Trivela
·21 de março de 2023
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Um dos momentos mais controversos da carreira de Emmanuel Adebayor foi a comemoração de um gol que anotou pelo Manchester City contra o Arsenal, em setembro de 2009 no Estádio Cidade de Manchester. Correu todo o gramado antes de se ajoelhar de braços abertos diante dos seus ex-torcedores, um ato claro e deliberado de provocação. Diz alguma coisa que ele tenha escolhido esse lance, ao lado de outro tento pelos Citizens, como os únicos incluídos em um curto vídeo em que anuncia o fim da sua carreira aos 39 anos. Mas os feitos do togolês, o quarto africano que mais vezes marcou pela Premier League, vão muito além dessa polêmica.
Adebayor passou quase dois anos defendendo o Semassi, da sua terra natal, depois de ver a aventura pela América do Sul interrompida pela pandemia. Os 217 minutos em que defendeu o Olimpia entrarão para o folclore. Os gols por Arsenal, Manchester City e Tottenham (e um pelo Crystal Palace) pertencem à história porque o colocam com 97 na era moderna do Campeonato Inglês, atrás apenas de Didier Drogba, Sadio Mané e Mohamed Salah entre representantes da África. Adebayor também defendeu brevemente o Real Madrid, teve uma passagem razoável pela Turquia e, principalmente, ajudou Togo a disputar sua primeira, e ainda única, Copa do Mundo em 2006.
Adebayor começou a bater bola profissionalmente pelo Metz, da França, em 2001. Após marcar 13 gols na segunda divisão, foi contratado pelo Monaco. Participou, mesmo que perifericamente, da campanha que terminou na decisão da Champions League de 2003/04. O caminho natural era o Arsenal porque Arséne Wenger nunca resistiu a um talento promissor da Ligue 1. Chegou ao norte de Londres em janeiro de 2006 e começou bem, com quatro gols em suas primeiras nove rodadas da Premier League. Não pôde ser inscrito na Champions e assistiu de casa a mais uma trajetória que terminou em vice-campeonato.
Aquela derrota para o Barcelona em Paris foi um ponto de inflexão para o trabalho de Wenger à frente do Arsenal, e Adebayor teria um papel importante nos anos seguintes. Foi um atacante competente com alguns momentos de destaque, como o gol da vitória sobre o Manchester United em Old Trafford, no começo da campanha de 2006/07, e outro de meia-bicicleta contra o Villarreal na Champions League. Mas brilhou mesmo nos dérbis contra o Tottenham: marcou oito vezes em nove clássicos com a camisa do Arsenal. Em 2007/08, teve sua melhor temporada, com 24 gols em 36 rodadas da Premier League e 30 no total. Foi eleito o melhor jogador africano de 2008.
Então não era difícil entender a decepção da torcida quando ele topou se transferir para o Manchester City, que começava a impor o poder financeiro de Abu Dhabi, para, entre outras coisas, aliciar os talentos moldados por Wenger. Adebayor foi o primeiro deles, ao lado de Kolo Touré. Nos anos seguintes, Samir Nasri e Gaël Clichy tomariam o mesmo caminho. Adebayor começou com tudo no novo clube, marcando nas quatro primeiras rodadas da Premier League 2009/10. O último jogo dessa sequência foi a vitória por 4 a 2 sobre o Arsenal, com a polêmica comemoração.
Na época, Adebayor pediu desculpas e admitiu que se deixou levar pela emoção. Ele foi suspenso por dois jogos e levou uma multa de £ 25 mil, culpado pela polícia por ter incitado a torcida visitante, que reagiu atirando objetos ao gramado e nocauteou um dos fiscais. Passada a turbulência, terminou a temporada com 14 gols em 26 rodadas, mas perderia espaço com as contratações de Balotelli e Edin Dzeko. Após seis meses, foi emprestado ao Real Madrid em janeiro de 2011 para ser reserva. E ainda conseguiu deixar sua marca: anotou uma tripleta contra o Almería pelo Campeonato Espanhol e voltou a vitimar o Tottenham, com dois gols no jogo de ida das quartas de final da Champions League.
Disponível no mercado, a Síndrome de Estocolmo bateu forte nos Spurs, que o levaram inicialmente por empréstimo. Mostrou novamente que era um atacante confiável para a Premier League, com 17 gols em 33 rodadas, incluindo contra o Arsenal (em uma derrota por 5 a 2), e chegou a dar quatro assistências e deixar o seu em goleada por 5 a 0 sobre o Newcastle. Foi contratado em definitivo. A segunda temporada não foi tão boa, com um novo capítulo no clássico do norte de Londres: abriu o placar aos 10 minutos, foi expulso aos 17, e o Arsenal fez um novo 5 a 2. Marcaria apenas oito vezes, mas um dos gols foi decisivo, na prorrogação das oitavas de final da Liga Europa contra a Internazionale. Na fase seguinte, porém, foi responsável por um dos pênaltis perdidos que culminaram com a eliminação para o Basel.
A carreira de Adebayor começou a embicar para baixo na temporada 2013/14. Foi afastado do elenco pelo então técnico André Vilas-Boas no começo da campanha. Acabou reintegrado por Tim Sherwood, após a demissão do português, e chegou a bater dois dígitos na Premier League novamente. Seria a última vez. Seu contrato foi rescindido em comum acordo em setembro de 2015. Seis meses depois, ele acertou com o Crystal Palace, pelo qual marcou apenas uma vez e encerrou uma passagem excelente pela Inglaterra.
Adebayor ainda teria uma prorrogação na Turquia. Ajudou o Istambul Basaksehir a ser terceiro colocado em 2017/18 com 15 gols em 30 rodadas da Superliga e passou brevemente pelo Kayserispor antes de tentar a sorte no futebol paraguaio. Infelizmente, durou pouco. Fez apenas dois jogos no Apertura e dois na Libertadores – em um deles, foi expulso por dar uma voadora em Enzo Coacci contra o Defensa y Justicia. Seu contrato foi rescindido em julho, com o Olimpia citando riscos de saúde, por causa da pandemia, e altos custos logísticos para trazê-lo de volta ao Paraguai. Ele acabou ficando em Togo para os últimos anos da carreira.
Lá, ele é herói. Adebayor defendeu Togo por quase 20 anos. E de cara, foi artilheiro das Eliminatórias Africanas para a Copa do Mundo de 2006, com 11 gols, essencial para que a sua seleção liderasse o grupo, à frente de Senegal que vinha daquela fantástica campanha na Coreia do Sul e no Japão. No formato daquela edição, o primeiro colocado se classificava diretamente, sem necessidade de playoffs. Togo perdeu os três jogos da fase de grupos, em sua primeira participação no Mundial. Com Adebayor como capitão, também avançou ao mata-mata da Copa Africana de Nações de maneira inédita, em 2013. Seu último jogo pela seleção foi uma derrota por 2 a 1 para Benim, pelas Eliminatórias da CAN, em março de 2019. Adivinha quem fez o gol de Togo?