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·26 de março de 2022

Aleksandar Trajkovski

Imagem do artigo:Aleksandar Trajkovski

A maior zebra do futebol em tempos recentes foi a eliminação da Itália da Copa de 22. Não precisa correr até a internet. A Macedônia do Norte tem território pouco menor do que Alagoas e pouco maior do que Sergipe. Tem dois milhões de habitantes e sua independência definitiva ocorreu em 1991, quando a Iugoslávia, que integrava desde 1945, foi extinta.

Em algum dia você ouviu falar que a Iugoslávia era, no futebol, o “Brasil da Europa”, desorganizado fora e habilidoso no campo. Que enfrentou a nossa seleção quatro vezes em Mundial e deixou um retrospecto equilibrado: ganhou em 1930, empatou em 1954 e 1974, e perdeu em 1950.


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Mas é fato que a Macedônia do Norte teve pequena participação nessa história. Nos últimos tempos, teve presença pífia nas eliminatórias para 2014 e 2018. E na de 2022 já dera o ar da graça ao vencer a Alemanha em Duisburg, na primeira fase, o que valeu o segundo lugar do seu grupo, e a possibilidade de disputar a repescagem, na qual eliminou, jogando em Palermo, casa do adversário, a atual campeã continental.

Não há, na realidade, quase nada que possa recomendar a Macedônia do Norte no futebol: está em 67º lugar no ranking da Fifa, fez papel ridículo na pré Euro-20, seus jogadores não atuam em clubes protagonistas, e seu técnico, Blagoja Milevski, não tem passado brilhante, como jogador ou na atual função. Assumiu o comando da seleção faz apenas seis meses. Aleksandar Trajkovski, que fez o gol, joga no Al Fahya, do qual você nunca ouviu falar. O que resta, fato comum, é a obediência tática a uma formidável retranca que aposta em contra-ataques. Daí vem a pergunta que não quer calar: foi a Macedônia do Norte que ganhou ou a Itália que perdeu? Terá sido mais uma trapaça do futebol? Ou há algo além?

Na prática, não seria absurdo apostar no conjunto da obra. A Squadra Azzurra, quatro vezes campeã do mundo, duas da Europa, com clubes de larga tradição, e nomes consagrados em todos os tempos, não vai esbarrar na seleção de um país que muita gente só foi saber que existe ao acompanhar o jogo.

No entanto, é justamente esse poder que fabrica as zebras que só o futebol pode proporcionar, e o que o mantém emocionante, apesar dos muitos interesses, financeiros e políticos, que o cercam na atualidade. É provável que os italianos, de um modo geral, não tenham encarado o compromisso com a seriedade exigida, dada, teoricamente, a disparidade evidente de forças.

Uma partida decisiva precisa obrigatoriamente receber a devida importância. É fundamental conhecer o adversário sob todos os aspectos e convencer a todos os envolvidos, incluindo o público, notadamente o que está presente ao estádio, que o resultado vai determinar a participação do país nas próximas competições internacionais e avaliar o futuro dos próprios jogadores. Nem se fala aqui no dinheirão que será perdido.

O futebol, porém, e vez por outra, vai além do campo. A Macedônia do Norte, jovem nos dias de hoje, pequenina, desconhecida, com um histórico contemporâneo de luta por independência, ainda é uma nação em busca da afirmação. E uma vitória dessas, contra um gigante, pode, sem exagero algum, arrancá-la do anonimato e dar a seus habitantes um incentivo para ampliar a sobrevivência em um contexto convulsionado por dois exemplos recentes – um o da própria extinção da Iugoslávia, que lhe devolveu a liberdade, e outro o atual, que está bem próximo, que escancara a batalha de uma Ucrânia francamente desigual diante de uma potência governada por um psicopata como Vladimir Putin.

Voltando ao gramado, a Macedônia lutava para ser reconhecida e a Itália só pensava na decisão da vaga, prevista para terça-feira. E não é nenhum absurdo comparar essa derrota à de 1966, para a Coreia do Norte, no velho Ayresome Park. Portugal, que viu isso, à época de pertinho, que se cuide agora, embora essa seja outra história.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10.

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