FNV Sports
·29 de outubro de 2020
Berlusconi e Galliani: uma história de amor

In partnership with
Yahoo sportsFNV Sports
·29 de outubro de 2020
A “Era Berlusconi”, conhecida por ser uma das mais vitoriosas e conturbadas fases de um clube de futebol, teve a participação de dois personagens que seguem inseparáveis até os dias de hoje. Silvio Berlusconi e Adriano Galliani fizeram história no comando do Milan e estão no Hall da Fama da Federação Italiana como dois dos maiores administradores futebolísticos do país. Contudo, não só de troféus viveu essa relação. As três décadas no time de Milão trouxeram glórias e escândalos a tona, fazendo a trajetória da dupla ser interrompida, até se reestabelecer em Monza.
Filho de um bancário e uma dona de casa, Silvio Berlusconi nasceu no dia 29 de setembro de 1936, em Milão. Quando jovem, estudou direito na Università Statale, em sua cidade natal. Já no meio do futebol, criou, ao lado de Tony Renis, o hino do A.C. Milan, clube do qual se tornaria dono a partir de 1986. Ainda mais, ingressou na vida política e rapidamente chegou a chefia do governo, tendo se tornado o Primeiro–ministro Italiano que ficou por mais tempo no poder no período pós-Segunda Guerra.
Além de seu papel como político neoliberal e presidente Rossonero até 2017, Berlusconi é proprietário de um dos maiores meios de comunicação da Terra da Bota, o Mediaset. Nesse ínterim, após vender o Milan para os chineses, o bilionário também voltou a ser dono de um clube de futebol. Em setembro de 2018, o ex-primeiro-ministro comprou 100% das ações do Monza Calcio, time da Serie B italiana, por aproximadamente 3 milhões de euros.
Natural da Comuna de Monza, Adriano Galliani nasceu em 30 de julho de 1944. Empresário, o cartola tem uma carreira próxima da de Berlusconi em relação às áreas de atuação. Vice-presidente e diretor esportivo, Galliani fez diversas contratações de peso durante os 30 anos que passou nos bastidores do Milan. Porém, após desentendimentos entre ele a filha de Berlusconi, Barbara, em 2013, sua passagem pelo clube pareceu cada vez mais próxima do fim.
Convencido pelo “chefe”, o diretor permaneceu em Milão e saiu apenas em 2017, depois da aquisição dos chineses. No mesmo ano, tornou-se presidente da plataforma digital da Mediaset. Além do mais, é o presidente da área imobiliária de outra empresa pertencente a Berlusconi, a Fininvest. Já pela parte política, Galliani foi eleito senador em 2018 pelo partido Forza Italia, também ligado ao ex-primeiro-ministro. Posteriormente, o ex-braço direito de Silvio se tornou membro da nova diretoria do Monza.
O primeiro contato entre ambos foi no ano de 1979. Todavia, o assunto não tinha a ver com o Milan, mas sim uma proposta de Berlusconi à Galliani a respeito da criação de três redes de TV. Só depois, em 1986, quando os dois já eram sócios, Silvio adquiriu o clube e eles se encontraram em Milão para dar início ao novo projeto. Galliani tinha certa experiência com times após ter passado dois anos como gerente do Monza, no qual se tornou acionista em 1975.
Por ter que alinhar suas tarefas como presidente e político, Berlusconi deixou Galliani como um “coringa” dentro Milan. Com diversos papéis de bastidores, o diretor cuidava de negociações, mediação com o elenco, relação com a imprensa e administração da equipe. Assim, junto ao grande poder de negociação e ousadia do proprietário, montaram um grande time já no final dos anos 1980 e começo dos 1990.
Na “Era Berlusconi”, o então dono do clube e seu braço direito conquistaram 29 títulos. Uma das maiores e mais vitoriosas eras da história do futebol na Europa. Entre as conquistas, estão: oito Campeonatos Italianos, cinco UEFA Champions League e três Mundiais Interclubes. Durante esse período, grandes treinadores passaram pelo ACM, como Fabio Capello, Carlo Ancelotti e Massimiliano Allegri.
Em relação aos jogadores, Berlusconi e Galliani fizeram diversas contratações que estarão para sempre na memória do torcedor Rossonero. Os holandeses van Basten, Rijkaard e Gullit, o ucraniano Shevchenko, o francês Desailly e o liberiano Weah são alguns dos nomes de destaque. Ainda, graças a grande relação de Galliani com o Brasil, diversos atletas brasileiros também passaram por essa fase, como Kaká, Ronaldo, Pato, Thiago Silva e Dida, por exemplo.
Corrupção, prostituição e suborno. Esses foram alguns fatores que fizeram o Milan da gestão vitoriosa ir ladeira abaixo. Durante um dos mandatos de Berlusconi como Primeiro-ministro, Galliani fazia o papel de presidente do clube e foi eleito presidente da Lega Calcio em 2002. Todavia, após os acontecimentos do Calciopoli, ele se demitiu e acabou suspenso por cinco meses. Seguidamente, em 2008, acusado de aumentar o preço de determinados jogadores no início dos anos 2000, acabou julgado, mas foi absolvido.
Pelo lado de Berlusconi, afundando cada vez mais em sua carreira política, o empresário não conseguiu deixar o Milan imune depois da crise econômica que atingiu a Itália, que se juntou a sua onde de escândalos e a ligação com pessoas próximas denunciadas no Calciopoli. Como resultado, não houve outra maneira a não ser diminuir os recursos da equipe e mudar o comando da instituição, deixando a função com sua filha Barbara.
Em outras palavras, apesar de todas as conquistas e visibilidade que deram ao Milan, Berlusconi e Galliani saíram deixando o plantel em “decomposição” e sem um rumo específico. Logo, investidores chineses compraram o clube por volta de 740 milhões de euros (aproximadamente 2,5 bilhões de reais na cotação da época). E assim, depois de 31 anos, se encerrou uma das sagas mais bonitas, por mais que manchada, de um time do futebol italiano.
Em 28 de setembro de 2018, Silvio Berlusconi retornou à vida de proprietário de um time da Itália. Agora no modesto Monza, que disputava a Serie C na época da aquisição. Em anuncio feio através da Fininvest, uma de suas empresas, o ex-ministro comunicou a compra de 100% das ações do clube por 2,9 milhões de euros (13,5 milhões de reais na ocasião).
Como um bom escudeiro, Galliani acompanhou seu velho conhecido em mais essa empreitada. O ex-vice-presidente Rossonero faz parte da nova diretoria do Monza, equipe de sua cidade natal e onde começou sua carreira no mundo da bola. Posterior à compra do clube, já sob nova direção, os Biancorossi subiram para a Serie B e estão, então, há um ano na nova divisão.
Foto em destaque: Reprodução/ANSA