Última Divisão
·17 de janeiro de 2024
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·17 de janeiro de 2024
Por Antonio Oliveira
A Copa do Mundo de 1994 é um marco para o futebol brasileiro em função da conquista do tetracampeonato. A final emocionante contra a Itália, as grandes atuações de Romário e companhia, além do clássico “É tetra!” na voz de Galvão Bueno foram alguns momentos que marcaram aquele mês de competição para os brasileiros. No entanto, não foi só para o nosso país que a Copa nos EUA teve um significado importante, já que seleções como Suécia, Bulgária e Romênia surpreenderam o mundo e protagonizaram grandes campanhas, eliminando equipes favoritas ao título. Por outro lado, times como Alemanha e Argentina – finalistas na edição anterior – deixaram a desejar e foram eliminados de forma precoce.
Brasil e Itália eram vistos como os principais candidatos ao título e comprovaram a afirmação ao disputarem a grande final. Além deles, a Alemanha, campeã em 1990, também era tida como favorita pela tradição e por ter mantido a base vitoriosa daquele ano. Entretanto, outra seleção foi por alguns anos uma ameaça às grandes potências para a Copa do Mundo de 1994: a Iugoslávia.
Em meio a uma geração promissora e algumas conquistas, conflitos devastadores provocaram a divisão deste país em alguns territórios e impediram a participação da equipe naquele Mundial. Desde então, o imaginário dos amantes do esporte pensou muito até onde chegaria a seleção iugoslava em 1994.
No ano de 1987, a Iugoslávia iniciava um processo curto que encantou o mundo do futebol. No Mundial Sub-20 disputado no Chile, a seleção sagrou-se campeã de forma invicta, batendo o Brasil nas quartas de final e a Alemanha Ocidental na decisão. Dentre os destaques no torneio, o meia Robert Prosinečki defendia o Dínamo Zagreb, assim como o atacante Zvonimir Boban. Enquanto isso, Davor Šuker – artilheiro da equipe – era jogador do Osijek, e Predrag Mijatović jogava pelo Budućnost Titogrado. Vale destacar que os quatro atletas atuaram por grandes clubes europeus nos anos seguintes e, assim como o restante do elenco, defendiam equipes da Iugoslávia em 1987.
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Até o ano da competição sub-20, a seleção iugoslava já havia participado de sete Copas do Mundo, tendo como melhores campanhas o terceiro lugar em 1930 e o quarto em 1962. Em Eurocopas, foram quatro disputas e a equipe foi vice-campeã, em 1960 e 1968. Ausente da principal competição de seleções em 1986, a nova geração que surgia entusiasmou os iugoslavos, que chegaram na Copa de 1990 como um time disposto a incomodar os favoritos.
Para a Copa de 1990, a Iugoslávia não era candidata ao título, mas corria por fora entre as equipes que poderiam dificultar o caminho das grandes seleções. O torneio na Itália era um ótimo momento para unir a experiência de atletas veteranos, como Safet Sušić, ídolo do PSG, e Zlatko Vujovic, que jogava no Bordeaux, com os promissores atletas campeões sub-20. Além disso, era a chance de ver os astros da seleção – Dragan Stojković e Dejan Savičević – dividindo a responsabilidade com outros jogadores.
Na primeira rodada, a equipe encarou a poderosa Alemanha, que venceu o torneio. O placar de 4 a 1 mostrou a superioridade adversária nos 90 minutos e fez com que os iugoslavos tratassem os dois jogos seguintes como verdadeiras finais.
Diante da Colômbia de Valderrama e Higuita, no jogo seguinte, a equipe venceu por 1 a 0 em uma partida marcada pela força do meio de campo que tinha Stojković, Sušić e Jozić – autor do gol da vitória.
No jogo final da primeira fase, contra os Emirados Árabes Unidos, uma goleada por 4 a 1 confirmou a classificação para a próxima fase com a segunda posição do grupo.
Nas oitavas, a adversária era a Espanha, que tinha em seu elenco uma mescla de jogadores do pentacampeão nacional, Real Madrid, como o capitão Emilio Butragueño, e do Barcelona de Johan Cruijff, como Julio Salinas. Após um primeiro tempo de muita imposição física, as duas equipes foram para os vestiários com o placar zerado.
Na segunda etapa, Dragan Stojković deu início a uma das melhores atuações de sua carreira. Aos 33 minutos, fintou um defensor espanhol de forma plástica e abriu o placar. Já aos 47 fez um golaço de falta que tirou o empate do placar, visto que Salinas havia empatado aos 38. A partida do camisa 10 rendeu a vaga nas quartas de final para enfrentar a Argentina.
Contra os argentinos, o sonho iugoslavo caiu por terra. Com um a menos desde os 30 do primeiro tempo, a equipe balcânica foi superior com a bola rolando, mas tinha dificuldades para furar o bloqueio da defesa argentina. Nas penalidades, os craques Maradona e Stojković desperdiçaram e o goleiro Goycochea foi o herói da classificação dos sul-americanos.
Apesar da eliminação, a Copa serviu de aprendizado para a equipe, principalmente para os jovens que estavam disputando um grande torneio pela primeira vez. Além das boas atuações individuais do 10 Stojković, Robert Prosinečki foi outra grata surpresa. O craque do Mundial Sub-20 de 1987 iniciou a competição como reserva e foi ganhando espaço no decorrer das partidas, sendo eleito o melhor jogador jovem da competição.
Se a seleção da Iugoslávia ganhava força com o passar dos anos, faltava a consolidação dos times do país nos contextos europeu e mundial.
Na década de 1980, o Estrela Vermelha venceu cinco vezes a primeira divisão nacional e trêz vezes a copa, além de figurar de forma constante na Liga dos Campeões. Apesar das boas campanhas no país, o sucesso para o mundo veio apenas em 1991, um ano após a boa campanha da Iugoslávia na Copa do Mundo.
Com quatro atletas que estiveram na Copa do Mundo e outros que passaram a integrar a seleção nacional, o Estrela Vermelha sagrou-se campeão da então Copa dos Campeões da Europa após vencer quatro confrontos de ida e volta, além da final em jogo único. Na semifinal, o clube bateu o Bayern de Munique por 4 a 3, no placar agregado: 2 a 2 em Belgrado, e 2 a 1 na cidade alemã.
Na grande final, o time enfrentou o Olympique de Marseille, que seria campeão do torneio dois anos depois e foi o grande time francês da década. Com um grande elenco, a equipe francesa tinha no banco de reservas o camisa 10 da Iugoslávia, Dragan Stojković, que havia se transferido do próprio Estrela Vermelha após o Mundial. A partida terminou com o placar zerado e, nos pênaltis, o time do leste europeu venceu por 5 a 3.
Meses depois, em dezembro, o time iugoslavo também ganharia o Mundial Interclubes, contra o Colo Colo, campeão da Libertadores daquele ano. Com dois gols de Jugović e um de Pančev, os europeus venceram de forma tranquila e conquistaram o título que valia como um Mundial de Clubes, na época.
O período pós-Copa de 1990 serviu para consolidar jogadores do Estrela Vermelha como grandes astros do futebol mundial. Savičević foi vendido ao Milan em 1992 e conquistou o título europeu com os italianos, além de ter sido o segundo melhor jogador do mundo. Prosinečki foi contratado pelo Real Madrid e, posteriormente, jogou pelo Barcelona. Pančev venceu a Copa da Uefa 1993/1994 com a Inter de Milão. Jugović e Mihajlović também foram ao futebol italiano, onde atuaram juntos na Sampdoria e na Lazio.
Atualmente formado por seis repúblicas e duas regiões autônomas, o território da antiga Iugoslávia sempre foi composto por uma pluralidade de etnias e religiões.
Durante 35 anos, o país foi comandado por Josif Tito, um líder histórico que, em função da sua aprovação popular e influência política, conseguiu promover a boa convivência entre os diferentes povos. No entanto, após a sua morte em 1980, a Iugoslávia foi perdendo força enquanto nação, permitindo a ascensão de movimentos separatistas dentro do território, que provocaram alguns conflitos armados.
No ano de 1991, com as independências de Croácia e Eslovênia, jogadores dos dois países não podiam mais ser convocados pela Iugoslávia. As baixas na equipe foram consideráveis, principalmente em função dos croatas que eram a oriundos região de maior predomínio no elenco, ao lado dos sérvios. Os atacantes Davor Šuker e Zvonimir Boban e o meia Robert Prosinečki foram as principais perdas e eram vistos como virtuais titulares na época.
Apesar da ausência de atletas da Croácia, a Iugoslávia conseguiu manter uma boa base e garantiu vaga na Eurocopa de 1992, após terminar em primeiro lugar no grupo que ainda tinha Dinamarca, Irlanda do Norte, Áustria e Ilhas Faroe. Mesmo com a classificação, as autoridades de Fifa, Uefa e ONU decidiram excluir a seleção do torneio, pois entendiam que os conflitos na região, como a Guerra na Bósnia – que colocava bósnios, croatas e sérvios uns contra os outros – podiam incitar a violência nos estádios e seus arredores. Além disso, os órgãos envolvidos na decisão entendiam que a participação da Iugoslávia podia transmitir a ideia de conivência com a situação catastrófica que o território enfrentava. Sendo assim, a Dinamarca ficou com a vaga – e foi campeã da Euro 1992.
É importante lembrar que, mesmo se disputasse a competição, a Iugoslávia não teria outros importantes jogadores, além dos croatas. O técnico da equipe, Ivan Osim, e os demais descendentes bósnios optaram por não ir à seleção para a disputa da Eurocopa, pois entendiam que a região em que nasceram passava por um momento delicado, principalmente a capital Sarajevo. O atacante Darko Pančev, um dos craques da época, também havia abandonado o time, já que a Macedônia – sua nação – estava em processo de independência.
Em função dos conflitos, a Iugoslávia foi proibida de disputar competições e só retornou em 1996 para a disputa das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998. Na ocasião, o elenco era composto apenas por jogadores sérvios e montenegrinos, e garantiu vaga no torneio após bater a Hungria nos playoffs.
A grande esperança desta geração era a Copa do Mundo de 1994, disputada nos Estados Unidos. Os campeões mundiais sub-20 em 1987 estavam mais maduros, diversos jogadores atuavam nas principais ligas europeias e o Estrela Vermelha – principal time do país – tinha vencido a Liga dos Campeões em 1991. No entanto, o mundo do futebol não pôde ver a geração iugoslava atuando junta, e o impacto que essa seleção poderia ter causado fica no imaginário das pessoas.
Na edição em que o Brasil sagrou-se tetracampeão mundial, equipes que não eram favoritas surpreenderam, enquanto grandes potências como França e Inglaterra ficaram de fora. Suécia e Bulgária e Suécia, por exemplo, chegaram até as semifinais, terminando respectivamente em terceiro e quarto lugares. Já a Romênia, que foi até as quartas de final, eliminou a poderosa Argentina nas oitavas e por pouco não foi mais longe.
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Pensando no elenco das seleções e na força que tinham dentro do campo, a Iugoslávia poderia estar entre as três melhores da Copa e faria uma ótima semifinal contra Brasil ou Itália. Mas, afinal, qual seria o possível time iugoslavo em 1994?
O goleiro seria Dražen Ladić, ídolo do Dínamo Zagreb que defendeu o clube por 14 anos. Na defesa, Miroslav Đukić – duas vezes vice-campeão da Liga dos Campeões com o Valencia e ídolo do Deportivo La Coruña – e Slaven Bilić, técnico da Croácia entre 2006 e 2012, fariam a dupla de zaga. Branko Brnović, que atuava no Espanyol em 1994 seria o defensor pela direita, e Siniša Mihajlović – histórico jogador do futebol italiano, com passagens vitoriosas por Lazio e Inter de Milão – faria a saída de bola pelo lado esquerdo.
No meio de campo, Vladimir Jugović, campeão europeu com o Estrela Vermelha e com a Juventus, seria o atleta mais recuado. A frente dele, um trio de dar inveja em qualquer seleção, composto por Prosinečki, que estava no Real Madrid em 1994; Boban e Savičević, ambos vencedores da Liga dos Campeões com o Milan no mesmo ano.
E para fechar a seleção, dois camisas 9 que fizeram sucesso no futebol espanhol. Davor Šuker, ex-Sevilla e Real Madrid, que foi o artilheiro da Copa do Mundo de 1998, na França, e Predrag Mijatović, que jogava no Valencia em 1994 e foi campeão europeu com o Real Madrid, em 1998.
Enquanto país, a Iugoslávia deixou de existir em 2002. Desde então, a Croácia é o país oriundo do território que mais se deu bem no futebol, chegando a uma final de Copa do Mundo, em 2018, e ao terceiro lugar, em 1998 e 2022. A Sérvia tem fortalecido o seu estilo de jogo e esteve nos Mundiais de 2018 e de 2022, mas com uma boa geração chegando ao final de seu ciclo. Bósnia, em 2014, e Eslovênia, em 2002 e 2010, são os outros países que disputaram o principal torneio de seleções.
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