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·04 de dezembro de 2021

As finais continentais também reacenderam a expectativa dos uruguaios para receber a Copa de 2030

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*Direto de Montevidéu

Em 1930, o Uruguai entrou para a história do futebol por ser sede da primeira Copa do Mundo. Agora, mais de nove décadas depois, o país se candidata a receber o evento novamente, em 2030, ano em que o marco histórico da primeira Copa completará 100 anos. Seria um sonho para muitos, do povo uruguaio ao presidente da Conmebol – e não só pelo significado, claro. Certamente, um evento dessa proporção, com uma bagagem histórica desse tamanho, renderia, e muito, à entidade sul-americana. Além, claro, de colocar o Uruguai no centro do mundo outra vez.


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Com a realização das finais únicas da Sul-Americana, Libertadores Feminina e Masculina em Montevidéu, o Estádio Centenário passou por reformas para receber dois dos três jogos e para acolher o público, composto por uruguaios e brasileiros que se deslocaram de seus estados até a capital uruguaia. Tudo isso tinha um objetivo paralelo: colocar o Uruguai como candidato mais forte para a Copa do Mundo de 2030, em sede compartilhada com Argentina, Paraguai e Chile. Além disso, a Associação Uruguaia de Futebol desenvolveu um plano de investimento para o Centenário. Se o Uruguai for escolhido como sede do Mundial, o estádio receberá uma renovação radical para ser o palco principal. A capital também conta com o Campeón del Siglo, a nova casa do Peñarol, inaugurada em 2016, com capacidade para mais de 40 mil torcedores.

Mesmo desempenhando o possível e o impossível para mostrar a capacidade do país em receber uma Copa do Mundo, será que o Uruguai está apto para ser palco do maior evento do futebol do mundo? Adriana Rey, torcedora do Sud América, clube da primeira divisão uruguaia, vê com bons olhos a candidatura de seu país:  “Vejo como algo possível, seria uma festa linda, como nunca vimos antes.” Ao ser questionada sobre Montevidéu, cidade com um pouco mais de 1,3 milhão de habitantes, suportar a vinda de, aproximadamente, um milhão de torcedores durante a Copa do Mundo, ela rapidamente respondeu: “Temos um litoral enorme. Muitas cidades com lindos hotéis. Seria possível acomodar a todos, certamente vão aproveitar a praia”, disse rindo.

Luis, torcedor do Peñarol, também gostaria de receber o Mundial, e acredita que a hospitalidade seja um ponto importante: “Certamente, será uma festa. Se somente com a vinda dos brasileiros já foi uma festa, com povos de todos os lugares seria algo gigantesco. Uma mistura de culturas que todo uruguaio gostaria de participar. Faríamos com que todos se sentissem em casa. Algo tão lindo como foi na África do Sul.”

Desde 1930, apenas a edição de 2002 teve duas sedes. Na ocasião, Japão e Coreia do Sul foram sedes do Mundial que coroou o penta da seleção brasileira. Em 2026, novamente acontecerá uma Copa com mais de uma sede: Estados Unidos, Canadá e México. A organização tripla pode ser positiva para Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile, que pintam como um quarteto para sediar o torneio.

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Vista aérea de Montevidéu e do Estádio Centenário. Foto: Reprodução / Conmebol

Sobre a participação de outros países na candidatura, como Paraguai e Chile, Luis não acredita que isso possa facilitar:  “As sedes teriam que ser somente com o Uruguai e a Argentina. Agregar outros países pode ser ruim ao Mundial, principalmente aos torcedores. Nós (da América do Sul) não temos como nos deslocar de um país para outro para ver dois jogos, por exemplo.” Atualmente, uma passagem de avião entre Montevidéu e Santiago, no Chile, pode custar algo próximo de 2 mil reais. Já para Assunção, no Paraguai, um voo custa, em média, 2500 reais.

Já Leonardo Regueira, torcedor do Defensor, não vê como o Uruguai possa sediar sozinho: “Sozinho é impossível. Não temos infraestrutura que nos capacite. Muito menos estádios do nível Fifa.” Questionado se o histórico Luis Franzini, casa do Defensor, não poderia ser reformado em nove anos, ele declarou: “Sinceramente? Gostaria muito, mas não vejo isso acontecendo. No máximo, receberíamos as seleções para treinarem, como o Paranaense.” Leonardo refere-se ao Athletico Paranaense, que treinou no Luis Franzini nos dois dias que antecederam a final da Copa Sul-Americana, diante do Red Bull Bragantino. Ele também defendeu a candidatura em conjunto com os argentinos: “Com a Argentina, poderíamos brigar com os europeus. Com mais algum país, certamente daria. Algo como em 2002, em Coreia do Sul e Japão”.

Atualmente, a China é uma possível concorrente de Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile. O projeto dos chineses é evoluir cada vez mais no esporte e contam com o apoio governamental. Aleksander Ceferin, presidente da Uefa, quer que o Mundial retorne à Europa, o que dificultaria, ainda mais, a tentativa da América do Sul. Espanha e Portugal compõem a candidatura oficial mais forte até o momento, mas também há outra envolvendo Romênia, Grécia, Bulgária e Sérvia. Especula-se ainda uma candidatura britânica liderada pela Inglaterra, que teria bastante apelo. Uma tríade com Marrocos, Argélia e Tunísia também corre por fora. Enquanto isso, até na Conmebol poderia haver concorrência com uma sede tripla em Equador, Peru e Colômbia. É importante lembrar que já em 2026 a Fifa irá reformular a Copa do Mundo, passando de 32 para 48 seleções. Portanto, o Mundial de 2026 teria 80 jogos e demandaria estruturas maiores.

A capacidade e o tamanho do aeroporto de Montevidéu também são fatores que dificultam a candidatura.  Juan Andrés, motorista de aplicativo, comentou: “Acho que não deve acontecer. Nosso aeroporto precisaria dobrar ou triplicar de tamanho. Estádios temos somente dois: o Centenário e o Campeón del Siglo, mas ele fica muito longe da cidade. Na Argentina sim, lá tem estádio em todos os lados. Eu gostaria de ver algo junto com Buenos Aires, que é uma cidade linda e podemos ir até de barco para lá”, disse, rindo.

Em Montevidéu, a travessia de barco até Buenos Aires dura em torno de duas horas e custa, aproximadamente, 500 reais. Perguntamos a Juan se as três finais trouxeram um movimento maior de corridas via aplicativo e ele sorriu, como se afirmasse que faturou mais do que o esperado, e disse: “Amigo, fiz uma viagem com quatro torcedores do Palmeiras que o lucro quase pagou minha semana. Os hotéis estavam cheios e os bares quase sem estoque de cerveja. Um mundial aqui moveria a economia brutalmente. E merecemos receber algo desse tamanho, já que controlamos a Covid de forma exemplar.” Atualmente, o Uruguai está próximo de atingir 80% da população com a vacinação completa.

As opiniões acabam se encontrando. Todos querem ver o Mundial em Montevidéu. Seria algo histórico, digno de filme. Depois de 100 anos, a Copa do Mundo voltaria para onde ela deu seu primeiro passo.  Mas os anfitriões também conhecem os “padrões Fifa” que uma Copa carrega, e como o Uruguai pode estar longe dessa suntuosidade imposta pela entidade. Uma coisa é certa: todos serão bem recebidos. O povo uruguaio estará de braços abertos aos povos de todos os continentes. Resta saber os custos também atrelados.

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