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·19 de outubro de 2022

A sinfonia do meio-campista Mozart, ídolo da Reggina

Imagem do artigo:A sinfonia do meio-campista Mozart, ídolo da Reggina

Quando se escuta o nome “Mozart”, a tendência é que se pense no famoso compositor austríaco, Wolfgang Amadeus Mozart. Às margens do estreito de Messina, porém, boa parte das pessoas vai se recordar do jogador brasileiro homônimo, que teve passagem marcante pela Reggina. Trata-se de Mozart Santos Batista Júnior.

Projeção do Brasil para o mundo

Mozart recebeu este nome por causa de seu avô, compositor de formação. As raízes do jogador se estendem até a Polônia quando, no início do século XX, seus antepassados emigraram para o Brasil em busca de uma vida melhor. Nascido em Curitiba, estreou profissionalmente no futebol em 1999, aos 19 anos de idade, atuando 11 vezes com a camisa do Coritiba.


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O volante despontou como promessa e, pela Seleção sub-23, comandada por Vanderlei Luxemburgo, jogou ao lado de Ronaldinho Gaúcho e Alex no meio-campo. Mozart participou da conquista do Torneio Pré-Olímpico e da excursão canarinho aos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, quando o Brasil parou nas quartas, perdendo por 2 a 1 para Camarões, na prorrogação.

No ano seguinte, se transferiu para o Flamengo, que venceu a concorrência do Valencia, da Espanha. Pelo rubro-negro carioca, participou de alguns amistosos de intertemporada na Espanha, enfrentando Atlético de Madrid e Sevilla. Nas arquibancadas, estava presente um olheiro da Reggina, que tinha sido inicialmente designado para observar o lateral-direito Alessandro. Porém, o profissional acabou se impressionando com um meio-campista de cachos loiros, de estatura média (1,74 m), levemente atarracado e de nome curioso. Era ele, Mozart. Sem render no Flamengo e irritado com o atraso nos salários, o paranaense viu com bons olhos a mudança para o continente europeu.

O maestro de Reggio Calabria

Com o aval do treinador Franco Colomba, Mozart acertou com a Reggina e chegou ao novo clube com a dura missão de substituir Roberto Baronio e Andrea Pirlo, duas peças fundamentais que ajudaram a manter os amaranto na Serie A, mas que, por estarem emprestados, tiveram de retornar às suas respectivas equipes – Lazio e Inter, respectivamente. Por conta da grande pressão sob seus ombros na tarefa de substituí-los, enfrentou dificuldades e lutou para se adaptar ao futebol italiano e sua cultura. Seu primeiro ano em Reggio Calabria foi, sem dúvidas, o menos empolgante, e ele ficou mais à sombra de jogadores mais experientes, como Francesco Cozza, José Mamede, Andrea Zanchetta, Andrea Bernini e Ezio Brevi.

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Volante de muita pegada, Mozart se tornou ídolo e até chegou a ser capitão da Reggina (AFP/Getty)

O volante estreou na derrota por 2 a 0 para a Juventus, pela 5ª rodada da Serie A. Ao todo, o brasileiro disputou 12 partidas em seu primeiro ano na Bota e marcou uma vez, contra o Napoli, na acachapante derrota por 6 a 2 para os azzurri. A Reggina terminou o campeonato na 15ª colocação e foi rebaixada após perder o spareggio para o Verona, por conta da regra do gol marcado fora de casa. Paradoxalmente, o rebaixamento acabou sendo “benéfico” para Mozart, que se tornaria um dos alicerces do time.

A Serie B foi um ponto de virada para o brasileiro, que atuou em 36 partidas e anotou dois tentos. O primeiro veio através de um belo chute colocado, contra o Cittadella (2 a 0 fora de casa) e o segundo, novamente pisando na área adversária como elemento surpresa para arrematar, contra o Crotone (2 a 0). “Lembro-me do gol contra o Crotone na temporada 2001-02, que coincidiu com a primeira vez no estádio da minha filha nascida em Reggio Calabria. Ganhamos por 2 a 0 e aquele gol teve um significado muito especial para mim”, disse Mozart certa vez.

Colomba o escalara como o responsável por fazer o jogo fluir em seu sistema 3-4-1-2, e o resultado foi positivo, com a Reggina alcançando o terceiro lugar e, por consequência, o retorno imediato à Serie A. Mozart regia o time como um verdadeiro maestro, fazendo a bola ir de um lado para o outro, com um preciso pé esquerdo.

Na temporada seguinte, o presidente Pasquale Foti, figura certa em todos os treinamentos da equipe, contratou Shunsuke Nakamura, estrela em ascensão do futebol japonês, além do atacante David Di Michele, proveniente da Udinese, e do volante paraguaio Carlos Humberto Paredes, que formaria dupla no meio com Mozart. As expectativas eram boas, mas a saída de Colomba para o Napoli e a chegada de Bortolo Mutti gerou impacto. Um início de campanha catastrófico, com apenas uma vitória nas primeiras 13 rodadas, resultou na demissão do técnico e na troca por Luigi De Canio.

A alteração no comando técnico prejudicou Mozart, que viu o capitão Cozza e Nakamura ficarem à sua frente na hierarquia do elenco. O brasileiro retornou ao onze inicial na parte final da temporada e anotou um importante tento, que selou o empate em 2 a 2 contra o Piacenza, fora de casa, aos 32 minutos do segundo tempo. Aquele jogo foi de extrema importância na briga contra o rebaixamento. A Reggina teve de passar por mais um spareggio, agora contra a Atalanta. Em casa, no Oreste Granillo, empate sem gols. Na volta, em Bérgamo, Cesare Natali pôs os orobici na frente, mas Cozza e Emiliano Bonazzoli, contratado em janeiro de 2003, garantiram a virada dos visitantes, que conseguiram uma histórica permanência na Serie A.

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Além de ter jogado pela Reggina, Mozart vestiu a camisa amaranto do Livorno, seu último time na Itália (Getty)

Mozart estava em perfeita conexão com a capital calabresa. Ele tinha o carinho de todos não apenas por conta do que fazia em campo, mas porque também era uma figura simpática e carismática. Ele inclusive chegou a aprender algumas palavras no dialeto local, o greco-calabrês, com Mimmo Tavella, histórico ex-funcionário da Reggina que costumava saudá-lo com expressões típicas. Em 2003-04, enfrentou seu ídolo de infância Fernando Redondo, que jogava no Milan. Com mais uma manutenção na Serie A obtida após um 13º lugar, a temporada 2004-05 foi a última do paranaense defendendo os amaranto, justamente no ano em que ele recebeu a braçadeira de capitão.

Sob o comando de Walter Mazzarri, a Reggina alcançou um louvável 10º lugar. “Mazzarri me impressionou mais do que os outros por sua maneira de treinar. Hoje existem outros técnicos muito bons e gosto de vê-los. Como [Maurizio] Sarri, que conheço desde a época do Empoli, [Antonio] Conte, que considero uma referência por sua abordagem às competições, e [Carlo] Ancelotti, o melhor para gerenciar a equipe”, elogiou Mozart.

Rússia, Brasil, outra vez Itália e China

Em 2005, o volante vinha sendo pretendido por Juventus, Roma, Fiorentina, Palermo, Fenerbahçe e Spartak Moscou. A Velha Senhora esteve perto de contratá-lo: o dirigente bianconero Luciano Moggi tinha boa relação com Foti, e Fabio Capello, comandante da Juve, aprovava o nome do brasileiro. Todavia, mesmo passando por dificuldades financeiras e incapaz de manter um de seus principais ativos, a Reggina optou por vendê-lo ao Spartak, com o argumento de que não gostariam de vê-lo reforçando outra equipe italiana. Com isso, Mozart encerrou sua passagem pela Calábria com 149 aparições e 12 gols marcados.

Na capital russa, estreou na Liga dos Campeões e teve conflitos com o treinador Vladimir Fedotov. Quando o desafeto foi mandado embora e Stanislav Cherchesov assumiu em seu lugar, o brasileiro voltou a ter prestígio. Porém, em 2009, a chegada de um novo técnico, o dinamarquês Michael Laudrup, marcou o fim de sua passagem na Rússia – o contrato foi rescindido em comum acordo. Durante o período, sofreu uma grave lesão e foi até a Itália ser examinado por Pasquale Favasuli, médico da Reggina, em quem tinha plena confiança.

A pedido de Luxemburgo, seu ex-treinador na seleção olímpica, retornou ao Brasil para jogar pelo Palmeiras, mas a experiência durou apenas três meses: foi abreviada após uma troca no comando técnico da equipe alviverde, com a chegada de Muricy Ramalho. Então, no princípio de 2009-10, o volante acertou sua volta à Itália, por uma temporada, para defender o Livorno – que, diga-se de passagem, tem a mesma cor social da Reggina.

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No fim de sua trajetória como jogador, no Livorno, o volante paranaense foi vítima de lesões (Getty)

No entanto, ao contrário do sucesso que viveu no sul da Itália, Mozart não se destacou na Toscana. Convivendo com frequentes dores no joelho, o volante teve de ser deixado de fora de várias rodadas da Serie A – das 38, jogou 26, sendo 21 como titular. Com pouco a oferecer, devido aos problemas físicos, não conseguiu contribuir muito com os labronici, que amargaram a lanterna do campeonato e foram rebaixados.

De contrato encerrado e sofrendo com o joelho, Mozart decidiu se aposentar em 2010. Dois anos depois, ainda retornou aos gramados para uma aventura no futebol chinês, mas não disputou partidas oficiais pelo Shanghai Shenxin e aposentou-se definitivamente aos 32.

O treinador produtor de cachaça

Mozart seguiu o caminho de tantos outros e optou por ser treinador. Iniciou sua nova carreira em 2013, no Canoinhas, que disputava as divisões de acesso do Campeonato Catarinense. Depois teve rápida passagem pelo Jaraguá, também de Santa Catarina. Regressou a Reggio Calabria na temporada 2014-15 para ser colaborador na comissão de seu amigo Cozza, então comandante dos amaranto. Por um curto período após a demissão de Ciccio, o paranaense assumiu o cargo de técnico ao lado de Pierantonio Tortelli. A experiência durou apenas 20 dias e, no fim, a Reggina escapou do descenso para a quarta divisão ao vencer as duas partidas contra o Messina, seu maior rival, no spareggio.

Além disso, Mozart se tornou um empresário bem sucedido em produção de cachaça, ramo no qual ele começou a se aventurar em 2005, ainda na Itália, quando viu a oportunidade de investir no marketing de uma fábrica que estava quase falindo. Sua empresa exporta produtos para Estados Unidos, Canadá e Suíça e, segundo o ex-volante, o goleiro Marcos, ídolo do Palmeiras e pentacampeão do mundo pelo Brasil em 2002, era um dos seus principais clientes.

Em 2016, o ex-volante obteve a licença de treinador para comandar equipes da Serie C da Itália, mas quis o destino que ele retornasse ao Coritiba, onde tudo começou. Treinou desde as categorias de base até chegar ao time principal, quando foi assistente. Trabalhou no CSA, na segunda divisão do Brasil, e depois foi para a Chapecoense, tendo sido demitido com apenas oito jogos, após perder a final do Campeonato Catarinense para o rival Avaí. Em 2021, assumiu o Cruzeiro, mas deixou a Raposa no mesmo ano e retornou ao clube alagoano. Atualmente, é técnico do Guarani e disputa a Série B do Brasileirão.

Mozart Santos Batista Júnior Nascimento: 8 de novembro de 1970, em Curitiba (PR) Posição: volante Clubes: Coritiba (1999-2000), Flamengo (2000), Reggina (2000-05), Spartak Moscou (2005-09), Palmeiras (2009), Livorno (2009-10) e Shanghai Shenxin (2012) Títulos: Campeonato Paranaense (1999), Campeonato Carioca (2000) e Torneio Pré-Olímpico Sul-Americano (2000) Carreira como técnico: Canoinhas (2013), Jaraguá (2013), Coritiba (2020), CSA (2020-21 e 2021-22), Chapecoense (2021), Cruzeiro (2021) e Guarani (2022-hoje) Seleção olímpica brasileira: 15 jogos e 1 gol

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