As tentativas de George Weah alcançar a Copa antes de seu filho, Timothy, escrever o nome da família no Mundial de 2022 | OneFootball

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·21 de novembro de 2022

As tentativas de George Weah alcançar a Copa antes de seu filho, Timothy, escrever o nome da família no Mundial de 2022

Imagem do artigo:As tentativas de George Weah alcançar a Copa antes de seu filho, Timothy, escrever o nome da família no Mundial de 2022

Qualquer lista dos maiores jogadores da história que não disputaram uma Copa do Mundo precisa trazer o nome de George Weah. A grandiosidade do atacante se explicita pela Bola de Ouro conquistada em 1995, mas não se resume a ela. Antes do ápice pelo Milan, Weah teve temporadas arrebatadoras por Monaco e Paris Saint-Germain. E por muito tempo o craque tentou botar sua Libéria no mapa das Copas do Mundo. Conseguiu levar o país a duas edições da Copa Africana de Nações, as duas únicas dos liberianos, mas o sonho nos Mundiais não se cumpriu. Entretanto, em uma daquelas doces histórias que o futebol proporciona, seu sobrenome acaba gravado no torneio. Timothy Weah, seu filho, estreou no palco que o pai tanto ambicionou e, com a camisa dos Estados Unidos, precisou de poucos minutos para marcar seu primeiro gol. O orgulho certamente prevalece entre os liberianos, sobretudo o do atual presidente.

A estreia de George Weah pela seleção da Libéria aconteceu em 1986. Já sua primeira chance nas Eliminatórias viria na tentativa de classificar o país para a Copa de 1990. Naquele momento, o atacante já era talhado por Arsène Wenger com a camisa do Monaco. E os liberianos não fizeram feio. A equipe eliminou Gana na primeira fase, com gol de Weah na vitória por 2 a 0 em Monrovia, naquele que foi o segundo tento do craque pela equipe nacional. A Estrela Solitária caiu na segunda fase, só dois pontos atrás do Egito, que se classificou depois ao Mundial da Itália. Os liberianos inclusive bateram os egípcios em Monrovia. Prêmio de consolação, por seus feitos com o Monaco, o atacante acabou eleito pela primeira vez o Melhor Jogador Africano do Ano em 1989.


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Nas Eliminatórias da Copa de 1994, a Libéria deveria inspirar cuidados em seus adversários. Era o momento em que Weah tinha seu nome consolidado como destaque no Campeonato Francês, recém-contratado pelo PSG. Num grupo duríssimo, a equipe perdeu para Zaire e depois empatou com Camarões. Porém, a quebra de um acordo de paz na guerra civil liberiana levou a sanções da ONU e a equipe nacional seria desclassificada pela Fifa. Ao menos, a liberação da equipe veio a tempo de Weah, no ano em que se transferiu ao Milan e ganhou a Bola de Ouro, liderar os liberianos rumo à CAN 1996. A Estrela Solitária deixou Senegal pelo caminho no qualificatório para consumar a inédita classificação ao torneio continental. Na época, o elenco já contava com um bom número de atletas atuando no exterior. Muitos deles conseguiram testes após viagens bancadas pelo próprio Weah.

A campanha da Libéria na Copa Africana seria agridoce. O time estreou com vitória sobre o Gabão, capitaneado por Pierre Aubameyang – o pai de Pierre-Emerick. Entretanto, num grupo de três equipes, a Estrela Solitária seria eliminada no saldo após uma derrota para o Zaire, que contou com um tento de Roger Lukaku – pai de Romelu e Jordan. E que George Weah proporcionasse orgulho aos seus compatriotas, ele também era alvo de ataques da ditadura de Charles Taylor em seu próprio país. Em maio de 1996, a casa de familiares do craque foi invadida por uma milícia ligada ao governo. Homens foram espancados e mulheres estupradas, incluindo duas primas de George. A propriedade ainda seria roubada e incendiada. A barbárie, porém, não afastou o atacante da seleção. Seu compromisso era com o povo, não com o poder, e nisso se concentrava sua importância.

Weah permaneceu em sua empreitada pela Copa do Mundo. Sua volta às Eliminatórias do Mundial aconteceu no classificatório para 1998. A Estrela Solitária passou por Gâmbia na primeira fase, mas não resistiu num grupo duro contra Tunísia e Egito. Por conta da guerra civil, os liberianos precisaram mandar suas partidas em Gana, mas ainda assim derrotaram os egípcios. Era um momento no qual George tinha se tornado embaixador da Unicef e se envolvia ativamente na questão dos refugiados em seu país, sobretudo crianças. Aproveitava a sua fama para tentar mudar a realidade de muita gente.

Por fim, a última dança de Weah aconteceu nas Eliminatórias para a Copa de 2002, quando seu auge por clubes tinha passado. Foi exatamente quando chegou mais perto da classificação, num momento igualmente simbólico, por outra guerra civil que explodia no país. Num grupo com Nigéria, Sudão, Gana e Serra Leoa, a Libéria conquistou 15 pontos. Os jogos com os vizinhos serra-leoneses, inclusive, demandaram intervenção do próprio Weah por conta dos conflitos com o governo liberiano. Na última rodada, a Libéria venceu Serra Leoa e, para ir ao Mundial, dependia só de um tropeço dos nigerianos em casa contra os ganeses. Isso não aconteceu, com a classificação das Super Águias.

A despedida de George Weah com a camisa liberiana aconteceu na segunda CAN do país, em janeiro de 2002. A preparação da Libéria seria conturbada, com o time se recusando a treinar no país em protesto contra o presidente Charles Taylor. Durante a competição, a equipe empatou com a Argélia e com Mali, com gol de Weah neste duelo. Entretanto, a derrota para a Nigéria na rodada final custou a eliminação. A grande vitória da Estrela Solitária viria no ano seguinte, com o fim da guerra civil e a queda de Taylor do poder, antes de ser sentenciado em 2012 a 50 anos de prisão por seus crimes.

A família de George Weah se estabeleceu nos Estados Unidos, inclusive quando o atacante permanecia em atividade na Europa e no Oriente Médio. Após a aposentadoria, o veterano iniciou seu envolvimento político na Libéria de forma mais ativa, mas seus filhos eram criados na Flórida. Timothy não pôde ver seu pai no esplendor de sua forma dentro de campo, mas teve o melhor professor possível em casa. Nascido em 2000, no Brooklyn, o garoto voltou para Nova York durante a adolescência. Estava empenhado a se tornar também jogador de futebol e passou a integrar uma escolhinha administrada por seu tio. Daria seus próprios passos, ainda que o sobrenome Weah sempre gerasse comparações.

Curiosamente, Tim Weah passou pela base do New York Red Bulls, clube pelo qual seu pai quase jogou no final da carreira. E a história da família abriu portas no Paris Saint-Germain em 2014. Apesar dos três anos na base parisiense, o ponta nunca ganhou muitas chances na equipe principal. O empréstimo ao Celtic ajudou a deixá-lo um pouco mais em evidência. De qualquer maneira, sua trajetória como profissional se firmou mesmo com a camisa do Lille, a partir de 2019. Depois de uma primeira temporada atrapalhada pelas lesões, o jovem contribuiu como um reserva frequente na conquista da Ligue 1 em 2020/21. E seu espaço se tornou maior em 2021/22, inclusive para fazer boas partidas na Champions League. Aos 22 anos, o garoto mostrava seu talento.

Tim Weah tinha amplas possibilidades no futebol de seleções. Além de Libéria e Estados Unidos, o ponta possui cidadania jamaicana por parte de mãe e ainda francesa. Entretanto, sua escolha nunca esteve em xeque. A criação nos EUA o levou a defender os US Team desde a base, o que não mudou sua ideia nem com um convite da França para integrar Clairefontaine ou mesmo por todo o heroísmo de seu pai na seleção liberiana. As primeiras convocações americanas vieram ainda em 2012, com a equipe sub-15. Nesta caminhada, Tim Weah disputou Mundiais no Sub-17 e no Sub-20, com cinco gols somados nas duas competições. Seria uma experiência valiosa para o garoto.

A estreia de Timothy Weah pela seleção principal dos Estados Unidos aconteceu na esteira da frustrada ausência na Copa de 2018. Às vésperas daquele Mundial, o ponta disputou os seus primeiros amistosos e virou um nome de confiança do técnico Gregg Berhalter. Participou de todo o ciclo. Conquistou a Liga das Nações e teve atuações decisivas nas Eliminatórias para a Copa de 2022. Deu assistência na vitória contra o México, marcou gol no empate contra a Jamaica. A classificação veio. E o garoto abria a porta que seu pai nunca conseguiu. Afinal, não precisava carregar um país nas costas, como o progenitor.

Timothy passa distante da aura de George. Muito provavelmente, nunca a atingirá. O pai era um fenômeno, pela maneira como rompia defesas entre habilidade e explosão. Marcava gols aos montes. Isso não significa, contudo, que o filho seja mau jogador. Possui sua capacidade de apoio pelos lados, sua dose de incisividade, qualidade para contribuir na definição das jogadas. Tanto que conseguiu cavar sua titularidade na estreia do Mundial, no setor mais concorrido dos Estados Unidos. E justificou a decisão de Greg Berhalter, ao corresponder com o gol que abriu o empate por 1 a 1 com Gales.

Em meio ao domínio dos Estados Unidos no primeiro tempo, Tim Weah arranjou algumas das melhores jogadas. Apresentou-se bastante e, num cruzamento seu, quase saiu um gol contra. Contudo, seu destaque vem mesmo pelo lance do gol. Christian Pulisic tem os maiores méritos na construção do avanço. Abriu o lance e deu um passe açucarado. Ainda assim, o ponta de 22 anos realizou bem seu papel. Partiu em velocidade por dentro e, ao receber a bola, foi inteligentíssimo na definição. Um leve toque com a parte de fora do pé bastou para vencer o goleiro Wayne Hennessey. Durante o segundo tempo, Timothy caiu como o restante do time. Ainda tentou um gás depois do empate de Gales, mas nada suficiente, antes de ser substituído. De qualquer maneira, o sobrenome Weah pela primeira vez aparecia entre os autores de gols em Copas.

Os Estados Unidos se valem bastante da genética nesta Copa do Mundo. O pai de Giovani Reyna, Claudio, disputou quatro Copas pelo US Team e capitaneou o time em duas. O pai de Jesús Ferreira, David, não disputou o Mundial pela Colômbia, mas teve uma passagem razoavelmente longa pelos Cafeteros. Entretanto, é mesmo Timothy Weah quem mais se sobressai pelos laços familiares. Não somente porque seu pai, com sobras, jogou mais bola que os pais dos demais colegas, mas também por toda essa relação com a Copa do Mundo. A história de George na Libéria rendeu até uma cadeira presidencial, mas não uma vaga no Mundial. Apesar disso, é legal ver seu nome não ficar totalmente alheio das Copas, por linhas tortas, através do garoto que carrega sua principal herança na bola.

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