Ancelotti renasceu nos grandes palcos em uma temporada que eleva o seu patamar na história do futebol | OneFootball

Ancelotti renasceu nos grandes palcos em uma temporada que eleva o seu patamar na história do futebol | OneFootball

Icon: Trivela

Trivela

·28 de maio de 2022

Ancelotti renasceu nos grandes palcos em uma temporada que eleva o seu patamar na história do futebol

Imagem do artigo:Ancelotti renasceu nos grandes palcos em uma temporada que eleva o seu patamar na história do futebol

Ainda não apareceu uma pessoa que não gosta de Carlo Ancelotti. Houve momentos em que ele não estava trampando tão bem que seus métodos foram questionados. Alguns bem recentes. Depois de dar ao Real Madrid a sua obsessão, a famosa La Décima, fracassou no Bayern de Munique e deu um passo atrás. Treinou Napoli e Everton, o que parecia ser o começo de um processo que o afastaria de vez do mais alto nível. Mas, na necessidade, Florentino Pérez o reconvocou, e bom soldado que é, Ancelotti não poderia dizer não. Ainda bem que não disse. Porque foi a chance de renascer em uma temporada que eleva o seu patamar na história do futebol – e olha que ele já era bem alto.

Não seria um detrimento ao seu currículo se ele nunca desse a voltar por cima. Era um técnico que ganhou duas vezes a Champions League pelo Milan, comandou uma campanha fantástica do Chelsea campeão da Premier League, deu início ao projeto do Paris Saint-Germain e marcou seu nome em um dos maiores feitos que o futebol já viu – ganhar a Champions League dez vezes. Era mais do que suficiente, mais do que quase todos os treinadores do futebol europeu conseguiriam. Don Carlo, o Carletto, estava muito bem confortável nos livros de história, mas agora deu um passo além.


Vídeos OneFootball


É o maior técnico campeão europeu de todos os tempos, com quatro títulos de Champions League, superando Bob Paisley e Zinedine Zidane.

Antes, havia dominado o Campeonato Espanhol e se tornado o primeiro a conquistar as cinco grandes ligas nacionais: a Serie A pelo Milan, a Premier League pelo Chelsea, a Ligue 1 pelo PSG, a Bundesliga pelo Bayern de Munique e La Liga pelo Real Madrid. É verdade que foi uma edição tecnicamente não tão boa assim, com um Barcelona que começou a temporada em crise, um Atlético de Madrid que não conseguiu manter o nível de quando foi campeão, um Sevilla que só empatava, e outros times bons, como o Betis e a Real Sociedad, que não conseguiram sequer se aproximar. Mas na Champions League há pouca ponderação a ser feita.

A única seria a maneira como o Real Madrid foi dominado durante grande parte de todos os duelos do mata-mata, mas como acabou vencendo todos eles, o que diabos importa? E também quando um cenário se repete várias vezes e termina com o mesmo resultado é mais difícil falar apenas em acaso – e ninguém ganha nada sem sua dose de sorte – e começa a aparecer um padrão. Um método. Foi essencial achar os gols na hora certa, e pequenos detalhes mudariam o curso, mas a fantástica caminhada merengue não teria acontecido se os jogadores não estivessem mentalmente preparados para aquelas situações.

E como estavam. Houve outros exemplos, mas a final em Paris é o mais recente. Não apareceu o menor sinal de afobação, nem nos momentos em que o Liverpool exigia defesas de Thibaut Courtois. Talvez apenas nos dois contra-ataques que teve para matar o jogo. O Real Madrid sabia exatamente o que devia fazer. Sabia de cor o seu plano até porque não era a primeira vez que o colocava em ação. Isso é sinal de time bem treinado, mesmo que as táticas de Ancelotti não sejam neste momento as mais refinadas do mundo. A tranquilidade e a maturidade para esfriar o jogo nos minutos finais e impedir o abafa do Liverpool se destacaram. A experiência dos jogadores é claro que é essencial. A confiança que recebem do treinador também.

Ancelotti superou Klopp nessa final. Não apenas no placar. A sua proposta de jogo funcionou melhor. O Liverpool aprendeu a ser eficiente com a posse de bola, mas sua força ainda está na transição. E o Real Madrid não deu nenhuma para ele. Não houve praticamente um contra-ataque de vermelho. Os espanhóis nunca adiantaram suas linhas, nem quando o adversário trocava passes na intermediária ofensiva, quase na boca da grande área. Eles sabiam que a melhor chance de travar um dos melhores ataques do mundo era fechar tudo por ali, dar as laterais, mas ficar atento para cortar os cruzamentos, e se algo passasse, fé em Courtois.

Foi uma estratégia que dependeu de confiança. Não no sentido místico, de jogar as mãos para o alto e rezar, mas um palpite calculado, com base no conhecimento que Ancelotti tem dos seus jogadores, que eles não cometeriam erros individuais na defesa, que conseguiriam passar 90 minutos concentrados, que o goleiro faria grandes defesas, que uma ou duas chances apareceriam e que alguém conseguiria concluir pelo menos uma delas. Enquanto todo mundo pedia que Rodrygo fosse titular, Ancelotti insistiu com Federico Valverde pelo lado direito, e foi o uruguaio quem subiu pela direita, entrou em diagonal e bateu cruzado para Vinícius Júnior completar.

E que outro grande exemplo das qualidades de Ancelotti é Vinícius Júnior. Desde o começo da temporada, quando o brasileiro começava a dar os primeiros sinais de que esta seria a sua temporada de explosão, ele recebeu moral do italiano. Era um assunto obrigatório em todas as entrevistas coletivas e as declarações sempre foram em tom positivo. Isso é inestimável para que um jogador com as características de Vinícius (extremamente talentoso, mas que pecava em tomada de decisão e finalização, o que acontece cada vez menos) não tivesse medo de continuar tentando, aprendendo, se desenvolvendo, como é normal para um garoto de 21 anos.

A abordagem perfeita. E no fim das contas Ancelotti se mostrou o treinador perfeito para o momento do Real Madrid. Alguém que entende a alma do clube como poucos, ama o clube como poucos, e que soube conduzir o que tinha em mãos: um elenco que mistura jogadores fantásticos na fase final da carreira e jogadores que podem ser fantásticos na fase inicial da carreira. Um técnico de certa maneira discreto, que não faz questão de mostrar a sua marca, “olha o que eu sei fazer”, mas sempre se notabilizou por armar o coletivo para deixar que as individualidades brilhassem. A de Benzema brilhou muito no mata-mata. A de Modric, Vinícius e Rodrygo também. Em Paris, principalmente a de Courtois.

E assim Ancelotti se provou novamente em um palco ao qual poucos acreditariam que poderia voltar. Derrotou o projeto megalomaníaco do PSG, o então atual campeão europeu Chelsea, a orquestra extremamente afinada do Manchester City e o heavy metal do Liverpool. Ficou diante de desafios de diferentes naturezas, encarou os melhores times do mundo, e superou todos eles, colecionando um segundo feito histórico no meio do caminho. E o seu único poder mágico de verdade é o jeito como levanta a sobrancelha.

Saiba mais sobre o veículo