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·26 de maio de 2022

A final da Champions League será a última grande ocasião do histórico trio de ataque do Liverpool? 

Imagem do artigo:A final da Champions League será a última grande ocasião do histórico trio de ataque do Liverpool? 

Cada um chegou em um momento diferente, como se a cada temporada chegasse pelo correio uma nova peça do quebra-cabeça. Em campo, atuam de maneiras distintas, embora nenhum deles pare de correr um minuto sequer. Fora dele, compartilham uma personalidade reservada, comprometida com o trabalho, sem polêmicas. Tudo pelo Liverpool. O sucesso do time que chega à terceira final de Champions League em cinco anos não seria possível sem Jürgen Klopp e não seria possível sem Mohamed Salah, Sadio Mané e Roberto Firmino. E como parte da jornada é o fim, o deles está se aproximando.

A final contra o Real Madrid em Paris no próximo sábado pode ser uma ocasião histórica para os Reds. Não apenas por representar a chance de conquistar o sétimo título europeu, igualando a marca do Milan. Não por ser a revanche de Kiev em 2018. Mas porque pode ser a última vez que esse histórico trio de ataque atuará junto, dependendo da escalação de Klopp e do decorrer da partida. De um jeito ou de outro, pode ser o último jogo em que os três são jogadores do Liverpool. É neste momento até provável que seja.


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Após a final, Salah, Mané e Firmino terão apenas mais uma temporada de contrato com o Liverpool, e o impulso é renovar com os três e que se dane. Não são velhos. Os africanos têm 29 anos, o brasileiro tem 30. Todos sabem que cuidam muito bem do físico e têm um bom tempo em alto nível pela frente. Manter ídolos é um bônus imponderável à alma do clube, e existe um fator de gratidão que tem que ser levado em conta, mas nenhum desses aspectos pode guiar sozinho três decisões que podem moldar o futuro dos Reds.

Que um clube que sempre tratou a renovação da sua espinha dorsal como prioridade no mercado de transferências tenha deixado essa situação se criar é sinal de que o Liverpool quer tempo para refletir. Existem quatro cenários: os três renovam, dois renovam, um renova, nenhum renova. E se alguém não renovar, o próximo dilema é vender agora para recuperar algum dinheiro, o mais inteligente a fazer, ou perder o jogador sem compensação em um ano. Cada cenário será um ponto de partida diferente para a montagem de time que a diretoria e Klopp conduzirão daqui para a frente. As decisões também não dependem apenas do clube. Os jogadores podem querer outros desafios. Podem querer um salário alto demais. Um contrato longo demais. Ou curto demais.

Os três estão juntos desde a chegada de Salah, em 2017. São cinco temporadas. Um ciclo acima da média em longevidade. Ficando em exemplos mais recentes, o BBC (Bale, Benzema e Cristiano Ronaldo) também durou cinco anos. O MSN (Messi, Suárez e Neymar), três anos. O PSG teve uma primeira temporada com Mbappé, Messi e Neymar, o MNM. Renovou com o francês e tem os três sob contrato por pelo menos mais uma campanha. Quanto tempo durarão?

Talvez seja a hora de separar Firmino dos outros dois. Ele foi o primeiro a chegar e o primeiro a cair bruscamente de rendimento. Começou na segunda metade da conquista da Premier League. É difícil avaliar quem foi titular na temporada passada, porque praticamente jogava quem estivesse inteiro, mas Diogo Jota começou a se projetar um pouco à frente e assim continuou nos primeiros meses da atual campanha. Firmino teve muitos problemas físicos, e Luis Díaz chegou em janeiro atropelando todo mundo. Hoje, ele é o titular no trio de ataque e o brasileiro é reserva.

A decisão sobre o contrato de Firmino, portanto, tem um peso esportivamente menor neste momento em comparação com os outros dois, que seguem em toada de candidatos à Bola de Ouro. Tanto que não parece ser a prioridade. A negociação menos especulada, menos discutida, menos informada. É até a opinião de repórteres que cobrem o Liverpool de perto que a diretoria está de fato esperando os futuros de Salah e Mané serem definidos antes de decidir qual proposta apresentará ao brasileiro, que então tomará a decisão de aceitá-la ou não.

Não é a política dar contratos longos e caros para jogadores com mais de 30 anos. Foi por isso que Wijnaldum saiu. Mas foi aberta uma exceção a Jordan Henderson. Se decidir que é o caso, Firmino certamente também merece uma. Não é impossível recuperar sua melhor forma. Não é um veterano. Klopp ama o seu futebol. Ele é um centroavante raro, que trabalha mais para os outros brilharem do que por números individuais, que se movimenta, abre espaços, cria jogadas. Não seria uma reposição fácil, talvez nem possível. Mas, para ficar, ele provavelmente teria que se adequar a uma nova realidade.

A saída de Salah chegou a parecer muito próxima. O seu empresário gosta de mandar indiretas pelo Twitter, ele gosta de dar declarações sobre como amaria jogar na Espanha um dia. Essa história esfriou depois da Copa Africana de Nações e do mata-mata das Eliminatórias Africanas. Em abril, tabloides publicaram que o Liverpool aceitou pagar um salário de £ 400 mil por semana, que o colocaria no patamar de jogadores como Kevin de Bruyne – e daqui a pouco Erling Haaland -, um meio-termo em relação à sua pedida inicial.

Francamente, se alguém pode cobrar um alto salário, e justificar com a sua produção, esse alguém é Salah. É difícil encontrar um fim de semana em que ele não fez um gol ou deu uma assistência. Entrou como um raio no top 10 de jogadores que mais marcaram pelos Reds, em nono lugar, com 156 gols em cinco anos. Foi artilheiro da Premier League três vezes e nessa última temporada saiu com os troféus de principal goleador e principal garçom. E isso às vezes sendo fominha demais. Mas sempre entra em campo com rotação alta. Incansável na busca pelo gol. A queda ligeira de rendimento nos últimos meses pode ser colocada na conta do cansaço e do abalo emocional de duas decepções seguidas pela seleção egípcia.

Neste momento, a tendência é ficar. Pelo menos na próxima temporada é garantia, como ele afirmou algumas vezes recentemente e repetiu esta semana. “Eu fico para a próxima temporada com certeza. Isso está claro. Na minha cabeça, não estou focado no contrato. Eu não quero ser egoísta de maneira alguma. Disse dois meses atrás que é tudo sobre o time. É uma semana importante para nós. Estou focado no time e em ganhar a Champions League novamente. Quero ver Hendo (Henderson) com o troféu nas mãos e espero que ele o passe para mim. Não quero falar sobre o contrato agora”, disse.

Quem está mais próximo da porta de saída neste momento é Mané. Ele estava sendo muito especulado no Paris Saint-Germain como substituto para Mbappé. A renovação do francês redirecionou o foco para o Bayern de Munique, que perderá Robert Lewandowski. Terá uma grande respiro financeiro e precisará de uma nova referência para o ataque. Questionado sobre a situação, foi enigmático: “Eu responderei essa questão (sobre meu futuro) depois da Champions League. Se ficarei ou não, responderei depois da Champions League”. Não é bom sinal. Dizer que sairá antes de uma final causa turbulência desnecessária. Dizer que ficará não tem exatamente um lado ruim.

Os principais números ficam com Salah, mas Mané é igualmente importante. De todos os jogadores de ataque é o que mais frequentemente se porta como líder nos momentos difíceis, aquele cara que coloca a bola debaixo do braço e conduz a equipe. Tem um histórico longo de gols decisivos. Oscila um pouco mais de desempenho, mas terminou a temporada em altíssima forma, mesmo em uma nova posição. Foi centralizado para acomodar Díaz na ponta esquerda, e não demorou muito tempo para se adaptar.

“O resultado da final influenciará as negociações de contrato? Não, com certeza não”, disse Klopp esta semana. “Se vencermos, eles quererão sair? Estamos em negociações com todos os jogadores. Simplesmente não é o momento de falar sobre tudo. Chegar à final interrompeu as negociações? Não, isso significaria que teríamos que ter conversas negativas. Simplesmente não há tempo, jogamos a cada três dias. Os jogadores têm uma ideia, nós temos esta ideia, às vezes elas correspondem, às vezes temos que trabalhar juntos, mas nós nos conhecemos há muito tempo”.

Klopp acabou de renovar contrato até 2026. Isso significa mais quatro temporadas. É factível imaginar que chegará até lá, mantendo o nível de competitividade atual, com três dos seus principais atacantes beirando os 35 anos? Não é, por melhor que eles se cuidem. Terá que montar um novo time para a segunda perna da sua passagem por Anfield. Não precisará ser completamente novo porque a sua política sempre foi apostar na juventude. Mas também não pode ser completamente igual. Não sou eu quem digo: é a História. Bill Shankly demorou para renovar seu primeiro grande esquadrão, e o Liverpool passou seis anos em branco na década de sessenta.

É perfeitamente legítimo que a análise termine com a conclusão de que o Liverpool, independentemente de qualquer coisa, precisa de sangue novo no ataque para sustentar essa competitividade. Possível até avaliar que as contratações de Luis Díaz, de Diogo Jota um pouco menos, e do garoto Fábio Carvalho do Fulham um pouco menos ainda, já foram medidas preventivas. E que a próxima janela será a última chance de fazer dinheiro com alguns dos melhores jogadores do mundo para ajudar também a financiar a renovação dos outros setores. Dos sete jogadores de meio-campo, três tem mais de 30 anos (Thiago, Henderson e Milner) e três têm entre 27 e 28 anos (Oxlade-Chamberlain, Fabinho e Naby Keita). Apenas Curtis Jones é jovem. Dois dos quatro zagueiros (Van Dijk e Matip) também são trintões.

A renovação ou não de um deles pode influenciar as outras. Um exemplo: se Mané sair, há mais espaço financeiro para tornar Salah a referência definitiva do ataque, com Firmino mais à frente na fila. Se Mané ficar, o esforço para renovar com Salah terá que ser maior, e talvez não sobre muita coisa para Firmino. Além disso, não são apenas os três. O Liverpool também tem que resolver as situações de Keita e Oxlade-Chamberlain, outros dois entrando no último ano de seus contratos.

O Liverpool é rico, mas não queima dinheiro e construiu o seu sucesso com base em uma montagem de time muito sensível, precisa e sem fazer loucuras. Começar a dar contratos longos e caros para jogadores com mais de 30 anos por serviços prestados mais do que por serviços a prestar não costuma ser uma boa receita, e se você não acredita, deixa eu pegar o telefone do Barcelona aqui, me dá um minuto.

A passagem de bastão provavelmente será gradativa. Constantes renovações no Mural dos Campeões, uma parede em Anfield onde o Liverpool registra suas conquistas, são evidências fortes de que a galera sabe o que está fazendo por lá. Isso quer dizer que é quase tão improvável que os três renovem quanto é que os três não renovem. E se o jogo do próximo sábado for o último, será até apropriado. Porque uma final de Champions League contra o Real Madrid foi a primeira grande ocasião de um trio de ataque que conquistou todos os principais títulos que poderia conquistar. Que também seja a última soa muito como o fim de um ciclo.

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