Chamado de “traidor” ao trocar o Shakhtar pelo Zenit, Rakitskyi tentará reconquistar a torcida na volta a Donetsk | OneFootball

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·16 de janeiro de 2023

Chamado de “traidor” ao trocar o Shakhtar pelo Zenit, Rakitskyi tentará reconquistar a torcida na volta a Donetsk

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Yaroslav Rakitskyi saiu pela porta dos fundos do Shakhtar Donetsk, mesmo depois de se consagrar como um dos maiores símbolos do clube durante uma década. Em 2019, o zagueiro assinou com o Zenit por €10 milhões e foi considerado como um “traidor da Ucrânia”. Jogaria, afinal, por um clube umbilicalmente ligado ao governo russo e no país que fomentava a guerra separatista na região de Donetsk. Desde então, o beque esteve sob escrutínio. Quando a invasão da Rússia em território ucraniano se iniciou, em 2022, o veterano optou por defender publicamente a causa da Ucrânia e rompeu seu contrato com o Zenit. Agora, retorna ao Shakhtar para reescrever sua história na reta final da carreira, aos 33 anos.

Rakitskyi é nascido em Pershotravensk, uma cidade no leste da Ucrânia, e ingressou nas categorias de base do Shakhtar durante a adolescência. O beque passou por todos os níveis formativos e profissionalizou-se pelo clube em 2009. Não demorou a se destacar num time que havia acabado de conquistar a Copa da Uefa. Ao longo da década seguinte, Rakitskyi conquistou oito edições do Campeonato Ucraniano e mais seis da Copa da Ucrânia, sempre como titular. Virou figurinha carimbada também na Champions League e superou 300 partidas pelo clube. Num time que se fortaleceu a partir dos talentos brasileiros na frente, o beque representava a força ucraniana atrás.


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Rakitskyi já era uma referência do Shakhtar quando a guerra civil no leste da Ucrânia se iniciou e o clube passou a atuar em outras cidades, a partir de 2014. Por isso mesmo, sua decisão de se mudar à Rússia em janeiro de 2019 gerou controvérsia no país e o zagueiro passou a ser visto como um traidor. Sua transferência parecia apoiar os movimentos separatistas, sobretudo por assinar com um clube pertencente à gigante estatal Gazprom. A escolha custou inclusive sua continuidade na seleção ucraniana. A partir de então, ele deixou de ser convocado e se aposentou da equipe nacional também em 2019, com 54 partidas disputadas.

Rakitskyi conquistou a torcida do Zenit, e não apenas por motivos políticos. O zagueiro de boa qualidade técnica e capacidade para bater na bola virou uma das referências do time celeste que emendou três títulos do Campeonato Russo a partir de sua chegada. A torcida em São Petersburgo tinha alguns cânticos dedicados ao defensor. Isso até que sua trajetória no clube se rompesse a caminho do tetra nacional. Com o início da invasão russa na Ucrânia, em março de 2022, Rakitskyi postou a bandeira ucraniana em suas redes sociais.

O posicionamento de Rakitskyi em prol de seu país gerou insatisfação no Zenit, especialmente pelos laços governamentais através da Gazprom. O zagueiro ficaria apenas no banco antes do duelo contra o Betis pela Liga Europa, nas horas seguintes. Depois, sequer foi relacionado para o compromisso pelo Campeonato Russo. Uma semana depois, sem explicitar seus motivos, o Zenit anunciou o rompimento do contrato do beque após 108 partidas disputadas. Por conta de sua postura, Rakitskyi recebeu mensagens positivas dos compatriotas ucranianos – diferentemente do que aconteceu com o ex-volante Anatoliy Tymoshchuk, atual assistente do Zenit, que manteve o silêncio e foi repudiado publicamente inclusive pela federação.

Rakitskyi rompeu com o Zenit em março de 2022 e ficou sem clube até julho, quando assinou com o Adana Demirspor. Entretanto, a passagem do zagueiro pelo Campeonato Turco foi apagada e ele disputou apenas oito partidas. Em dezembro, seu contrato foi encerrado prematuramente. O que abriu o caminho para o retorno ao Shakhtar Donetsk, quatro anos depois. O veterano de 33 anos assina sem custos e vai poder ampliar seu vínculo com o clube no qual viveu os principais momentos de sua carreira.

Entretanto, nem todos os torcedores do Shakhtar parecem confortáveis com a volta de Rakitskyi. Apesar da saída do Zenit, muita gente reclama do silêncio mantido pelo zagueiro em questões relativas à guerra depois disso. Além disso, ele era um atleta conhecido por falar russo em entrevistas e não cantar o hino ucraniano em jogos da seleção. Tal postura voltou ao debate logo em sua reapresentação, embora tenha dedicado palavras iniciais em ucraniano. Ele não citaria, porém, qualquer temática ligada aos conflitos.

A chegada de Rakitskyi acontece na esteira da venda de Mykhailo Mudryk ao Chelsea, como um negócio de peso após a saída do prodígio. O zagueiro terá a chance de disputar os mata-matas da Liga Europa. Os Mineiros vão encarar o Rennes na fase de repescagem, prévia às oitavas de final. Além disso, o Campeonato Ucraniano segue em frente mesmo com a guerra e deverá ser retomado no início de março, por conta da pausa de inverno. Ao lado de Andriy Pyatov e Taras Stepanenko, Rakitskyi vira um dos mais tarimbados do elenco. E com um retorno que possui significado maior pelo contexto.

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