A valentia que resistiu até o último suspiro marca um time de Marrocos que caiu, mas deu gosto de acompanhar | OneFootball

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Trivela

·14 de dezembro de 2022

A valentia que resistiu até o último suspiro marca um time de Marrocos que caiu, mas deu gosto de acompanhar

Imagem do artigo:A valentia que resistiu até o último suspiro marca um time de Marrocos que caiu, mas deu gosto de acompanhar

Marrocos encheu os olhos nessa Copa do Mundo. E não foi necessariamente por lances de efeito ou pelas tramas envolventes – ainda que tenham existido em boa dose. O que fica dessa seleção marroquina é a fé inesgotável de um time que lutou por cada bola e se empenhou até o último instante em que esteve vivo o sonho de se classificar à final. A eliminação diante da França acontece com um gol no início que golpeou a estratégia de Walid Regragui e outro no final que tolheu a persistência dos africanos. Porém, a valentia se grava como a grande identidade de uma equipe de muito, muito coração. Nunca o apelido de “Leões do Atlas” fez tanto sentido. Marrocos encurralou os Bleus em vários momentos, mas a eficiência que faltou de seu lado pintou nos franceses. O desfecho não é o que os marroquinos queriam, mas não diminui o orgulho pela equipe que nunca deixou de acreditar. Que, pela primeira vez, botou a África e também o Mundo Árabe numa semifinal de Mundial.

O gol da França logo de cara poderia fazer Marrocos entrar em parafuso. A fortaleza defensiva imaginada por Walid Regragui de início não se encaixou e os franceses encontraram um buraco que não se viu na defesa marroquina em toda a Copa. Os jogadores tiveram dificuldades para se posicionar e, depois, a lesão de Romain Saïss também pesou. Não era uma situação tão simples para os Leões do Atlas, não apenas pelo placar desfavorável, mas também pelos desfalques. Nayef Aguerd, gigantesco quando esteve em campo, apareceu na escalação prévia e não entrou no jogo. Saïss, o capitão e um dos maiores representantes do espírito desse time, durou apenas 20 minutos na partida.


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Marrocos precisava se virar com sua zaga reserva, com o placar adverso, com um relógio que sufocaria pouco a pouco, com um adversário perigosíssimo nos contra-ataques. Os Leões do Atlas não deixaram de correr riscos. Mas também passaram a arriscar mais. A entrada de Selim Amallah foi importante para devolver o equilíbrio. O meio-campo voltava à sua melhor formação. Azzedine Ounahi se multiplicava em campo, ao passo que Sofyan Amrabat permanecia sempre implacável em qualquer dividida. Os marroquinos também davam suas respostas, num time que trata muito bem a bola entre cadência e dribles. Hugo Lloris faria duas defesaças na primeira etapa.

A reação de Marrocos no primeiro tempo serviu para acalmar o time – ainda dava, afinal. E os Leões do Atlas saíram para abafar na segunda etapa. Com muita energia, como caracteriza a seleção na campanha, tão bem representada por aquele carrinho de Sofyan Amrabat em Kylian Mbappé na linha de fundo, mas também com muito cérebro e bom toque de bola. Se Mbappé poderia ser uma preocupação pelo lado esquerdo do ataque, os marroquinos trataram de dar motivos para ele mesmo se preocupar. Não bastasse a dobradinha entre Achraf Hakimi e Hakim Ziyech pelo lado direito, Sofiane Boufal também passava a entrar por ali. O time pendia a uma só ponta, mas melhorava e assustava bem mais. Enquanto isso, mesmo isolado, Yahia Attiyat Allah participou bem na lateral esquerda. O gol de empate poderia ter saído. A incensada França estava acuada.

Faltou mais capacidade de definição a Marrocos. Apesar do volume de jogo da equipe, não foram muitas finalizações, e menos ainda bolas no alvo de Lloris. Youssef En-Nesyri teve dificuldades e o que a Copa mostrou é que os marroquinos não tinham um centroavante minimamente confiável na reserva. Abderrazak Hamdallah foi muito mal em seus lances, e isso porque o suspenso Walid Cheddira tinha ido pior anteriormente. O desgaste era penoso contra o time – pelos problemas físicos, pela extenuante prorrogação contra a Espanha nas oitavas, pela própria intensidade inerente do estilo aplicado pelos Leões do Atlas.

A França também se acertou, especialmente com a entrada de Marcus Thuram. Randal Kolo Muani virou um super trunfo ao sair do banco e logo marcar o segundo tento do time. Mas, quando faltavam pouco mais de dez minutos e a casa parecia cair para Marrocos, a equipe seguiu acreditando. Como tão bem enfatizou Walid Regragui em sua coletiva antes da partida, uma semifinal de Copa do Mundo talvez só se jogue uma vez na vida. Isso estava claro na mente dos marroquinos. Abde deu um calor a mais e quase o primeiro gol surgiu num bombardeio tremendo, salvo por Jules Koundé em cima da linha. Não restava muito tempo, mas os marroquinos batalharam até o último minuto.

Ninguém deveria aceitar bem uma eliminação, e certamente esse resultado dói por dentro de cada jogador de Marrocos. Eles sabem que este já era o grande momento de suas carreiras e poderia se tornar ainda maior. A final não veio, mas não por falta de gana. A vitalidade dos marroquinos é aquela que a gente gostaria de ver no nosso próprio time, seja ele qual for. Até por isso, ficava mais fácil simpatizar com toda essa epopeia dos Leões do Atlas. Não era apenas o conto de fadas, mas o gosto expresso por disputar uma Copa do Mundo e torná-la a maior possível. Eles honraram o tamanho do Mundial com uma crença inabalável.

Obviamente, muitos jogadores de Marrocos se valorizam com esta campanha. Sofyan Amrabat sai como protagonista e o melhor volante da Copa. Azzedine Ounahi também é um enorme candidato a revelação do torneio, completíssimo. Bono e Youssef En-Nesyri se consagraram como os heróis das classificações nos mata-matas. Nayef Aguerd e Romain Saïss, enquanto inteiros, formaram uma dupla praticamente intransponível na zaga. Achraf Hakimi e Hakim Ziyech foram as lideranças técnicas que se espera de dois jogadores deste calibre, com seus momentos ofensivos, sem renegar o esforço atrás. Sofiane Boufal encantou por seus dribles.

Foi uma história prazerosa de se acompanhar – pela empolgação da torcida, pelo carinho dos atletas com as famílias, pela união de todos esses leões. Méritos também de Walid Regragui, principal mentor não só para moldar esse time competitivo a partir dos talentos à disposição, equilibrado na defesa e talentoso com a bola, mas também pelas ideias que incutiu nos jogadores: o princípio de jogar como equipe acima de tudo e de saber que não há nada maior que uma Copa do Mundo. Sai como o melhor treinador africano em um Mundial. Belgas, espanhóis e portugueses não negam, nem mesmo os franceses.

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