Amor, ódio e reviravoltas: a história do predestinado zagueiro que se tornou herói de um sonho impossível | OneFootball

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·24 de abril de 2018

Amor, ódio e reviravoltas: a história do predestinado zagueiro que se tornou herói de um sonho impossível

Imagem do artigo:Amor, ódio e reviravoltas: a história do predestinado zagueiro que se tornou herói de um sonho impossível

O jovem Cengiz Ünder pega a bola e se prepara para cobrar um escanteio pelo flanco direito. Faltando oito minutos para o fim de um jogo épico, a Roma tentava protagonizar um dos maiores milagres da história da Champions League contra o Barcelona, um ano depois do próprio clube espanhol fazer um jogo inesquecível contra o Paris Saint-Germain.

Pulsando, fervendo, tremendo. O Estádio Olímpico de Roma era o Coliseu, onde seus gladiadores não deixavam um impotente Barcelona respirar. A cancha vibrava. Ao mesmo tempo que os pulmões acusavam a falta de ar de tanto gritar e as mãos tremiam de ansiedade, vinham as orações pedindo pelo gol do sonho.


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Mas tudo isso para por um breve instante.

Ünder cobra o escanteio. Durante um pequeno momento, todos no estádio fazem um breve silêncio. A pequena pausa para acompanhar um lance histórico e gravar um lance para sempre na memória e no coração. A defesa azul-grená, como o time durante todo o jogo, tirando o excepcional Ter Stegen, parece estar dormindo. Um zagueiro grego de 26 anos, nascido na pequena ilha de Naxos se antecipa e coloca a cabeça na bola. A pelota encontra o fundo das redes.

O breve silêncio vira uma insanidade completa. O Coliseu da Roma treme como nunca. A mistura magnífica de emoções fazem cair as lágrimas. Os pulmões não aguentam mais, a voz já está rouca, mas isso não é problema algum. Pessoas que nunca se viram se abraçam e se beliscam para comprovar a realidade. Aquilo realmente estava acontecendo?

Estava.

O sonho impossível era real. O Estádio Olímpico de Roma era palco de um milagre e uma noite emocionante, de arrepiar qualquer amante do futebol.

E o responsável por tudo isso não foi o lendário De Rossi, o goleador Dzeko, o excelente Nainggolan, Strootman, Florenzi ou qualquer outro ótimo jogador da Roma. O herói da noite era Kostas Manolas. O grego correu como um louco, gritando e com os braços abertos. O gladiador realmente representou cada torcedor dentro do campo de batalha. Após extravasar, observou incrédulo a insanidade que proporcinou no Estádio Olímpico.

Após o apito final, com o milagre concretizado, a festa não tinha hora para acabar em Roma. Nas arquibancadas e no campo, todos se esbaldavam com o sonho realizado. Manolas, porém, preferiu não estar no meio de toda aquela loucura. Ele sentou sozinho no banco de reservas, observou o quadro e chorou copiosamente. O grego percebeu o que tinha feito e proporcionado para milhões de pessoas.

O futebol é apaixonante também pela capacidade de criar histórias espetaculares e improváveis como essa. Por mais que Manolas seja referência na defesa dos Giallorossi, ele era o herói improvável de uma virada impossível.

Todas as vezes que alguém se lembrar daquela noite italiana em 10 de abril de 2018, Manolas será lembrado. Seu nome já está gravado na eternidade, não importando o que vai acontecer de agora em diante.

No entanto, tanto ele quanto a Roma querem mais.

Os Giallorossi agora sonham com o título inédito e querem se vingar da derrota na final de 1984. Aquele revés em pleno Estádio Olímpico dói até hoje. Depois do empate por 1 a 1, o Liverpool, de Kenny Dalglish, Ian Rush e Graeme Souness bateu a Roma de Falcão, Cerezo e Conti nos pênaltis.

No entanto, não será fácil. Para encarar Real Madrid ou Bayern de Munique na decisão, o time italiano precisará passar pelo melhor ataque da Champions League (33 gols) que conta com o temível trio SFM. Manolas terá a complexa missão de liderar sua defesa contra Mohamed Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané.

Com oito gols cada, o brasileiro e o egípcio são os vice-artilheiros da UCL ao lado de Ben Yedder, já eliminado com o Sevilla. Mané, com sete tentos, está logo atrás. O goleador máximo é Cristiano Ronaldo (15).

O Liverpool ainda conta com James Milner, líder de assistências da competição, com sete passes para gol. Firmino é o segundo colocado na estatística, com quatro, ao lado de Kevin de Bruyne e Dele Alli. O camisa 9 ainda é o segundo jogador que mais participou diretamente de gols na competição europeia (12), novamente atrás apenas de CR7 (18).

E como se não bastasse todo o talento, a incrível força ofensiva, o temível trio SFM e a fase espetacular de Salah, o Liverpool ainda tem mais solidez defensiva desde a chegada de Van Dijk e um time equilibrado e seguro. O esquadrão de Jürgen Klopp está invicto há sete partidas e só perdeu três das últimas 35.

A Roma e Manolas, porém, também possuem seus trunfos. Nas semifinais da Champions pela primeira vez desde 1984, o clube italiano não quer parar no milagre contra o Barcelona, e conta com Dzeko em excelente fase, Alisson como um dos melhores goleiros do planeta na atualidade, um meio-campo de respeito com os ótimos Strootman, De Rossi e Nainggolan, Florenzi, opções de talento como o jovem Cengiz Ünder e, claro, uma forte defesa liderada pelo herói grego.

Se o Liverpool é fortíssimo em Anfield Road e fora de casa está invicto há cinco jogos na Champions League, a Roma não sofreu gols no Estádio Olímpico nas cinco partidas pela competição europeia nesta temporada e venceu os últimos quatro duelos como mandante no torneio.

Além disso, os Giallorossi já deixaram gigantes para trás e querem repetir o feito. O time do competente Eusebio Di Francesco avançou em primeiro lugar no seu grupo, deixando Chelsea e Atlético de Madrid para trás. Depois passou pelo Shakhtar Donetsk e eliminou o favorito Barcelona com uma virada épica.

Para eliminar mais um gigante, além do talento ofensivo, a Roma precisará principalmente da fase espetacular de Alisson e de partidas inspiradas de sua defesa liderada por Manolas para parar os Reds. E para o herói grego, missão dada é missão cumprida.

A Goal Brasil conversou com Vlassis Kambanis, jornalista grego que trabalha no Voria.gr e contou várias curiosidades sobre a carreira de Manolas. Confira:

FAMÍLIA BOLEIRA

Pode-se dizer que Manolas estava destinado a ser jogador de futebol. Seu tio, Stelios Manolas, foi futebolista e uma lenda do AEK Atenas, considerado um dos melhores defensores de sua época, e seu primo também joga futebol e defende o Lokomovic Sofia. Ambos zagueiros.

Como não poderia ser diferente, Manolas se tornou zagueiro e começou sua carreira no pequeno Thrasyvoulos, aos 15 anos. Rapidamente, porém, seu tio, então diretor técnico do AEK Atenas, o levou para o tradicional clube grego um ano depois.

AMOR E ÓDIO

Manolas assinou um contrato de três anos e afirmou que queria se tornar uma lenda do AEK e ter uma carreira parecida com a de seu tio no clube do qual, segundo ele, era torcedor desde criança. Seu início foi explosivo e simbólico, com ele sendo eleito o homem do jogo em praticamente todas as partidas e marcando seu primeiro gol como profissional logo em um clássico contra o Olympiakos, em 2010.

Na temporada seguinte, Manolas brilhou ainda mais. O zagueiro provou seu espírito jogando partidas mesmo lesionado e conquistou a Copa da Grécia 2010/11 sendo eleito o melhor jogador do torneio. Não à toa, ele renovou seu contrato até 2014, garantindo mais três anos nos AEK, mesmo estando na mira de clubes como Schalke 04, Sevilla e Udinese.

Em entrevistas, Manolas até cumprimentou o presidente do clube, Stavros Adamidis, por não o vender mesmo com as dificuldades financeiras do AEK, e revelou que tinha o sonho de se tornar capitão do time e conquistar o Campeonato Grego como seu tio fez.

Depois disso, em janeiro de 2012, o Everton tentou contratar Manolas, mas o zagueiro recusou porque quis honrar seu contrato com o AEK e afirmou que não poderia sair antes do clube contratar um bom substituto para ele.

Seis meses depois, porém, com o fim de seu contrato, o zagueiro assinou com o Olympiacos. Obviamente, a transferência teve um péssimo impacto para seu ex-clube e os torcedores, por ele ter ido de graça para um rival pouco tempo após recusar uma boa proposta que poderia ter ajudado o AEK financeiramente e, é claro, pelo seu laço especial com os Énosis.

BRILHO E IDA PARA A ROMA

Apesar da pressão, em sua primeira temporada no novo time, Manolas ganhou a Copa e o Campeonato Grego e passou a ser especulado em clubes como Manchester United e Tottenham. Seu antigo clube, por outro lado, vivia péssimo momento, banido da Liga Europa, sem poder contratar ou vender jogadores estrangeiros e podendo comprar apenas atletas gregos com até 22 anos.

Depois disso, na temporada 2013/14, Manolas brilhou pela primeira vez na Champions League. Estreante na competição, ele marcou o gol da vitória em casa sobre o Benfica e também anotou um tento na derrota para o PSG de Ibrahimovic e Cavani em Paris. O Olympiacos avançou às oitavas de final, mas foi eliminado pelo Manchester United. Após vencer por 2 a 0 em casa, os gregos perderam por 3 a 0 em Old Trafford, com hat-trick de Robin van Persie.

O ótimo desempenho durante o ano rendeu a Manolas uma transferência para a Roma, que pagou 15 milhões de euros pelo zagueiro. De lá pra cá, o resto é história.

Herói contra o Barcelona, o grego recusou uma oferta do Zenit no início da temporada. Ele tem contrato com a Roma até 2020 e revelou ao Il Giornale que rejeitou os russos por estar feliz nos Giallorossi. O zagueiro ainda revelou ter vontade de encerrar sua carreira no Olympiacos e ter sido alvo da Juventus quando jogava na Grécia.

Gravado na eternidade da Roma, Manolas também é motivo de orgulho em seu país. Eleito um dos 50 melhores jogadores da Copa do Mundo de 2014 pelo jornal inglês The Independent, ele é o terceiro jogador grego em toda a história a chegar nas semifinais da Champions League, após Akis Zikos com o Monaco, em 2003/04, e Kyriakos Papadopoulos com o Schalke 04, em 2010/11.

Será que o futebol reserva mais glórias para o explosivo zagueiro da Roma?