Fussball Brasil
·08 de setembro de 2021
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O mundo do futebol não está alheio aos acontecimentos históricos - ao longo dos anos, diversas demonstrações de preconceito se manifestaram nas arquibancadas por todo o planeta. Na Alemanha, uma em especial tem se destacado: tem sido comum nas divisões inferiores o uso do termo "judeus" de maneira ofensiva.
Em 2017, numa partida entre SV Babelsberg 03 e FC Energie Cottbus, a torcida visitante realizou saudações nazistas e começou a cantar "Arbeit macth frei, Babelsberg null drei", um canto inspirado em inscrições que ficavam nas entradas dos campos de concentração em Auschwitz ("o trabalho te liberta", em tradução literal). Após o incidente, no entanto, o canto não entrou no relatório oficial da partida, apesar de ter sido facilmente percebido por meio de transmissões de TV.
Visando combater isso, nasceu o projeto Changing the Chants, que consiste de uma cooperação internacional entre o Borussia Dortmund, o Feyenoord Rotterdam, a Fare Network e a Anne Frank House. O projeto tem como meta se aprofundar no entendimento das abordagens que clubes de futebol podem utilizar para educar seus próprios torcedores a respeito do comportamento antissemita nas arquibancadas. Cada clube tem seu programa educacional, mas os resultados são sempre analisados de maneira conjunta, pavimentando o caminho para novas práticas. As duas equipes ainda contam com um um grupo de contribuintes europeus, com experiências relevantes nos mais diversos campos, para aprimorar esse processo - tudo isso é feito para que sejam criadas diretrizes e recomendações que possam ser seguidas por clubes de futebol do mundo inteiro. A intenção do projeto é divulgar esses resultados numa conferência ao final do ano de 2021, permitindo também que quaisquer clubes que tenham interesse em combater o antissemitismo sejam capazes de desenvolver seus programas próprios e responder adequadamente a esse tipo de discurso de ódio.
Apesar de estar numa cidade ligada ao partido social democrático, com tendência à esquerda, o Borussia Dortmund também teve que lidar com alguns casos antissemitas em sua própria torcida, geralmente vindos dos poucos grupos de extrema-direita. É um dos motivos pelo qual o clube tem trabalhado muito para educar seus torcedores - lembranças sobre o Holocausto são recorrentes por parte do clube, que também estimula e fornece desconto para que seus jovens torcedores, funcionários e até patrocinadores visitem os campos de concentração e revisitem a história.
Lembrança em rede social (Foto: REPRODUÇÃO/TWITTER)
O clube é visto como uma referência, pois tem promovido campanhas anti discriminatórias desde 1988, muito antes do assunto ser tratado como uma responsabilidade de cada clube de futebol. Hoje, felizmente, mais clubes tem visto essa luta como parte de sua obrigação. Em 2019, o Borussia Dortmund foi reconhecido ao vencer o prêmio "Equal Game" (UEFA), por sua luta contra a extrema-direita, racismo, discriminação e por promover a diversidade e a inclusão no meio do futebol.
Hans-Joachim Watzke, CEO do clube, com o prêmio Equal Game (Foto: REPRODUÇÃO/TWITTER)
Daniel Lörcher, o comandante do projeto educacional do Borussia Dortmund nos últimos anos, entendeu que deveria convocar todos os fãs do clube para participar do projeto, não apenas os torcedores que cometeram algum ato antissemita. É esse tipo de relacionamento mútuo e noção de confiança que faz tudo caminhar bem, segundo ele: "sem os fãs ao nosso lado, nada disso funcionaria".
O futebol, afinal de contas, nada mais é do que um reflexo da própria sociedade. Usar o esporte como uma ferramenta educacional a mais pode, portanto, contribuir para uma vida melhor em todas as esferas possíveis e deveria ser a meta de todos os clubes do mundo.