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·16 de julho de 2024

Campeão mundial pela França, Adil Rami passou por um Milan bastante problemático

Imagem do artigo:Campeão mundial pela França, Adil Rami passou por um Milan bastante problemático

Em suas conquistas de Copa do Mundo, em 1998 e 2018, a França foi erroneamente taxada como uma “seleção de estrangeiros” – de forma conveniente para defensores de ideais xenófobos – por contar com vários atletas de nacionalidade francesa que eram filhos de imigrantes. Integrante da segunda dessas campanhas, ainda que sem entrar em campo, o franco-marroquino Adil Rami também passou pelo futebol italiano e, em meados da década de 2010, representou um Milan em apuros.

Rami nasceu em Bastia, cidade situada na ilha da Córsega – região ao sul da França, vizinha à Sardenha e de forte influência italiana. Ainda na infância, a sua família se mudou para Fréjus, município situado no continente e ainda mais perto da Itália. Foi por lá que Adil começou sua carreira no futebol, inicialmente conciliando o esporte com um trabalho na prefeitura local.


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No Fréjus, da quarta divisão francesa, Rami iniciou como meio-campista e fez suas duas primeiras temporadas na posição. Em 2005-06, devido à lesão de um companheiro de clube, foi realocado no centro da zaga e se redescobriu: após três campanhas de meio de tabela pelos estrelados, ganhou a chance de fazer um teste no Lille e foi aprovado, mudando de vez seu patamar, aos 20 anos. Em 2006-07, Adil se dividiu entre o time B e o principal dos dogues, estreando na Ligue 1 em maio de 2007, contra o Auxerre.

Rami começou 2007 como titular do Lille, mas sofreu uma lesão que o afastou dos gramados por três meses. Recuperado, retomou seu posto no onze inicial e, mostrando um estilo físico, decidido nos trancos e muito capacitado pelo alto, contribuiu com uma crescente do time, que foi sétimo, quinto e quarto colocado da Ligue 1 até 2010.

Naquele mesmo ano, Rami estreou pela seleção francesa – e chegou a integrar a lista preliminar de Raymond Domenech para a Copa do Mundo, embora tenha sido deixado de fora. Na verdade, sua primeira convocação para representar os Bleus havia ocorrido bem antes, ainda em 2008, pouco após declinar a oferta de Marrocos, algo que faria outra vez, em 2009. Adil achava que poderia fazer sucesso com a camisa azul. E estava certo.

Em 2010-11, o zagueiro teve o melhor momento de sua carreira. Titular de um Lille que ainda tinha peças como Mickaël Landreau, Mathieu Debuchy, Yohan Cabaye, Gervinho e Eden Hazard, foi um dos pilares do time que, sob o comando de Rudi Garcia, se sagrou campeão da Copa da França e da Ligue 1 numa tacada só. Os dogues não ganhavam o título nacional havia 57 anos.

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Em seus primeiros momentos no Milan, o franco-marroquino mostrou muito potencial em jogadas aéreas (AFP/Getty)

Pela ótima fase, Rami foi adquirido pelo Valencia em janeiro de 2011 – permanecendo nos dogues até o fim da temporada e participando integralmente da conquista dos dois títulos do Lille. Em 2011-12, chegou ao clube espanhol e ajudou o time comandado por Unai Emery a ser terceiro colocado de La Liga e semifinalista da Copa do Rei e da Europa League. Devido a seu bom desempenho pelos che, Adil foi titular da França na Euro 2012, competição em que os Bleus caíram nas quartas para a campeã Espanha.

Com a saída de Emery para o Spartak Moscou, o Valencia entrou em parafuso e atravessou uma temporada cheia de percalços, na qual Rami perdeu espaço. O problema se intensificou no ano seguinte, quando o ex-jogador Miroslav Djukic assumiu o time e o deixou no banco de reservas. Assim, o francês deu uma entrevista bombástica a uma rádio local, com críticas vorazes ao treinador e a colegas de vestiário. A diretoria, então, impôs uma pesada multa ao zagueiro, que também foi afastado do elenco e virou uma opção de mercado para outras equipes.

Era outubro de 2013 e a janela de transferências estava fechada, mas o Milan decidiu se antecipar a adversários e fez uma proposta de empréstimo com opção de compra do zagueiro ao Valencia. Os che aceitaram as condições e ainda autorizaram que o francês se juntasse de imediato aos rossoneri para treinar – ainda que só pudesse ser inscrito na Serie A em janeiro de 2014. Assim, após se ambientar à Itália, Rami estreou pelo Diavolo na vitória por 3 a 0 sobre a Atalanta, entrando no lugar de Cristian Zapata, nos minutos finais de jogo.

Quando Rami debutou, o Milan ainda tinha Massimiliano Allegri como técnico, mas isso mudou logo no jogo seguinte – uma derrota por 4 a 3 para o Sassuolo. Como os rossoneri ocupavam a modestíssima 11ª posição, Silvio Berlusconi e Adriano Galliani decidiram mudar o comando e deram uma oportunidade a Clarence Seedorf, que atuava pelo Botafogo e optou por pendurar as chuteiras para aceitar o convite para treinar o clube em que foi ídolo. Sob as ordens do holandês, o zagueiro se firmou no onze inicial.

Nos meses seguintes, Rami foi um dos jogadores que melhoraram o desempenho do Milan, ainda que isso não tenha sido suficiente para que o clube, oitavo colocado da Serie A, se classificasse para torneios continentais – o que não ocorria havia 15 temporadas. O francês fez a dupla de zaga titular rossonera com o compatriota Philippe Mexès e mostrou poder ofensivo, com três gols marcados em quatro meses de Itália.

O bom desempenho individual de Rami convenceu o Milan a comprá-lo em definitivo, ainda que não pelo valor da cláusula – o que levou o defensor a desembolsar 500 mil euros para se desvincular do Valencia. As suas exibições, contudo, não amoleceram o coração de Didier Deschamps, técnico da França. A mudança para o futebol italiano e os meses sem jogar pelo Valencia fizeram com que o zagueiro, que havia sido titular dos Bleus na Euro 2012, não fosse convocado para a Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil. Na verdade, o beque não vestiu a camisa azul durante o período em que atuou pelo Diavolo.

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Ao longo de sua estadia no Milan, Rami fez parte de elencos que entregaram resultados inexpressivos (AFP/Getty)

Em 2014-15, devido a rusgas entre Seedorf e a diretoria, o Milan trocou novamente de técnico, dando o comando ao também ídolo Filippo Inzaghi. Rami começou o ano ocupando um posto frequente no onze inicial do treinador e até chegou a ser improvisado como lateral-direito, mas alguns problemas físicos lhe levaram a disputar somente seis jogos do returno da Serie A e as quartas da Coppa Italia.

Na prática, Rami não era mais considerado fundamental para o Milan, de modo que os rossoneri decidiram vendê-lo no início da temporada seguinte. Anos mais tarde, em 2024, o zagueiro alfinetou Pippo Inzaghi: afirmou que o italiano pode ter sido um grande jogador, mas não um grande treinador, e que lhe tirou sua confiança naquele período. Curiosamente, nenhum dos dois permaneceu na Lombardia em 2015-16 – até porque o Diavolo terminou o campeonato numa medíocre décima posição, mais uma vez longe das competições europeias.

Em julho de 2015, Milan e Sevilla concluíram duas tratativas paralelas: enquanto chegava à Itália o atacante Carlos Bacca, Rami voltava para a Espanha, encerrando sua passagem pelo time rossonero após 44 partidas. Na Andaluzia, o francês se reuniu com Emery e, recuperado dos problemas físicos, voltou a atuar em alto nível: após a estreia na rocambolesca derrota por 5 a 4 para o Barcelona, na Supercopa Uefa, ajudou os rojiblancos a faturarem a Liga Europa, sobre o Liverpool, e a serem vice-campeões da Copa do Rei.

A temporada do zagueiro foi tão boa que ele voltou a ser convocado por Deschamps e, devido ao corte de Raphaël Varane, participou da Euro 2016 como titular da França. Rami ocupou este posto durante a fase de grupos e as oitavas de final, mas, após ser suspenso por causa dos cartões amarelos, perdeu a posição para Samuel Umtiti e não voltou ao onze inicial dos Bleus, que jogavam em casa. Do banco de reservas, viu a sua seleção perder a final para Portugal, na prorrogação.

Na temporada seguinte, já comandado por Jorge Sampaoli, Rami voltou a conviver com problemas físicos e perdeu espaço num Sevilla menos competitivo nas copas, mas capaz de se classificar à Liga dos Campeões devido ao quarto lugar no Campeonato Espanhol. Em 2017, acabaria se transferindo novamente e reencontrando outro técnico com o qual rendeu muito bem: Garcia, seu comandante no Lille, que estava à frente do Olympique de Marseille.

Rami se reinstalou no sul da França, onde cresceu, e levou consigo a sua nova namorada – a atriz canadense Pamela Anderson, sex symbol das décadas de 1990 e 2000 por seu trabalho no seriado SOS Malibu e seus vários ensaios para a revista Playboy. Enquanto chamava a atenção fora dos campos pelo relacionamento com a estrela quase 18 anos mais experiente, dentro das quatro linhas o zagueiro foi titular absoluto do Marseille. Pelo OM, aliás, foi quarto colocado da Ligue 1 e disputou a final da Europa League: dessa vez, foi derrotado pelo Atlético de Madrid, o mesmo adversário que superou o seu Valencia nas semifinais da própria competição, em 2013.

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Problemas físicos limitaram a utilização de Rami pelo Milan durante a sua segunda temporada na Itália (Getty)

A boa temporada se encerrou com uma inesperada convocação para o grupo da seleção francesa que disputaria a Copa de 2018, novamente entrando no lugar de um jogador cortado – desta vez, Laurent Koscielny, seu parceiro de zaga na Euro 2016. Uma das peças mais experientes do elenco, Rami foi importante nos vestiários, mas assistiu toda a competição do banco de reservas, sem atuar sequer um minuto no torneio. De qualquer forma, pode comemorar o bicampeonato mundial dos Bleus e o maior título de seu currículo.

O ápice em 2017-18 antecedeu um período atribulado, recheado de polêmicas – que costumeiramente o acompanharam – e de altos e baixos na temporada seguinte. Primeiro, anunciou sua aposentadoria da seleção francesa, mas voltou atrás alguns meses depois: foi convocado para partidas da Nations League e, em novembro de 2018, fez seu último jogo pelos Bleus, num amistoso contra o Uruguai. Em seguida, Rami oscilou entre algumas lesões e o banco de reservas, somando apenas 21 aparições em 2018-19. Para completar, Pamela Anderson anunciou que estava se separando do zagueiro porque teria descoberto traições e não suportava mais o seu comportamento abusivo.

Na descendente, Rami ainda se envolveu em mais polêmicas no início de 2019-20. O zagueiro foi demitido do Marseille após o clube ter descoberto uma mentira contada por ele no fim da temporada anterior: afirmava estar lesionado e faltou em atividades do time, mas na verdade participou de uma gravação de gincana para o programa de TV Fort Boyard. Sem contrato, o beque rumou ao Fenerbahçe, mas não se deu bem: atuou em sete partidas, sendo somente uma pela Süper Lig. Em fevereiro de 2020, passou ao Sochi, da Rússia, onde sequer atuou. Adil chegou lesionado, viu o campeonato ser interrompido por conta da pandemia de covid-19 e, na saída, reclamou da falta de pagamento de salários – as finanças dos russos foram afetadas pela questão sanitária.

Após a rescisão com o Sochi, Rami parecia estar destinado a voltar para a Itália, pois negociou com a Reggina para a disputa da Serie B. O zagueiro chegou a ficar muito perto do acordo, mas mudou de ideia repentinamente e informou aos calabreses que “não gostaria de assumir um compromisso sem se sentir 100% bem fisicamente”. Enquanto pensava na proposta, conversou com Luís Campos, diretor esportivo do Lille, e assinou com o Boavista, clube português fomentado pelo cartola.

A passagem por Portugal foi a penúltima da carreira do polêmico defensor. Rami ajudou o Boavista a permanecer na Primeira Liga e voltou à França em 2021, para um biênio como peça de rotação do elenco do Troyes, do City Football Group. Adil chegou a utilizar a braçadeira de capitão do ESTAC e contribuiu para a sua permanência na elite em 2021-22. Na temporada posterior, o rebaixamento à segundona foi a senha para que, aos 37 anos, o beque pendurasse as chuteiras e se tornasse comentarista.

Entre polêmicas, oscilações e alguma qualidade, Rami concluiu sua carreira com a certeza de que poderia ter vencido mais títulos. Afinal, seu temperamento pouco convencional foi um dos motivos que lhe levaram a não se firmar em nenhum clube – como o Milan, o mais estrelado pelo qual passou. Ainda assim, não dá para negar que o franco-marroquino pode se dar por satisfeito pelo que conquistou. Levantar uma Copa do Mundo não é para qualquer um.

Adil Rami Nascimento: 27 de dezembro de 1985, em Bastia, França Posição: zagueiro Clubes: Fréjus (2003-06), Lille (2006-11), Valencia (2011-14), Milan (2014-15), Sevilla (2015-17), Marseille (2017-19), Fenerbahçe (2019-20), Sochi (2020), Boavista (2020-21) e Troyes (2021-23) Títulos: Ligue 1 (2011), Copa da França (2011), Liga Europa (2016) e Copa do Mundo (2018) Seleção francesa: 36 jogos e 1 gol

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