a 1 sobre os suíços.

Aquele jogo se desenvolveu de maneira peculiar. Os retrancados suíços abriram o placar logo aos 6 minutos do primeiro tempo, com Rolf Wüthrich, mas os chilenos não se abateram e viraram, graças a dois gols de Leonel Sánchez e um de Jaime Ramírez. O árbitro inglês Kenneth Aston sofreu com a pressão dos jogadores da casa, que muitas vezes se reuniam em blocos ao seu redor e reclamavam todos ao mesmo tempo para provocar confusão.

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Três dias depois, o compromisso do Chile era com a Itália, que vinha de um 0 a 0 com a Alemanha Ocidental na estreia. Para aquele compromisso, a dupla de técnicos que comandava os italianos, Paolo Mazza e Giovanni Ferrari, promoveu seis mudanças no time titular, em busca de uma postura mais aguerrida.

Em campo, porém, quem tomou conta das ações na base da força foi o Chile – e vale a pena ter em conta que os chilenos já não andavam muito receptivos com os italianos como um todo, diante da cobertura negativa feita por parte da imprensa do país europeu ao torneio. O árbitro escalado para aquela partida foi o mesmo Kenneth Aston que apitou Chile x Suíça.

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Imagem: Wikimedia Commons

Logo aos 5 minutos, o atacante italiano Bruno Mora tomou um pontapé do meio-campista chileno Honorino Landa. Do lado azul, Giorgio Ferrini não gostou, foi tomar satisfações e devolveu a agressão. O árbitro mandou Ferrini para fora, provocando ainda mais irritação por parte dos europeus. Ao perceberem que Landa seguiria em campo, foi a vez de a seleção da Itália cercar Kenneth Aston.

Depois de uma paralisação de 10 minutos, com direito a escolta policial para levar Giorgio Ferrini aos vestiários, o jogo foi retomado. Mas o clima não melhorou muito: no fim do primeiro tempo, Leonel Sánchez foi ao chão após disputar um lance com Mario David, que aproveitou e chutou a bola no rival. A arbitragem não viu – ou fez que não viu.

Filho do boxeador Juan Sanchez, que chegou a ser campeão chileno dos pesos galo, El Gran Leonel não se deu por vencido: levantou-se e acertou um soco no rosto de David. A arbitragem manteve os envolvidos em campo, e mais uma vez o jogo foi paralisado por 10 minutos.

Quando a bola voltou a rolar, foi Mario David quem revidou: acertou uma voadora que atingiu Leonel Sánchez no peito e no pescoço. Kenneth Aston expulsou o lateral direito italiano, deixando a Itália com nove jogadores em campo.

Ao fim de um primeiro tempo que levou 72 minutos, as duas seleções foram para o intervalo empatadas em 0 a 0. No segundo tempo, para agravar ainda mais a situação, Sanchez ainda usaria suas técnicas de pugilato contra Humberto Maschio, que sofreu uma fratura de nariz após mais um direto.

Mesmo com tudo isso, a etapa final foi mais próxima do que se pode considerar um jogo de futebol. Aos 28 minutos, Jaime Ramírez abriu o placar de cabeça. Mais tarde, aos 42 minutos, Jorge Toro ampliou e deu números finais à vitória dos anfitriões: 2 a 0, resultado que classificou os chilenos por antecipação.

Curiosamente, foi o último jogo de Kenneth Aston como árbitro em uma Copa do Mundo, mas não pela atuação em si – uma lesão no tendão de Aquiles forçou o fim de sua carreira pouco tempo depois. Ainda assim, o britânico teria importância fundamental para as Copas do Mundo seguintes.

Nomeado em 1964 para o cargo de diretor do Departamento de Árbitros da Fifa, Aston seria o responsável pela adoção de vários padrões fundamentais nos anos seguintes, como a escalação de um quarto árbitro para eventualidades (a partir de 1966) e as placas anunciando substituições de jogadores (de 1974 em diante).

A mais importante das novidades de Kenneth Aston veio em 1970: os cartões amarelo e vermelho, adotados na Copa do Mundo disputada no México. A iniciativa veio após a expulsão de Antonio Ratín no Inglaterra x Argentina da Copa do Mundo de 1966, e foi inspirada nas cores adotadas em semáforos.

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