A Salernitana desabou em casa e mesmo assim conseguiu a milagrosa salvação, graças à incompetência do Cagliari | OneFootball

A Salernitana protagonizou uma das fugas do rebaixamento mais surreais da história da Serie A. Primeiro, pela reviravolta. Os grenás foram o pior time do campeonato com sobras durante o primeiro turno, mas iniciaram uma reação incrível sob as ordens do técnico Davide Nicola. Apesar disso, os riscos de queda permaneciam na rodada final. E nem o desabamento da equipe dentro de campo prejudicou. A Salernitana dependia apenas de si, mas acabou goleada pela Udinese por 4 a 0 dentro de casa. A torcida revoltada chegou a atirar sinalizadores em campo, o que paralisou o duelo. A sorte, porém, estava do lado dos grenás. O Cagliari, que se salvaria com uma vitória, só empatou por 0 a 0 na visita ao Venezia. Assim, é a própria Salernitana quem fica. A festa pela permanência foi linda, com os torcedores agora exaltando os jogadores e Davide Nicola puxando a vibração.

A Salernitana entrou na zona de rebaixamento na segunda rodada e não saiu mais até o fim do primeiro turno. A equipe mudou de treinador e nem isso resolveu, com apenas duas vitórias na metade inicial da campanha. Os grenás claramente eram mais fracos que seus adversários e ainda tinham um imbróglio para resolver nos bastidores. O clube pertencia antes a Claudio Lotito, também dono da Lazio, que precisava se desfazer de uma das agremiações depois do acesso da Salernitana à Serie A. A mudança na direção só aconteceu no último dia possível, antes da virada do ano, quando a ameaça de rebaixamento administrativo era evidente. Isso permitiu também que o elenco ganhasse novas possibilidades no mercado de janeiro, com reforços garantidos pelos novos donos.

De fato, a Salernitana melhorou sua equipe com as contratações, mesclando jogadores experientes como Luigi Sepe e Simone Verdi, a apostas, como o brasileiro Éderson – um dos melhores do time no segundo turno. Ainda assim, o salto da equipe veio mesmo a partir da contratação de Davide Nicola em fevereiro. O treinador responsável por uma escapada espetacular com o Crotone teria outra missão hercúlea na Serie A. A melhora se tornou significativa. Primeiro, os grenás começaram a somar empates, inclusive contra adversários de peso. Já a partir de abril, foram quatro vitórias – diante de Sampdoria, Venezia, Udinese e Fiorentina. Parecia impossível, mas o time deixaria o Z-3 nesta reta final.

A salvação poderia ter vindo antes, mas a Salernitana acabou freada por alguns empates na sequência de maio, inclusive no confronto direto em casa com o Cagliari. Mesmo assim, os grenás ficavam um ponto à frente dos rossoblù para a rodada final. A Salernitana recebia em casa a Udinese, sem mais interesse na campanha, e teria o apoio de sua calorosa torcida. Enquanto isso, o Cagliari pegava o rebaixado Venezia fora de casa e precisaria contar com uma combinação de resultados.

A Salernitana viveu um início de partida desastroso. A Udinese marcou o primeiro gol aos seis minutos, num chute colocado de Gerard Deulofeu. Ilija Nestorovski ampliou aos 34, de cabeça, e Iyenoma Udogie deixou o seu numa jogadaça, mandando no ângulo aos 42. A Salernitana parava no goleiro Daniele Padelli e na trave, mas agradeceu a Vid Belec nos acréscimos, quando o arqueiro pegou o penal de Roberto Pereyra. A tensão em Salerno era clara, com a revolta da torcida nas arquibancadas. O segundo tempo começou e Pereyra fez mais um, o que desencadeou mais tumulto nas arquibancadas, com sinalizadores atirados contra o argentino. A partida pareceu a um triz de ser suspensa, mas acabou retomada. Todavia, os anfitriões pararam na trave de novo e também viram os friulani acertarem o poste na tentativa do quinto. Restava torcer pelo Venezia.

Em Veneza, o Cagliari bem que tentou a vitória. O primeiro tempo já seria dominado pelos sardos. O Venezia chegou a carimbar a trave, mas os visitantes tiveram mais chances e pararam nas boas defesas do goleiro Niki Mäenpää. O finlandês, aliás, é que acabou sendo o salvador da Salernitana. O segundo tempo teria um abafa constante do Cagliari, com maiúsculas 24 finalizações. Apenas cinco iriam no alvo e Mäenpää estava com o corpo fechado, colecionando novos milagres. Na reta final, os rossoblù foram para o tudo ou nada e tentaram bombardear a bola na área. Sem sucesso. O empate culminava no rebaixamento.

As notícias de Veneza se confirmaram em Salerno antes do apito final, com uma explosão da torcida e do banco de reservas. Com o empate do Cagliari selado, os grenás entraram em transe. O árbitro teve o bom senso de encerrar o jogo da Salernitana sem nem cumprir os oito minutos de acréscimos e, assim, permitir a celebração sem amarras. Os sinalizadores da torcida puderam ser acesos para motivos pacíficos e a vibração era imensa, de uma torcida que empurrou sua equipe já na reta final. Davide Nicola não se continha. O treinador deu uma volta olímpica aos saltos, antes de abraçar Franck Ribéry – que, mesmo sendo coadjuvante na campanha, não largou o barco e serviu de liderança nos bastidores. Nicola seria jogado pelo alto, repetindo a façanha vista também nos tempos de Crotone. Se antes ele cruzou a Itália com sua bicicleta, sua promessa agora é ir até o Vaticano a pé.

A Salernitana encerra a campanha com 31 pontos, 18 deles conquistados por Davide Nicola. Os grenás sabem que a luta pela permanência será árdua de novo em 2022/23, mas se dão ao direito de festejar. O Cagliari, por sua vez, consuma o descenso com 30 pontos. Os sardos tiveram bons elencos nos últimos anos e não conseguiram corresponder. Mesmo com a grande fase de João Pedro, autor de 13 gols na campanha, a queda vem. O retorno à segundona acontece seis anos depois do acesso mais recente. Além dos rossoblù, Venezia e Genoa já estavam rebaixados antes da rodada final.

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