Abedi Pelé teve curta passagem pelo Torino, mas foi um dos grandes africanos da Serie A | OneFootball

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·30 de janeiro de 2023

Abedi Pelé teve curta passagem pelo Torino, mas foi um dos grandes africanos da Serie A

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O legado do Rei do Futebol é imensurável. Gerações inteiras se inspiraram e muitas ainda irão na magia que Pelé desfilou nos gramados. Se até os habitantes da Bota morreram de amores ao verem o Rei, mal eles sabiam que um outro jogador com seu nome, mas ganês, brilharia na Serie A com as cores do Torino: falamos do meia-atacante Abedi Pelé, um dos mais talentosos de sua época.

Abedi Ayew nasceu em novembro de 1964 em Kibi, cidade de quase 12 mil habitantes na região sudeste de Gana. Mesmo com seus poucos habitantes, Kibi (ou Kyebi, no dialeto akim) é a capital histórica de Akyem Abuakwa, um dos quatro estados do povo Akyem, que vivia no território correspondente à atual porção sul do país, no século XIV. Além disso, algumas outras personalidades conhecidas nasceram lá, como Susan Ofori-Atta, a primeira médica a atuar na nação, e o seu atual presidente, Nana Akufo-Addo. Apesar de toda a rica crônica da sua terra natal, a família Ayew se mudou para Dome, um distrito de Acra, a capital.


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Foi lá que Abedi e seus dois irmãos mais novos, Sola e Kwame, começaram a dar seus primeiros passos no esporte, quando não ajudavam os pais a venderem carvão nas ruas de seu bairro. Sola jogou pelo sub-23 da seleção ganesa e no Hearts of Oak, clube mais antigo do país. Já Kwame foi medalhista de bronze na Olimpíada de 1992, em Barcelona, e chegou a ter uma passagem pelo Lecce, mas foi em Portugal que foi mais vitorioso na carreira. No entanto, nenhum dos dois chegaria a ter o nível de fama do irmão mais velho, que, por conta da combinação entre dribles, agilidade, talento e faro de gols, receberia o apelido mais nobre do futebol, que o acompanharia por toda a vida: virou Pelé.

O primeiro time de Abedi Pelé como profissional foi o Real Tamale United, em 1980. Após brilhar pelo clube do norte de Gana, o garoto de 18 anos passou a fazer parte da seleção do país e ajudou os Estrelas Negras a faturarem a Copa da África Ocidental e a sua quarta Copa Africana de Nações, em 1982. O torneio, realizado na Líbia, foi acompanhado de perto pelo emir que presidia o Al Sadd e, assim, o meia-atacante rumou para o futebol do Qatar.

No Oriente Médio, Pelé ganhou um ótimo salário, mas não encontrou a felicidade. Aliás, essa transferência antecipou um período complicado da carreira do ganês, que chegou a ver sua continuidade na seleção ameaçada. Foram anos de perambulação para Abedi, que deixou o Al Sadd em 1983 e depois teve curtas passagens por Zürich, da Suíça, Dragons l’Ouémé, do Benin, e Real Tamale, de seu país – apesar das breves experiências, obteve bons números pelos clubes. Sua situação só foi se estabilizar a partir de 1986, quando o Niort, da segundona francesa, lhe contratou.

Com a camisa azul dos camurças, Pelé deslanchou. O meia-atacante canhoto foi o grande nome da campanha do acesso do time à elite, com sete pontos de vantagem sobre o Caen, segundo colocado de seu grupo: no total, contribuiu com 14 gols marcados em 32 jogos. O seu ótimo desempenho chamou a atenção do Olympique de Marseille, um dos maiores clubes do futebol gaulês.

Sem dúvidas, a transferência representava um enorme salto na carreira de Abedi. E, inicialmente, essa mudança gerou grande impacto para o garoto franzino, que não conseguiu competir com Alain Giresse, Jean-Pierre Papin e Klaus Allofs pela titularidade, em 1987-88, e ainda viu sua vida se dificultar após as chegadas de Franck Sauzée e Éric Cantona, na temporada seguinte. Assim, em meados de 1988-89, foi emprestado ao Lille, que tinha objetivos mais modestos que os do OM na época.

Pelé ficou dois anos no norte da França e, pelo Lille, conseguiu mostrar sua técnica refinada. Primeiro, ajudou um time que contava com o goleiro Bernard Lama, os defensores Christophe Galtier e Jocelyn Angloma, além do atacante Erwin Vanderbergh, a conquistar uma ótima oitava posição em 1988-89 e, na sequência, já sem o arqueiro, negociado com o Metz, foi fundamental para que o rebaixamento fosse evitado. Com isso, foi repatriado pelo Marseille, que se sagrara campeão nacional.

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Pelé e Angloma, em seus primeiros treinos pelo Torino (LaPresse)

Dá para afirmar que é partir daquele momento que, de fato, se inicia a história de Pelé com os olympiens. Abedi foi peça-chave de um dos mais fortes times que o futebol francês ofereceu ao mundo e, assim, se tornou um dos primeiros jogadores africanos a ganhar protagonismo na Europa, abrindo, junto a seu contemporâneo George Weah, as portas do esporte no continente para estrelas como Samuel Eto’o, Didier Drogba, Sadio Mané e Mohamed Salah.

Em 1990-91, Pelé superou a concorrência de Dragan Stojkovic e deu um toque insinuante a um time que ganhou o Campeonato Francês e foi vice da Copa da França e da Copa dos Campeões. Na trajetória europeia, o ganês ajudou o Marseille a superar o Milan nas quartas de final e marcou duas vezes nas semis, ante o Spartak Moscou. No entanto, os phocéens perderam a decisão para o Estrela Vermelha, nos pênaltis.

Na temporada seguinte, os clube marselhês voltou a faturar o campeonato nacional. E, em 1992-93, alcançou o auge de sua história: se tornou o primeiro e, até hoje, único time do país a faturar a Champions League. Na decisão, contra o Milan, Pelé foi o autor da assistência que resultou no gol de Basile Boli, em cobrança de escanteio.

No mesmo ano, o Marseille também seria campeão francês. Seria. Porque o seu presidente, Bernard Tapie, a seis dias da final europeia contra o Milan, utilizou o meia Jean-Jacques Eydelie como intermediário para subornar Jorge Burruchaga, Christophe Robert e Jacques Glassman, do Valenciennes. A ideia seria bater o adversário com facilidade, garantindo o título nacional com antecedência, no intuito de poupar os jogadores para a final europeia. Só que a história veio à tona e o título foi cassado. Os phocéens também foram rebaixados para a segundona, banidos das competições continentais e tiveram de se desfazer de parte de suas principais estrelas. Pelé, por exemplo, foi vendido ao Lyon.

Àquela altura, Abedi já era reconhecido como um dos maiores jogadores em atividade no planeta – chegou até a ser nono colocado na eleição para melhor do mundo da Fifa, em 1992. Entre 1991 e 1993, o meia-atacante foi escolhido pela France Football como o craque do futebol africano e, em 1992, ganhou o mesmo prêmio da Confederação Africana de Futebol. Também foi escolhido como esportista do ano no continente pela BBC e como grande nome da Copa Africana de Nações. Gana foi vice daquela edição do torneio, mas Pelé nem chegou a entrar em campo na decisão perdida nos pênaltis para Costa do Marfim, porque estava suspenso. Antes, marcou três vezes na competição, inclusive na semifinal com a Nigéria.

No Lyon, Pelé não brilhou tanto quanto em seus tempos de Marseille. Ajudou o OL a ser oitavo colocado do Campeonato Francês de 1993-94 e, em seguida, rumou ao Torino, que havia sido adquirido, em abril de 1994, pelo empresário Gianmarco Calleri. Apesar de as finanças do clube não estarem em boa situação, o novo presidente quis animar a torcida e fez um esforço para convencer Abedi a cruzar os Alpes e chegar ao Piemonte – Angloma, seu antigo companheiro de Lille e OM, também reforçou os grenás. Curiosamente, Kwame, irmão do meia-atacante, também atuava na Itália naquela época: morando na ensolarada Apúlia, havia sido rebaixado pelo Lecce e disputaria a Serie B em 1994-95.

Beirando os 30 anos, o ganês cumpriria uma missão a qual já havia se habituado na França: substituir o uruguaio Enzo Francescoli, que fora seu antecessor no Marseille e, naquela janela de mercado, deixara o Torino para voltar ao River Plate. Mas, ao mesmo tempo, Pelé se integrava a um time que não tinha a mesma força de épocas anteriores, quando chegou a frequentar habitualmente a parte alta da tabela da Serie A, faturou a Coppa Italia e até foi vice-campeão da Copa Uefa.

Além disso, a era do técnico Emiliano Mondonico também havia se encerrado e Calleri optara por dar o comando da equipe a Rosario Rampanti, ex-jogador do clube e treinador do sub-19 grená. A aposta logo se revelou equivocada e, após duas derrotas nas três primeiras rodadas do Italiano, Nedo Sonetti chegou como substituto. Era um prelúdio para os desafios que Pelé enfrentaria nesta nova etapa de sua carreira.

Sonetti montou um 3-4-1-2, no qual o ganês atuava em suporte aos atacantes Andrea Silenzi e Ruggiero Rizzitelli – este, o terceiro principal reforço da temporada. Era comum ouvir, durante as partidas, o treinador orientar os seus jogadores a passarem a bola para o camisa 10, que era o definidor das ações dos granata; em suma, o responsável pelo último toque refinado. Também era habitual que o estádio Comunale fosse envolvido por uma música cantada pela torcida do Toro: “alè Abedi Pelé, alè Abedi Pelé”, no ritmo dos versos de “Go West”, hit da dupla britânica Pet Shop Boys.

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O ganês teve um ótimo primeiro ano pelo Torino, mas depois disso foi afetado por lesões (LaPresse)

Queridinho da torcida, o ganês era o ponto de referência do forte trio ofensivo que foi o grande responsável por evitar o descenso do Torino: o time piemontês terminou a Serie A na 11ª posição, cinco pontos acima da zona de rebaixamento. Embora não tivesse como principal atribuição balançar as redes, o africano foi o vice-artilheiro do elenco, com 10 tentos, enquanto Rizzigol anotou 19 no campeonato.

Rizzitelli foi o grande nome das principais vitórias do Toro naquela temporada, com quatro gols marcados nos clássicos com a Juventus, ganhadora da Serie A – 3 a 2 no primeiro turno e 2 a 1 no segundo. Pelé, que teve atuação mais discreta nestas partidas, obteve maior destaque ao abrir o placar no triunfo por 2 a 0 sobre a Lazio, vice-campeã, e ao comandar a virada e definir o 3 a 2 sobre o Cagliari na 25ª rodada. Contra os sardos, o meia-atacante canhoto marcou duas vezes, e isso se repetiria em confrontos com Brescia e Reggiana.

Os bons números da primeira temporada de Pelé na Itália, porém, rapidamente ficariam para trás – e seu segundo ano na Bota lhe reservaria sensações completamente diferentes do ano de debute na Serie A. Apesar de ter utilizado a faixa de capitão grená em algumas oportunidades, o camisa 10 passou a lidar com lesões e, tendo dificuldades para se manter fisicamente saudável, disputou apenas 18 jogos com a camisa do Torino, com três gols marcados.

Enfraquecido após saídas importantes, como as de Silenzi, Gianluca Pessotto e Stefano Torrisi, a equipe do Piemonte teve um ano atribulado, com três técnicos – Sonetti, Franco Scoglio e Lido Vieri. Tudo isso, somado às frequentes ausências de Pelé, que ainda ficou um mês longe por causa da Copa Africana de Nações, culminou na queda do Torino para a segunda divisão, com oito pontos a menos que o Piacenza, primeiro time fora da zona de rebaixamento. Dessa forma melancólica, Abedi encerrava sua passagem pela Itália com 54 aparições e 13 gols com a camisa granata.

Na janela de transferências do verão europeu de 1996, Pelé rumou à Bundesliga, onde já brilhara seu compatriota Tony Yeboah. O ganês fechou com o Munique 1860 e, em dois anos, ajudou os leões a se classificarem para a Copa Uefa, em 1997, e a permanecerem na elite, em 1998.

Naquele mesmo ano, Abedi se aposentou da equipe nacional de Gana, pela qual disputou cinco vezes a Copa Africana de Nações, sendo eleito para o time do torneio em três dessas ocasiões. Apesar do destaque em seu continente, o meia-atacante jamais conseguiu alcançar, pela seleção, o mesmo patamar em escala global, já que nunca participou de um Mundial. Afinal, os Estrelas Negras só estreariam na competição em 2006 – caberia a André e Jordan Ayew, seus filhos, representar a família no certame. Essa lacuna, no entanto, não tira de Pelé o posto de maior jogador ganês da história.

Já veterano, Pelé tirou o último biênio de sua carreira como jogador para acumular petrodólares: entre 1998 e 2000, defendeu o Al Ain, dos Emirados Árabes Unidos. Além de bastante dinheiro, faturou dois títulos pelo clube do Oriente Médio e pendurou as chuteiras pouco antes de completar 36 anos.

Fora dos campos, Abedi passou a se dedicar a causas sociais no continente africano e a dirigir o Nania, clube que fundou em Gana, em 1998. No comando do time, porém, ele se envolveu no maior escândalo de sua carreira: em 2008, a diretoria foi acusada de comprar adversários numa vitória por 31 a 0 – na mesma rodada da segundona ganesa, um concorrente direto da equipe também goleou, mas por “meros” 29 a 0. O caso gerou massiva repercussão, mas, apesar de uma primeira decisão pela punição dos envolvidos, a sentença foi anulada pelo Comitê de Apelação da Federação Ganesa de Futebol. O caso, vale dizer, não arranhou a imagem de Pelé, que ainda é considerado um herói nacional.

Abedi Ayew, o Abedi Pelé Nascimento: 5 de novembro de 1964, em Kibi, Gana Posição: meia-atacante Clubes como jogador: Real Tamale United (1980-82 e 1985), Al Sadd (1982-83), Zürich (1983-84), Dragons l’Ouémé (1984), Niort (1986-87), Mulhouse (1987), Olympique de Marseille (1987-1988 e 1990-93), Lille (1988-90), Lyon (1993-94), Torino (1994-96), Munique 1860 (1996-98) e Al Ain (1998-2000) Títulos conquistados: Copa Africana de Nações (1982), Copa da África Ocidental (1982, 1983 e 1984), Campeonato Francês (1991 e 1992), Liga dos Campeões (1993), Copa do Presidente dos Emirados Árabes Unidos (1999) e Pro-League (2000) Seleção ganesa: 73 jogos e 19 gols

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