Jogada10
·30 de julho de 2025
Alvo de operação da PF, deputada Helena Lima usava clubes de Roraima para se projetar

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·30 de julho de 2025
A Polícia Federal colocou a deputada federal Helena Lima (MDB-RR) no centro de uma investigação que apura suspeitas de compra de votos em Roraima. Inclusive, a parlamentar, conhecida como Helena da Asatur, já usava a visibilidade dos clubes de futebol locais para projetar sua imagem como figura pública. Seu nome chegou até a aparecer estampado em uniformes de dois dos principais times do estado, bem como nas redes sociais institucionais.
O uso sistemático do futebol como plataforma de promoção política chama atenção pela abrangência. Camisas de jogo do Grêmio Atlético Sampaio (GAS) e do Atlético Roraima exibiram inscrições como “Helena Deputada Federal” em áreas de destaque dos uniformes — nas costas, mangas e na parte frontal.
A deputada e o marido, Renildo Lima, ainda viabilizaram parcerias para os clubes por meio das empresas familiares. Trata-se da Asatur e da Voare, duas das mais tradicionais no setor de transporte do estado. Ambos estão entre os principais patrocinadores do futebol local desde 2023.
Embora os contratos envolvam pessoas jurídicas, a propaganda estampada nos uniformes configura desvio da finalidade do patrocínio. O advogado Guilherme Barcelos, especialista em direito constitucional, explicou de forma mais clara sobre as razões para não se enquadrar em uma ação unicamente institucional.
“Quando o nome da deputada se encontra estampado nas camisas do clube, evidencia-se um patrocínio baseado em sua imagem individual. De posição política. Diferentemente de um patrocínio empresarial, onde uma empresa promove sua marca comercial ou de um projeto social institucional”, esclareceu ao ‘O Globo’, responsável pela informação.
A parlamentar justificou que sua aparição nos materiais dos clubes decorre do título simbólico de “madrinha” das equipes. Entretanto, perfis oficiais das agremiações referem-se a ela como patrocinadora direta, o que acentua a interpretação de promoção pessoal por meio de recursos privados.
A atuação de Helena no esporte não se limita ao financiamento dos times, mas se expande. Isso porque a deputada recebeu uma homenagem pública da Federação Roraimense de Futebol, em 2024, pelo patrocínio ao campeonato regional. Inclusive, Samir Xaud, presidente da CBF e outro alvo da PF, chegou a discursar durante o evento.
“Ela está fazendo um trabalho sensacional pelo esporte roraimense. Não só o futebol profissional, mas todos os esportes. Eu, que acompanho, nunca vi uma parlamentar tão atuante”, enalteceu Xaud.
Helena ocupa a segunda vice-presidência da Comissão do Esporte na Câmara dos Deputados e mantém aliança política com Samir, também investigado na operação deflagrada pela PF. O histórico de envolvimento de ambos com o futebol reforça os indícios de uso político da estrutura esportiva em benefício próprio.
A chamada “Operação Caixa Preta” teve início após a prisão de Renildo Lima em setembro de 2024 — flagrado com R$ 500 mil em espécie. Essa quantia equivale à parte do valor escondido na cueca do alvo. A PF apura se houve desvio de recursos para bancar candidaturas municipais, em especial em Boa Vista. As investigações apontam movimentações de até R$ 2 milhões com possíveis práticas de compra de votos.
A Justiça inclusive determinou o bloqueio de R$ 10 milhões nas contas dos investigados (Helena, Renildo e Samir). Em meio à repercussão, a CBF emitiu uma nota alegando que a operação “não tem qualquer relação com o futebol brasileiro”. A entidade ainda fez questão de ressaltar que seu presidente “não é o centro das apurações”.
Outros políticos ignoraram a repercussão da exposição indevida do nome da deputada nos uniformes dos clubes e adotaram a mesma estratégia. O Atlético Roraima, por exemplo, passou a exibir as inscrições “Daniel Trindade” e “Deputado Estadual Neto Loureiro” em suas camisas. Ambos figuram como pré-candidatos nas eleições de 2026.