40 anos atrás: Como foi ser o primeiro jogador negro a defender a seleção inglesa? | OneFootball

No dia 29 de novembro de 1978, Viv Anderson marcou história no futebol mundial. Ele foi o primeiro jogador negro a vestir a camisa da seleção inglesa e é um personagem importante na luta contra o racismo que ainda acontece no esporte.

Em entrevista exclusiva à Goal, o lendário ex-jogador do Arsenal e Manchester United falou sobre sua ascenção no Nottingham Forest de Brian Clough e comentou sobre sua luta até chegar ao estrelato nacional.

"Quando eu assistia ao Match of the Day [importante programa esportivo inglês] no começo, o único jogador negro que eu via era Clyde Best, que jogava pelo West Ham. Eu fiz um esforço consciente e disse: 'Eu quero estar no Match of the Day e eu quero jogar futebol'. Eu tive sorte de estar no clube em que o técnico da época me ajudou a trilhar o caminho certo", disse Anderson.

Nos anos 1970, jogadores negros eram abertamente discriminados por muitos torcedores. Há relatos de que frutas e objetos vindos das arquibancadas e voando em direção aos atletas negros eram comuns. Anderson reconhece a importância de Clough nesse período em que sua resiliência vinha sendo colocada à prova.

"No começo da minha carreira, lembro-me de ir a Newcastle quando eles tinham o grande Tudor, Macdonald e esse tipo de jogador. Eu saí para dar uma olhada no campo antes do jogo e fui atacado por um cachorro", lembra ele. "Voltei para o vestiário e disse: 'Sr. Clough, acho que não vou jogar hoje à noite', e ele apenas disse 'Você vai jogar!'. Ele foi ótimo nesse aspecto. Era uma daquelas coisas com as quais você tinha que se envolver. Caso não se entregasse não iria promover sua carreira. Isso era fundamentalmente o que eu queria ser: um jogador de futebol. Eu queria jogar no nível mais alto e tentar conseguir alguma coisa”.

(Foto: Allsport UK/Allsport/Getty Images)

Sua estreia com a camisa da Inglaterra ocorreu em uma partida contra Tchecoslováquia e marcou a história ao ter o primeiro negro vestindo o manto dos Three Lions em 106 anos de história. À época, Viv tinha 22 anos.

"Lembro desse dia como se fosse ontem. 92.000 pessoas lá. Eu me lembro de ter recebido uma ótima resposta da torcida porque naqueles dias você saía pela parte de trás de Wembley, você não saía do lado igual é agora. Por isso você ouvia os gritos ficando cada vez mais alto e mais alto quando você subia a campo. Eu me lembro de ter saído muito animado, e eles lembram que eu participei do gol", lembrou o lateral-direito que começou a jogada do único tento da partida.

Viv terminou a carreira tendo sido convocado 30 vezes para a seleção e participou das Copas do Mundo de 1982 na Espanha e em 1986 no México. Mesmo que não tenha atuado em campo, a representação de um atleta negro ali foi muito importante e começou a abrir portas para outros surgirem com mais força.

(Foto: Getty Images)

Ele lembra que no começo foi difícil para ser aceito no Manchester United. As pessoas duvidavam dele, mas já na maturidade ele foi a primeira contratação de Sir Alex Ferguson ao chegar no Manchester United.

"Eu acho que ele me contratou depois de um jogo do Arsenal contra o Manchester United. Obviamente Sir Alex viu algo em mim e logo depois eu recebi uma ligação de Bryan Robson dizendo: 'Nós temos um novo técnico e ele quer contratar você'. Meu contrato estava para vencer com o Arsenal.

Então nós nos encontramos em um hotel em Nottingham, eu fui sozinho e sentei. Logo as portas se abriram. Sir Alex entra e diz: 'Prazer em te conhecer. Você já falou com o presidente?'. Eu disse: 'Não. Estou aqui há 10 minutos. Não o vi'. Então ele foi procurá-lo", contou Anderson.

Hoje aos 62 anos, Viv Anderson permanece como um exemplo de resiliência dentro de um meio discriminatório. Antigamente hostilizado até pela própria torcida, Anderson mostra o poder do esporte nas mudanças da sociedade e é um dos maiores representantes da luta contra o racismo no futebol.