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Trivela

·08 de outubro de 2022

A história do Prishtina, o representante do orgulho kosovar no antigo Campeonato Iugoslavo

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Kosovo atravessa o seu melhor momento no futebol de clubes desde que ganhou sua admissão junto à Uefa. O Ballkani colocou a bandeira da nação na fase de grupos da Conference League pela primeira vez e faz bonito, com a liderança de um grupo equilibradíssimo, após empatar com o Cluj e derrotar o Sivasspor. A primazia da equipe que estreia nas competições continentais lembra outra história imponente dos kosovares dentro de campo, em outros tempos. O Prishtina era o grande orgulho de seus compatriotas no futebol, por representar a então província autônoma na elite do Campeonato Iugoslavo, em tempos de perseguição aos albaneses étnicos – que são maioria no território de Kosovo. Os alviazuis fizeram bonito em cinco campanhas seguidas na primeira divisão durante a década de 1980, com desempenhos fantásticos dentro de casa e uma média de público altíssima naquele contexto. De quebra, o Prishtina ainda proporcionou a primeira aparição de um clube kosovar numa competição internacional, como vice-campeão na extinta Copa Mitropa.

O futebol começou a ser praticado em Kosovo a partir de 1919. Soldados que lutaram na Primeira Guerra Mundial voltavam à região, assim como estudantes de famílias ricas que cursavam universidades em outros países mais desenvolvidos da Europa. Foi através de um universitário, aliás, que a primeira bola de futebol chegou à cidade de Pristina, importada da França, após o rapaz kosovar receber o presente de um médico em Grenoble. Depois de três anos em que a prática do esporte começou a se popularizar na cidade de 16 mil habitantes, o primeiro clube local foi fundado. O Kosova era composto basicamente por soldados que fizeram parte de uma guarnição de Pristina na guerra. Era o embrião do futuro Prishtina.


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(Facebook FC Prishtina vitet e arta)

Outra equipe importante da cidade era o Bashkimi, com um elenco composto por artesãos. Logo se tornou uma força local. Depois da Segunda Guerra Mundial, as duas agremiações juntaram forças. Em 1947, o Bashkimi e o Kosova se uniram para dar origem ao Proleter, que ganhava ainda mais relevância por reunir os melhores jogadores kosovares. Muitos atletas tinham combatido na guerra e se tornaram figuras proeminentes no contexto sociocultural local, inclusive com ascensões políticas. E a equipe das divisões de acesso deixou ótima impressão na primeira edição da Copa da Iugoslávia, em 1947. O Proleter passou pelas duas primeiras fases, deixando o Rabotnicki Skopje pelo caminho, e sucumbiu apenas diante do futuro campeão Partizan nas oitavas.

O Proleter ainda seria rebatizado como Jedinstvo em 1949, até passar por novas fusões e readotar o nome de Kosova em 1951. Seria um momento importante, em que a agremiação foi campeã regional e inaugurou seu novo estádio, que continua usando quase sete décadas depois. Por fim, a adoção do nome KF Prishtina se tornou definitiva em 1953. A equipe dominava as competições kosovares e buscava o acesso no Campeonato Iugoslavo, regionalizado em suas divisões de acesso. Um passo maior se deu em 1960/61, com a promoção inédita à segundona nacional. O jogo decisivo teve uma goleada por 7 a 1 sobre os sérvios do Kralevës. Depois disso, o time se estabilizou na segunda divisão e chegaria a disputar os playoffs de acesso à elite em 1971/72, mas seria eliminado pelos montenegrinos do Podgorica. Já em 1972/73, a frustração nos playoffs ocorreu diante dos croatas do Osijek.

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O sonho do Prishtina terminou em tombo quando o time foi rebaixado para a terceira divisão em 1976, de volta aos níveis regionais em Kosovo. Eram anos instáveis, com o acesso em 1978, mas outra queda na temporada seguinte. A crise ajudou os alviazuis a contarem com apoio de autoridades locais e as estruturas internas ganharam mais organização. A partir da promoção para a segundona em 1979, o Prishtina decolou. A agremiação fortaleceu suas categorias de base e passou a reunir talentos de Kosovo, assim como contratava reforços pontuais de outras repúblicas iugoslavas. A partir de então, formaria-se a chamada “geração dourada”.

O principal craque a despontar no Prishtina neste momento foi o atacante Fadil Vokrri. Nascido na cidade de Podujevo, ele atuou nas categorias de base do Llapi, principal clube local. Sua transferência para o Prishtina se deu em 1980, quando fez sua estreia na equipe principal aos 20 anos. Seria uma fonte de gols importante, assim como deslumbrava com seus dribles em velocidade, chamado de “Maradona kosovar”. Juntava-se a outros colegas mais experientes, entre eles o meia Agim Cana – pai de Lorik Cana, capitão histórico da seleção da Albânia na Euro 2016. Já no banco de reservas, o trabalho deu um salto a partir da contratação de Béla Pálfi. O sérvio de origem húngara chegou a atuar na seleção da Iugoslávia, presente na Copa de 1950, e fez carreira no Estrela Vermelha. Como técnico, dirigiu clubes tradicionais sobretudo da Grécia, até desembarcar em Kosovo já veterano em 1981. Foi quem garantiu um maior impacto ao coletivo dos alviazuis.

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O Prishtina se tornou uma das equipes mais fortes da segundona, mesmo que lidasse com a repressão política em sua região. Em 1981, massivos protestos aconteceram em Kosovo, iniciados na Universidade de Pristina, com pedidos de maior autonomia em relação à Iugoslávia. A maioria étnica albanesa da então província autônoma, parte da República da Sérvia, se dizia isolada culturalmente do resto do país e reclamava das desigualdades econômicas em relação aos vizinhos. Sob motes nacionalistas, embates com a polícia se tornaram comuns. Kosovo entrou em estado de emergência, com 30 mil soldados nas ruas da província. Foram pelo menos 11 mortos e mais de 4 mil presos nos confrontos. Diante do estado de exceção, as partidas de futebol sequer podiam ser realizadas na cidade e os alviazuis atuavam na cidade sérvia de Kragujevac.

Apesar das limitações em parte da campanha, o Prishtina terminou na oitava colocação da segundona em 1981/82. O clube ganhava uma importância local mais forte pelo contexto político. E conseguiu o inédito acesso à primeira divisão do Campeonato Iugoslavo em 1982/83. Com arquibancadas lotadas por 30 mil torcedores e um time talentoso treinado por Béla Pálfi, os alviazuis carimbaram a façanha. Na época, a segundona era dividida em dois campeonatos diferentes, em que só o campeão de cada um subia. O Prishtina dominou a porção oriental, que envolvia também adversários de Sérvia, Montenegro e Macedônia do Norte.

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Aquela era apenas a segunda vez que um clube de Kosovo disputava a primeira divisão do Campeonato Iugoslavo. A primeira experiência, entretanto, durou pouco. O Trepca estreou em 1977/78, mas caiu imediatamente na lanterna do campeonato e não mais voltou. Seria vice-campeão da Copa da Iugoslávia naquela mesma temporada, derrotado na decisão para o Rijeka. O clube era ligado a kosovares de etnia sérvia, maioria na cidade de Mitrovica do Norte, embora a equipe também contasse com uma minoria albanesa. Os Mineiros se cindiram 14 anos depois, em 1992, por consequência da Guerra da Iugoslávia: enquanto o KF Trepça reúne albaneses étnicos e disputa rotineiramente a primeira divisão do Campeonato Kosovar, o FK Trepca aglutina a maioria sérvia da cidade e chegou a figurar na elite do Campeonato Sérvio.

Para os kosovares albaneses, de qualquer maneira, aquela estreia do Prishtina no Campeonato Iugoslavo representava bastante – ainda mais pelo pano de fundo efervescente de um país que ruía, com mais repressão aos nacionalismos na sequência da década de 1980. Na elite, o Prishtina enfrentava clubes de todas as outras repúblicas iugoslavas. Cinco times sérvios (contando o Prishtina), cinco croatas e cinco bósnios dominavam a tabela. Buducnost (Montenegro), Vardar (Macedônia do Norte) e Olimpija Ljubljana (Eslovênia) completavam a lista. E o Prishtina faria bonito, mesmo com a falta de experiência num nível mais alto.

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Àquela altura, o técnico Béla Pálfi tinha deixado o clube, já aos 60 anos. Seu substituto era 22 anos mais jovem: o bósnio Fuad Muzurovic, defensor importante nos tempos de Sarajevo. Dirigiu o próprio clube na virada dos anos 1980, chegando a ser vice-campeão da liga iugoslava, até receber o convite do Prishtina em 1983. Provaria-se um bom comandante, a ponto de se tornar anos depois o primeiro técnico da seleção da Bósnia após a independência. Já em campo, reforços chegavam. O principal era Zoran Batrovic, atacante nascido em Montenegro, que defendia o Buducnost até então. Formaria uma dupla azeitada com Vokrri na linha de frente.

Em tempos de dois pontos por vitória, o Prishtina terminou o Campeonato Iugoslavo com 11 pontos atrás do campeão Estrela Vermelha, numa honrosa oitava colocação. Os kosovares tiveram mais derrotas que vitórias na campanha, assim como terminaram com um saldo negativo. Entretanto, possuíam muita força como mandantes, especialmente pelo caldeirão feito por sua torcida. O estádio em Pristina tinha alambrados próximos ao campo e o estado péssimo do gramado dificultava aos adversários mais técnicos. Mais do que isso, a população kosovar comparecia em massa: os alviazuis tiveram média de 18 mil torcedores por jogo na campanha, a segunda maior da temporada, só atrás do Estrela Vermelha. Algumas partidas levavam 40 mil às tribunas, com gente de diferentes cidades kosovares se dirigindo até Pristina.

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Das 15 vitórias do Prishtina naquele Campeonato Iugoslavo de 1983/84, nada menos que 14 aconteceram em seus domínios. Apenas Hajduk Split, Estrela Vermelha e Zeljeznicar (todos entre os cinco primeiros da tabela) voltaram de Kosovo com empates. O resultado mais impactante como mandante aconteceu contra o Partizan Belgrado, campeão na temporada anterior, que perdeu por 2 a 1. E se fora de casa os kosovares conseguiram apenas uma vitória em 17 compromissos, a exceção foi memorável: derrotaram o Estrela Vermelha por 3 a 1 em pleno Marakana. Um resultado para ser exaltado bastante, como se fosse uma vitória dos rebeldes kosovares sobre o sistema em Belgrado. Nas arquibancadas, cânticos nacionalistas eram comuns.

Paralelamente, o Prishtina ganhou o direito de disputar a Copa Mitropa de 1983/84. A competição já tinha perdido bastante prestígio, sequer uma sombra da principal disputa de clubes da Europa Central nos anos 1920 e 1930. Seguia realizada anualmente, mas longe do prestígio de outrora e geralmente composta por figurantes nas ligas nacionais. Ao menos, havia a oportunidade de atuar em uma competição internacional e medir forças com clubes relevantes de países vizinhos. Quando os kosovares disputaram a Mitropa, o concorrente mais badalado era o Vasas, um dos clubes mais tradicionais da Hungria. Tinha seis troféus de sua liga, o mais recente em 1977, e vinha de uma sétima colocação. O Eisenstadt era um figurante no Campeonato Austríaco e havia sido nono colocado na campanha anterior. Já o Teplice, assim como o Prishtina, tinha acabado de conquistar o acesso, mas logo cairia no Campeonato Tchecoslovaco.

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Aquela Copa Mitropa foi organizada num quadrangular, de todos contra todos. A força do Prishtina como mandante se repetiria. A equipe perdeu na visita ao Eisenstadt por 4 a 2 na Áustria, antes de empatar num 3 a 3 emocionante dentro da Iugoslávia. Depois, os kosovares cresceram na competição. Seguraram o 1 a 1 com o Vasas na Hungria e anotaram 4 a 2 em Pristina. Por fim, os alviazuis também fizeram 2 a 0 em casa diante do Teplice, antes do empate por 1 a 1 na viagem à Tchecoslováquia. Aquele tropeço, porém, culminou no vice-campeonato da equipe de Fuad Muzurovic.

O Eisenstadt ficou com o título, ao derrotar o Vasas por 2 a 1 na visita à Hungria. Somou um ponto a mais que o Prishtina, beneficiado pelo confronto direto. Os kosovares ainda possuíam um melhor saldo de gols, mas nada disso era suficiente para levar o troféu para casa. De qualquer maneira, ficava o orgulho por uma campanha relevante que se combinava com o impacto inicial no Campeonato Iugoslavo. Seus craques aproveitaram a vitrine. A dupla de ataque dos alviazuis acabaria convocada para a seleção da Iugoslávia no ciclo posterior à participação na Euro 1984.

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Fadil Vokrri e Zoran Batrovic ganharam uma chance na equipe nacional em dezembro de 1984, durante um amistoso contra a Escócia em Hampden Park. Os dois astros do Prishtina foram titulares no time treinado por Milos Milutinovic – irmão mais velho de Bora Milutinovic e antiga lenda do Partizan. Seria um começo de jogo dos sonhos para Vokrri, que abriu o placar com uma cabeçada longe do alcance de Jim Leighton aos 10 minutos. Porém, a reação da Escócia dirigida por Jock Stein seria impiedosa. Davie Cooper e Graeme Souness deram a virada na primeira etapa. Kenny Dalglish, Paul Sturrock, Mo Johnston e Charlie Nicholas fecharam o placar em 6 a 1 para a Tartan Army na segunda etapa. Batrovic jogou os 90 minutos, enquanto Vokrri saiu no intervalo para a entrada do jovem Darko Pancev, em sua segunda aparição pela Iugoslávia, aos 19 anos.

Depois disso, Zoran Batrovic nunca mais entrou em campo pela Iugoslávia. Primeiro e único kosovar a ser convocado, Fadil Vokrri disputaria 12 partidas pela equipe nacional no total, nove delas como jogador do Prishtina. Anotou seis gols e disputou eliminatórias tanto para a Copa de 1986 quanto para a Euro 1988. Entretanto, seu período com os iugoslavos marcou exatamente um hiato fora das grandes competições. O kosovar nunca teve o gosto de representar a nação num torneio de ponta, já fora das listas quando os balcânicos disputaram a Copa do Mundo de 1990.

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O Prishtina teve uma estadia relativamente longa na primeira divisão do Campeonato Iugoslavo, mas nunca repetiu o desempenho de 1983/84. Os kosovares terminaram na décima posição em 1984/85, 16 pontos atrás do campeão Sarajevo. O ataque até produziu mais gols, com 15 tentos de Batrovic, mas a instabilidade se tornou maior e Fuad Muzurovic deixou o comando técnico. Pelo menos a força em casa se mantinha, com apenas duas derrotas em Kosovo e uma média de público mantida na casa dos 18 mil, a melhor daquela edição da liga.

Já em 1985/86, o Prishtina terminou em 11°, numa temporada conturbada pela denúncia de manipulação de resultados envolvendo quase todos os times na rodada final. Os kosovares eram dos raros ilibados. Desta vez os alviazuis tiveram a segunda maior média de público, com 15 mil por jogo, e somente uma derrota em casa – incluindo triunfos sobre Partizan e Estrela Vermelha. No comando técnico estava Miroslav Blazevic, que já tinha sido campeão nacional à frente do Dinamo Zagreb e anos depois marcaria seu nome à frente da Croácia semifinalista na Copa de 1998.

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A temporada de 1986/87 foi de despedida. Fadil Vokrri se transferiu para o Partizan Belgrado e se tornou uma figura importante no clube da capital – idolatrado mesmo depois da Guerra do Kosovo. O atacante faria tanto sucesso na sequência que a Juventus chegou a sondá-lo, antes de defender equipes do exterior como o Nîmes e o Fenerbahçe. A lenda kosovar deixou o Prishtina com expressivos 55 gols em 172 partidas pelo Campeonato Iugoslavo. Um ano depois, quem se juntaria a ele no Partizan foi exatamente Zoran Batrovic, que chegou a passar pelo Deportivo de La Coruña ao sair da Iugoslávia. Eram momentos duros em Kosovo, com mais repressão e prisões de manifestantes que desejavam a independência e a união com a Albânia. Foi nesta época, por exemplo, que o pai de Granit Xhaka foi preso. Fugiria para a Suíça três anos depois, onde estabeleceria a família de um dos principais jogadores de origem kosovar.

O Campeonato Iugoslavo de 1987/88 viu o Prishtina regredir um pouco mais, no 14° lugar, com somente um ponto acima da zona de rebaixamento. Os tropeços em casa se tornavam bem mais frequentes. Restava o consolo de ver Vokrri campeão com a camisa do Partizan, entre os mais importantes da equipe. O fim do sonho do Prishtina aconteceu em 1988/89, com o rebaixamento para a segunda divisão. A equipe terminou na lanterna da liga nacional, embora a apenas dois pontos de se salvar. Os kosovares de novo não renderam tanto em seu alçapão e os resultados fora nunca ajudavam, com exceção feita ao triunfo por 2 a 1 sobre o Dinamo Zagreb no Maksimir. A única nota positiva ficava para Kujtim Shala, vice-artilheiro do torneio com 15 gols, no mesmo patamar do mágico Dragan Stojkovic no Estrela Vermelha. Vladislav Djukic era outro destaque dos alviazuis na campanha, mas foi mais um levado pelo Partizan no meio da temporada.

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Depois do rebaixamento, o Prishtina disputou três edições da segunda divisão do Campeonato Iugoslavo. Figurou em posições intermediárias, do quarto ao décimo lugar, até que a competição se rompesse com o início das guerras de independência em 1991. A repressão já era presente, a ponto de, em um jogo em 1989, uma reclamação dos jogadores contra a arbitragem virar pretexto para uma invasão da polícia, que agrediu os alviazuis. Seria uma confusão generalizada, que rendeu prisões de torcedores. Em meio ao esfacelamento da Iugoslávia, Kosovo também declarou sua separação, o que não foi aceito pelo governo centrado na Sérvia. O estádio do Prishtina foi ocupado e os futebolistas de origem albanesa acabaram expulsos. Ainda assim, um Campeonato Kosovar paralelo seria formado. Os alviazuis se tornaram os primeiros campeões em 1992 e levaram mais duas taças, até que a competição fosse interrompida em 1997, com o início da Guerra do Kosovo.

Quando o Campeonato Kosovar foi restabelecido em 1999, o Prishtina continuou como uma força dominante. Foram sete títulos num intervalo de 14 temporadas. Naquele momento, porém, a federação local não era filiada à Uefa e a equipe não podia disputar as competições europeias. Uma história que mudou com o auxílio de um velho conhecido da torcida alviazul: ninguém menos que Fadil Vokrri. O lendário atacante se tornou presidente da federação kosovar em 2008 e seguia à frente da entidade em 2016, quando aconteceu a admissão junto à Fifa e à Uefa. Ele era um dos principais responsáveis por dar visibilidade à bandeira kosovar dentro dos gramados, mesmo que a independência da nação ainda não seja aceita globalmente.

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Vokrri permaneceu no comando da federação kosovar até 2018, quando sofreu um ataque cardíaco e faleceu aos 57 anos. As homenagens foram amplas não apenas entre os kosovares, mas inclusive envolvendo os sérvios, num ato raro diante dos conflitos. A família do veterano foi convidada inclusive para um tributo realizado pelo Partizan em Belgrado. Já o estádio do Prishtina, construído em 1953 e usado pela seleção mais recentemente, passaria a levar o nome do craque. E foi dentro do rebatizado Estádio Fadil Vokrri, no primeiro jogo oficial dentro do território kosovar, que a nação venceu sua primeira partida internacional, por 2 a 0 contra Ilhas Faroe, em setembro de 2018. Um enorme bandeirão com a imagem do ídolo seria estendido nas arquibancadas, chamando-o de “Nosso Herói”.

Já o Prishtina perdeu fôlego no Campeonato Kosovar nos anos mais recentes. O título de 2020/21 encerrou um jejum de oito anos sem a taça. Mesmo assim, a equipe mantém relevância o suficiente para ter figurado em uma edição de Champions League, quatro de Liga Europa e uma de Conference desde a admissão dos kosovares pela Uefa. Na temporada passada, chegou a vencer o Bodo/Glimt por 2 a 1 nas preliminares, antes de sucumbir no reencontro dentro da Noruega pela Conference. A história dos alviazuis é intocável independentemente do futuro. E o orgulho por aquilo que o clube representou nos anos 1980 continuará marcado.

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