Trivela
·08 de dezembro de 2022
A história do Hajduk Split, o clube croata cujos torcedores se inspiraram no Brasil para fundar a pioneira Torcida

Trivela
·08 de dezembro de 2022
* Texto publicado originalmente em julho de 2017 e atualizado
Em 1950, surgiu o primeiro grupo de ultras do futebol europeu. E o nome da ‘Torcida', do Hajduk Split, faz referência direta à Copa do Mundo que aconteceu no Brasil. Há versões diferentes para explicar a inspiração. Segundo uma delas, a criação aconteceu a partir dos filmes do Mundial, apresentando as imagens fervorosas das arquibancadas brasileiras. Outra diz que marinheiros presentes no Rio de Janeiro durante a Copa resolveram levar a ideia para a portuária Split. Fato é que três estudantes iniciaram a organização que, mais de sete décadas depois, permanece ativa nas arquibancadas europeias. E que serve de elo ao Brasil x Croácia destas quartas de final de um outro Mundial.
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Ao longo de sua história, a Torcida passou por diferentes transformações. De início, surgiu como um movimento independente, à parte dos organismos estatais da Iugoslávia. Chegaria a ser desativada, até retomar suas atividades na década de 1980 e se juntar à luta pela independência da Croácia. Todavia, ao longo das últimas três décadas, os ultras também se aproximaram de movimentos extremistas – com associações a grupos nacionalistas neonazistas e manifestações racistas nas arquibancadas.
Não é a aproximação recente ao fascismo, porém, que apaga a história singular do Hajduk Split. Inclusive, o clube foi um bastião antifascista na época da Segunda Guerra Mundial, ao se recusar a entrar no Campeonato Italiano de Benito Mussolini e também no Campeonato Croata, em tempos nos quais o país era um estado fantoche nazista. Ao longo de seus mais de 100 anos de história, a agremiação possui uma trajetória que inclusive remonta a vários períodos importantes da geopolítica nos Bálcãs. Por isso, resgatamos um texto de julho de 2017 que reconta a história iugoslava e croata através do futebol e, em particular, do Hajduk.
A história do futebol nos Bálcãs vai além da criação da Iugoslávia. Os primeiros registros da modalidade na região datam de 1873, em uma partida promovida por ferroviários ingleses que trabalhavam em Rijeka – importante cidade na costa do Mar Adriático e que, na época, pertencia ao Reino da Hungria. No entanto, apenas na virada do século é que a organização dos clubes no futuro território iugoslavo prosperou. Diferentes agremiações surgiam nas cidades que se dividiam, antes da Primeira Guerra Mundial, entre as volúveis fronteiras da Europa Central – incluindo aí territórios no Império Austro-Húngaro, Reino da Sérvia, Império Otomano, entre outros estados em constante mutação em meio às tensões que se desenvolviam no continente.
Neste contexto é que o Hajduk Split foi fundado. A cidade croata, naquele momento histórico, estava entre as possessões dos austro-húngaros. E, não à toa, o clube nasceu a partir de um grupo de estudantes em Praga. Empolgados após assistirem a um jogo entre Slavia e Sparta, eles se reuniram em um pub local e resolveram criar um time na cidade natal. Assim, juntaram os amigos e estimulariam a prática do esporte que florescia na região. O registro oficial aconteceu em 1911.
Além disso, o nome escolhido também reflete a geopolítica da região. ‘Hajduk’ foi uma sugestão de Josip Barac, antigo professor dos fundadores. Faz referência aos grupos que agiam fora da lei desde o Século XVII e combatiam os poderes estabelecidos que dominaram a Europa Oriental no período, sobretudo os otomanos. De certa forma, os hajduks se assemelhavam à história de Robin Hood, combatendo os poderosos e promovendo benfeitorias aos menos favorecidos, inclusive protegendo os cristãos. “O nome simboliza o melhor em nossas pessoas: bravura, humanidade, amizade, amor pela liberdade, desafio à autoridade e proteção dos fracos”, justificou Barac.
A referência, a princípio, não agradou o Império Austro-Húngaro. Afinal, os hajduks haviam desafiado nos séculos anteriores a Dinastia dos Habsburgo, que continuava no poder. Nada que gerasse maiores consequências. E cabe ressaltar que a ligação com os austro-húngaros teve influência decisiva para o estilo de futebol praticado não só pelo Hajduk, como também pelos outros clubes dos Bálcãs. Nas principais cidades do Império, a presença do jogo de passes e bola ao chão era massiva, sob a tutela de treinadores escoceses ou inspirado pelo modelo desenvolvido na Escócia. Assim, explica-se em partes a habilidade e a fluidez historicamente visível entre os jogadores iugoslavos.
O Hajduk Split logo se transformou, além do futebol, em um centro de aglutinação dos nacionalistas croatas. O próprio escudo trazia o tradicional emblema quadriculado em seu centro. Eles almejavam a unificação da Dalmatia ao Reino da Croácia, reivindicação negada pelo poder central do Império Austro-Húngaro. Era um sinal claro do barril de pólvora que culminaria na Primeira Guerra Mundial.
Além disso, o Hajduk foi coadjuvante em outro episódio emblemático. Em 1913, o clube receberia o Belgrado SK, pertencente na época ao Reino da Sérvia. Contudo, a anexação da Bósnia-Herzegovina pelo Império Austro-Húngaro causou enorme ranço entre os sérvios. Nem todos os membros do clube de Belgrado viram com bons olhos a viagem ao país inimigo. Assim, a cisão resultou na fundação do SK Velika Srbija, com bases extremamente nacionalistas – a agremiação que daria origem ao Estrela Vermelha. Meses depois, o assassinato de Francisco Ferdinando, arquiduque austro-húngaro, por um militante bósnio-sérvio em Sarajevo gerou o estopim para o início da Primeira Guerra.
Os Bálcãs estiveram entre os principais epicentros da Primeira Guerra Mundial. Assim, muitos clubes de futebol encerraram as atividades ou até mesmo fecharam as portas durante os conflitos. E o cenário impulsionou a criação do ‘Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos’, rebatizado como ‘Reino da Iugoslávia’ em 1929, após um golpe de estado. O novo país começou a se reconstruir a partir do fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918. E o futebol serviu de ferramenta à noção de unidade. O campeonato nacional foi criado em 1923. A primeira edição reuniu seis clubes, de quatro federações diferentes espalhadas pelo território – dois de cidades hoje pertencentes à Croácia, dois da atual Sérvia, um da atual Eslovênia e um da atual Bósnia-Herzegovina. Entre eles, o Hajduk Split.
A competição cresceu durante a década seguinte e passou a abarcar outros cantos do país. Enquanto isso, o Hajduk se colocou como uma das principais potências locais, ao lado dos clubes de Zagreb e Belgrado. Foram dois títulos e cinco vice-campeonatos até 1940. Além disso, o time de Split também ganhava relevância internacional. Todavia, as disputas internas impediram os jogadores do Hajduk de representarem a Iugoslávia na Copa de 1930. A mudança da sede da federação iugoslava para Belgrado fez com que a associação croata barrasse a convocação de seus jogadores para o Mundial do Uruguai. E o clube de Split certamente seria uma das bases da seleção, campeão nacional em 1927 e 1929. Os desfalques, ao menos, não impediram a grande campanha iugoslava, alcançando as semifinais.
O imbróglio na seleção, indiretamente, ressoava a instabilidade enorme que tomava o país. A centralização crescente do poder entre os sérvios foi motivo de oposição ferrenha dos croatas ao longo da década de 1920, em tensões que resultaram no golpe de 1929. A monarquia constitucional se transformou em uma monarquia absolutista a partir da ‘Ditadura de 6 de Janeiro’, comandada pelo rei Alexandre I. O período ficou marcado pela violência e repressão, assim como pelo descontentamento com as novas divisões regionais, sem privilegiar as diferenças religiosas ou étnicas. Cinco anos depois, Alexandre I seria assassinado e substituído por seu filho, Pedro II. Em busca de uma solução que abrandasse o quadro, em 1939 foi instaurada uma província autônoma aos croatas – que, no fim, motivou ainda mais os anseios separatistas de diferentes partes da Iugoslávia.
Em abril de 1941, a Iugoslávia se transformou em palco da Segunda Guerra Mundial, invadida pelo Eixo. Seu território foi dividido entre diferentes países. Split, particularmente, ficou sob domínio da Itália – de influência histórica na região. Houve mesmo uma tentativa de incorporar o Hajduk à estrutura do futebol italiano. Seguiria o exemplo da Fiumana, da cidade de Rijeka, anexada pelos italianos ainda em 1924. O clube, que daria origem ao HNK Rijeka tempos depois, participou da primeira divisão do Calcio em 1928/29. Contudo, mantendo as suas convicções, os membros do Hajduk negaram a tentativa de apoderamento. Como alternativa, surgiu na cidade a Società Calcio Spalato, reavivando a tradição de um antigo clube local ligado à comunidade italiana, extinto na década de 1910. Seu estádio levava o nome de Bruno Mussolini, filho do ditador fascista.
Não demorou para que os Partisans (exército de resistência contra o Eixo formado pelos iugoslavos) retomassem Split, expulsando os italianos em 1943. Porém, a cidade seria ocupada pelo Estado Independente da Croácia (NDH), de governo submisso aos nazistas e colaboracionista aos invasores. Descontente com a maneira como Split foi tratada no joguete político, a população local se uniu contra o novo poder. Mais de um terço dos habitantes se juntou aos Partisans. Entre estes, diversos jogadores do Hajduk, que representou a oposição ao se recusar a participar do campeonato nacional do NDH.
Por conta deste engajamento com a resistência e a libertação da Iugoslávia, o Hajduk Split se transformou em um símbolo dos Partisans. O time se reuniu e passou a disputar amistosos em prol da causa, rodando por diversos países e enfrentando equipes formadas pelos Aliados. Um dos episódios mais célebres aconteceu em Bari, onde disputaram um amistoso contra o Exército Britânico, diante de 40 mil torcedores. Os Brancos eram festejados por diferentes povos e estadistas, principalmente pelo marechal Josip Broz Tito, que compareceu a alguns jogos da equipe.
A vitória dos Partisans na Segunda Guerra Mundial revitalizou a ideia de um estado independente entre os povos eslavos do sul. Assim, sob o comando de Tito, a Iugoslávia ressurgia como uma república socialista. Os conflitos entre diferentes etnias foram atenuados com a nova divisão regional, oferecendo autonomia às repúblicas que compunham a federação. E o poder central seguiu suas próprias diretrizes, desalinhado daquilo que se ordenava às nações satélites da União Soviética durante a Guerra Fria.
Por sua representatividade aos Partisans, o Hajduk Split foi convidado a se mudar para Belgrado e se transformar no time oficial do Exército Popular da Iugoslávia, dentro da reestruturação do futebol nacional. Entretanto, o clube optou por permanecer em sua cidade. Até por aquilo que fez durante os anos de guerra, ganhou uma rara permissão para manter sua nomenclatura original. Enquanto isso, a maioria absoluta dos antigos clubes foi dissolvida, acusada de colaborar com o Eixo. As suas bases, de qualquer maneira, originaram as novas agremiações iugoslavas – como o Estrela Vermelha e o Dinamo Zagreb. Grupos de metalúrgicos se mobilizaram para ressuscitar o Belgrado SK, rebatizado de OFK Belgrado. Já o Exército Popular da Iugoslávia ganhou o Partizan Belgrado como a sua nova bandeira.
O Hajduk se inseria dentro da estrutura estatal de financiamento ao esporte. E se manteve como um dos clubes mais proeminentes do país. Conquistou três títulos do renascido Campeonato Iugoslavo na primeira metade da década de 1950, além de ceder cinco jogadores à seleção que disputou a Copa do Mundo de 1950 – entre eles o goleiro Vladimir Beara e o artilheiro Bernard Vukas. O torneio realizado no Brasil, como dito, teria impactado diretamente na própria trajetória do clube. Formava-se a Torcida, o movimento de ultras mais antigo da Europa.
A Torcida, mais uma vez, representou a postura engajada do Hajduk Split, ainda fosse vista como uma ameaça por organismos estatais da Iugoslávia – especialmente por ser independente, em tempos nos quais todas as entidades estavam ligadas ao poder central. Como consequência, o criador do grupo de torcedores chegou a ser preso e outras represálias atingiram o clube. O nome foi banido e o movimento acabou enfraquecendo.
O Hajduk permaneceu como um dos clubes mais importantes da Iugoslávia, apesar da entressafra vivida após o declínio de sua grande geração dos anos 1950. O time voltaria ao topo na década de 1970, quando conquistou quatro taças do Campeonato Iugoslavo e cinco da Copa da Iugoslávia. Além disso, costumava fazer ótimos papéis nas copas europeias, alcançando as semifinais da Recopa em 1973 e as quartas de final da Copa dos Campeões em 1980. Individualmente, seus jogadores despontavam entre os principais do país, convocados com frequência à seleção nacional.
A transformação do cenário geral começou em 1980, a partir da morte do marechal Tito. Um momento histórico recontado dentro do Estádio Poljud. Em 4 de maio daquele ano, Hajduk Split e Estrela Vermelha se enfrentavam pela reta decisiva do Campeonato Iugoslavo. Aos 41 minutos do primeiro tempo, três homens invadiram o campo e interromperam o duelo. Um deles era o próprio prefeito de Split, que anunciou o falecimento do presidente. A comoção tomou conta da atmosfera, com jogadores chorando e torcedores entoando cânticos nacionalistas, que remetiam aos feitos dos Partisans na Segunda Guerra. A coesão nacional ruiria a partir daquela década.
Um sinal dos novos tempos na Iugoslávia veio com o próprio retorno da Torcida às arquibancadas. Além disso, os estádios passaram a refletir as tensões da população. O Hajduk Split chegou a ser banido das competições europeias por dois anos, após confrontos durante um jogo contra o Olympique de Marseille. Já em 1990, aconteceu o estopim. Se o famoso jogo entre Estrela Vermelha e Dinamo Zagreb, em maio daquele ano, é reconhecido como um dos propulsores das Guerras de Independência da Iugoslávia, há um paralelo ocorrido quatro meses depois, em uma visita do Partizan a Split.
O Hajduk já tinha assumido seu posicionamento em prol da independência durante a pré-temporada. Em turnê pela Austrália, país com uma grande colônia croata, o clube retirou a estrela vermelha de seu escudo e recolocou o quadriculado alvirrubro. Dois meses depois, a revolta estourou no Estádio Poljud quando o Partizan vencia o jogo pelo Campeonato Iugoslavo. Os torcedores do Hajduk invadiram o campo e tentaram agredir os jogadores adversários, que precisaram se proteger nos vestiários. Carregavam bandeiras nacionalistas e queimaram a bandeira iugoslava.
Aquela foi a última temporada do Campeonato Iugoslavo disputada por croatas e eslovenos, diante da iminente independência que seria declarada em junho de 1991. Semanas antes, com um gol de Alen Boksic, o Hajduk Split derrotou o esquadrão Estrela Vermelha e faturou a Copa da Iugoslávia, ficando com a posse definitiva da taça. Depois de dois vice-campeonatos para o clube de Belgrado, a conquista tinha um valor enorme, principalmente dentro do contexto geopolítico. A partir de então, o time seguiria rumos diferentes em um novo país.
A transição experimentada pelo Hajduk Split é parte de um processo maior, vivido pela Croácia e pelas outras repúblicas da antiga Iugoslávia. O clube precisou se adaptar à nova realidade, sem mais o apadrinhamento do dinheiro estatal. E a sua reestruturação acontecia dentro das mudanças econômicas ocorridas no país independente. Por mais que a antiga república iugoslava fosse uma das mais desenvolvidas da região, havia um impacto grande para se readequar à economia de mercado, além das consequências negativas proporcionadas pelos conflitos na região.
Apesar de todos os entraves, o Hajduk se manteve como uma força no recém-criado Campeonato Croata – mais pelo talento de seus jogadores do que por uma gestão exemplar. Foram três títulos da liga nos quatro primeiros anos, além de dois da Copa da Croácia. Porém, os massivos débitos começaram a pesar contra as finanças. E, para piorar, a falta de transparência no futebol local influiu sobre a competitividade dos Brancos. O Dinamo Zagreb era visto pelo governo como o grande representante da bandeira croata nas competições internacionais. Mudou até mesmo seu nome para Croatia Zagreb. Time do presidente Franjo Tudman, era beneficiado com arbitragens escusas.
De qualquer maneira, o Hajduk Split não pode colocar apenas a culpa nos outros. O caos interno do clube, por sua ingerência, foi de mal a pior. Aos poucos, minou as chances de título dos Brancos, com apenas três conquistas da liga desde 1995, a última delas em 2005. Por mais que permanecesse entre os primeiros colocados, o Hajduk não conseguia competir com o Dinamo Zagreb – que, apesar do fim da ajuda de Tudman com sua morte em 1999, continuou se beneficiando do poder, sobretudo pela influência direta na federação croata.
Se por um lado o Hajduk Split se reforçou como um contraponto ao centro do poder em Zagreb e à própria estrutura da federação, por outro as arquibancadas passaram a refletir a infestação de movimentos neonazistas nos estádios europeus. A presença de símbolos nacionalistas que flertam com o fascismo e de cânticos discriminatórios se repetiu ao longo das últimas décadas, mesmo que não necessariamente todo o grupo de ultras compactue com isso. Ainda assim, as constantes festas nas tribunas também acabaram manchadas pelo extremismo. Mas, de novo, nada que fugisse de um contexto político mais amplo dentro da própria Croácia, vide a maneira como a própria seleção se vincularia a esses grupos neonazistas na época da Copa de 2018, com referências nacionalistas diretamente ligadas ao estado fantoche dos anos 1940.
Já dentro de campo, o Hajduk Split perdeu protagonismo ao longo dos últimos 17 anos. Acostumou-se a disputar a Liga Europa e a ver de longe a briga pelo título no Campeonato Croata. A esperança de dias melhores em meio às crises veio com uma reestruturação apoiada pelos torcedores dos mais diferentes espectros. Em outubro de 2016, o grupo chamado ‘Nosso Hajduk’ comprou um quarto das ações do clube e, junto com a prefeitura da cidade e outras empresas, tentou recuperar a competitividade da equipe. O primeiro sinal concreto aconteceu na temporada passada: depois de nove anos, os Brancos voltaram a levar uma taça, com a conquista da Copa da Croácia. Entre os heróis da campanha estava Marko Livaja, camisa 10 do clube e único representante do Hajduk na seleção croata que disputa o Mundial de 2022. Quem tentará frustrar a torcida brasileira, a original, em plena Copa do Mundo.
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