A Copa exige mais contundência e a campanha da Dinamarca termina como um grande vexame | OneFootball

A Copa exige mais contundência e a campanha da Dinamarca termina como um grande vexame | OneFootball

Icon: Trivela

Trivela

·30 de novembro de 2022

A Copa exige mais contundência e a campanha da Dinamarca termina como um grande vexame

Imagem do artigo:A Copa exige mais contundência e a campanha da Dinamarca termina como um grande vexame

Vexame. Não há outro termo mais preciso para definir a participação da Dinamarca na Copa do Mundo de 2022. Os alvirrubros chegaram badalados ao Catar, e com razão. Vinham de uma excelente Eurocopa, de uma campanha soberana nas Eliminatórias, de grandes resultados na Liga das Nações. Se o time alcançasse as fases mais agudas do Mundial, nem seria uma surpresa. Entretanto, o sarrafo alto pareceu acomodar os dinamarqueses num trono de ouro que nem de longe se justificou em campo, sem que assumissem as consequências dos holofotes como pretensos favoritos. Fama não vale vitória em Copas sem suor, especialmente diante de adversários que vinham babando. Os escandinavos não foram mais do que uma equipe inócua, sem soluções ofensivas e girando em círculos enquanto os oponentes esbanjavam energia. A tabela fala por si: um ponto, duas derrotas, só um gol marcado. É a pior Dinamarca da história das Copas, indiscutivelmente.

O mais curioso é como a Dinamarca não dava necessariamente sinais de enfraquecimento durante o ciclo. O melhor momento aconteceu na Eurocopa. Apesar de todos os temores com Christian Eriksen, os alvirrubros apresentaram um enorme senso coletivo para superar a ausência do craque. Tiveram ótimas atuações, especialmente nos mata-matas, e quase aprontaram para cima da Inglaterra na semifinal. Pois os meses seguintes reforçaram os comentários positivos sobre o time de Kasper Hjulmand. Nas Eliminatórias, os escandinavos não tomaram conhecimento dos adversários. Era uma chave mais acessível, mas ainda assim as goleadas e os poucos gols tomados empolgavam mais. E a Liga das Nações teve a Dinamarca numa marcha mais alta que seus concorrentes. Não à toa, ganharam duas vezes da França, mesmo atrás da Croácia no fim da chave.


Vídeos OneFootball


Se havia um ponto de desconfiança sobre a Dinamarca, ele ficava mais sobre a fase de muitos jogadores da equipe em seus clubes. Alguns atletas importantes voltavam de lesão, outros atravessavam momentos apagados. Tal pé atrás se incidia principalmente em jogadores do setor ofensivo. Entretanto, eram caras que quase sempre entregaram pela seleção quando necessário – como Joakim Maehle, Mikkel Damsgaard, Kasper Dolberg. Um tanto quanto prevenido, o técnico Kasper Hjulmand até preferiu apostar num leque maior de alternativas ofensivas, o que parecia um bom caminho para não se tornar refém de um ou outro e também para garantir variações táticas.

Mas não que as notícias fossem somente ruins. A volta de Christian Eriksen parecia a melhor possível, não só por sua recuperação após correr sérios riscos de óbito, mas pela forma como estava jogando demais. Foi o grande nome dos bons resultados na Liga das Nações. Mesmo jogadores sem espaço na época da Eurocopa, como Andreas Skov Olsen e Jesper Lindström, aumentavam o frescor aos dinamarqueses. E era um Grupo D que se prometia aberto, com a França despontando como rival pela liderança, mas Tunísia e Austrália que não metiam medo na teoria. Só na teoria. Porque a prática foi bastante diferente à Dinamarca.

A estreia da Dinamarca contra a Tunísia já viu um time abaixo do esperado. Os dinamarqueses tiveram variações e criaram uma ou outra ocasião de gol. Porém, também se expuseram em certos momentos e pecaram na falta de contundência. Foram testadas diferentes alternativas táticas, que simplesmente não superaram um adversário com mais determinação e mais organização defensiva. O empate, de qualquer maneira, não indicava necessariamente o fim do caminho aos escandinavos.

Diante da França, no jogo mais difícil do Grupo D, a Dinamarca demorou a se ligar. Foi impressionante a maneira como o time pareceu no limite ao longo do primeiro tempo. Mesmo bem no meio, não criava no ataque e via os temidos talentos franceses arreganharem a sua defesa. Os Bleus só abriram o placar na volta para o segundo tempo, e os dinamarqueses melhoraram sobretudo a partir do empate, quando flertaram inclusive com a virada. Independentemente disso, estava claro como os atuais campeões do mundo tinham mais recursos e mereceram a vitória. A situação na rodada final fazia os escandinavos dependerem apenas de si, mas a dificuldade inicial no Mundial se transformou num desacerto ainda maior.

A Dinamarca entrou em campo, em teoria, para dominar a Austrália. Mais uma vez trocou sua maneira de montar o ataque, mas deixava um meio-campo mais robusto e jogadores para agredirem pelos lados. Não dá para dizer que o plano foi exatamente ruim, pela maneira como os escandinavos criaram bastante na fase inicial da partida. Mas não era um time que sabia como botar a bola para dentro. As tentativas tantas vezes pipocaram dentro na área, sem ninguém que desse um passe mais preciso ou finalizasse o trabalho. E os Socceroos, que se defendiam com todas as forças, logo entenderam que era possível jogar não só pelo empate. Tiveram cada vez mais escape.

A Austrália voltou também mais ligada para o segundo tempo. A Dinamarca desacreditava de si. E o desastre desenhado se consumou aos 15 minutos, no contra-ataque de manual finalizado brilhantemente por Matthew Leckie. Depois disso, o mental dos escandinavos terminou de desmoronar. Nenhuma das mudanças ofensivas garantiu um resultado efetivo. O time se limitava a espasmos e parecia morto já no meio da etapa final, quando via os australianos tomarem o controle do duelo.

Não havia senso de urgência na Dinamarca, como se a terceira rodada de uma Copa do Mundo acabasse tratada feito um compromisso qualquer de segunda divisão de Liga das Nações. Os Socceroos eram muito mais competentes para proteger os espaços e para segurar a bola quando necessário. Dava para perceber que a virada nunca aconteceria. Os dinamarqueses ainda tentaram algo desesperado no fim, com Kasper Schmeichel se lançando ao ataque, mas a verdade é que a meta adversária nem seria tão ameaçada. A linha de zaga da Austrália se mostrou intransponível.

A falta de uma referência ofensiva mais clara pesou contra a Dinamarca. Muita gente entrou, ninguém com um respaldo tão grande, e o time se limitou a essa falta de soluções. Ninguém bateu no peito quando necessário, nas três partidas, entre caras claramente limitados tecnicamente e outros acomodados. Foi uma equipe apática, bem diferente do que se viu na Euro ou nas Eliminatórias. E se os grandes momentos recentes dos dinamarqueses saíram com transições rápidas e tramas coletivas, o time não encontrou soluções diante de defesas mais retraídas. Claramente os alvirrubros não lidaram bem com as consequências do favoritismo.

Poucos se salvam ao final da hecatombe da Dinamarca. Não dá para dizer que Pierre-Emile Hojbjerg ou Christian Eriksen foram mal, mas também não encontraram soluções, como os jogadores mais experimentados da linha. Foram ilhas, entre a defesa lenta constantemente atribulada nos contra-ataques e o ataque totalmente improdutivo. Kasper Hjulmand fez um trabalho incrível na Eurocopa, mas a vergonha no Catar talvez torne mais difícil de sustentar sua continuidade. O time jovem pode até se reerguer em breve, mas qualquer desconfiança é justificada a essa altura. Os alvirrubros decepcionaram basicamente em todos os aspectos.

Saiba mais sobre o veículo