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·26 maggio 2025

Vinícius Eutrópio: das vuvuzelas com Parreira ao sultanato que enfrentou a Rússia

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Vinícius Eutrópio, então capitão no Náutico, tinha na mesa uma proposta de renovação do clube quando foi surpreendido pelo técnico Artur Neto com um pedido: "Quero que seja meu auxiliar". A partir dali, um novo capítulo começou a ser escrito, em uma história que Eutrópio nunca poderia imaginar. De fazer parte da seleção sul-africana na única Copa do Mundo disputada no continente, até comandar o futebol em um sultanato na Ásia...

Até hoje, Eutrópio lembra do convite de Artur Neto. "Tomei um baque, porque estava em forma, no auge. Pedi uma semana para pensar", brincou, em entrevista para oGol.


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Eutrópio seguiu Artur Neto para o Athletico Paranaense, foi auxiliar e também coordenador das categorias de base. "Em 84 anos de clube, não tinha um jogador da base nas seleções de base e nenhuma grande venda. Falar isso hoje, parece brincadeira. Hoje, vejo clubes fazendo o que já fazíamos lá atrás", contou.

Parreira e vuvuzela

Depois de sair do Athletico, conseguiu o email de Carlos Alberto Parreira, que trabalhava na seleção brasileira. Nunca obteve uma resposta do tetracampeão mundial, até anos depois...

"Escrevi um email para o Parreira. Me apresentei, falei que acreditava que poderia acrescentar muito na seleção. Passou um mês, dois meses, o que aconteceu? Nada... Milhares de emails, obviamente ele não me respondeu. Acabei indo para o Fluminense, campeão da Copa do Brasil, disputando a Libertadores... Vem um diretor, bate no meu ombro e fala: 'Vinícius, o Carlos Alberto Parreira ouviu sobre você e queria te conhecer'".

A partir daí, se iniciou uma das histórias mais bonitas da carreira de Eutrópio, e mesmo de Parreira, que tantas histórias tem no futebol. Ambos trabalharam na seleção da África do Sul na Copa de 2010. Uma imagem de Parreira não sai da cabeça de Eutrópio.

"Tenho um vídeo bem bacana, da seleção cantando, desde o ônibus, as cantigas de guerra das tribos africanas. Entram no vestiário, cantando, trocam de roupa, cantando. E a gente ia jogar no estádio daquele filme, o Invictus, contra a seleção uruguaia... Imagina. E eu procurando o Parreira, não achava ele. Quando vejo, o Parreira estava de uniforme, no meio da roda, batendo palma e cantando junto com os jogadores. Isso explica tudo: ele bem simples, fazendo parte do processo", relembrou.

Provavelmente, você lembra até hoje do gol de Tshabalala, primeiro daquele Mundial, com o Soccer City lotado. Na Copa que ficou marcada com Suárez brilhando como "goleiro", Robben e sua previsibilidade inevitável, Maradona sucumbindo diante da Alemanha, Iniesta decisivo e... A vuvuzela!

"Foi uma coisa anormal, ninguém aguentava mais. Você tava no hotel, tinha que fechar (a janela). Uma coisa é no dia do jogo, mas como a Copa todo dia tem alguém jogando, tinha alguém com vuvuzela... Aquilo foi vendido igual água. Um mês depois que acabou a Copa, meu ouvido ainda ficava ali: 'vu-vu-vu'", brincou.

Mercado sul-americano merece atenção

Eutrópio foi técnico do Estoril, em Portugal, do Al Ittihad, dos Emirados, já tinha trabalhado em equipes grandes do Brasil como técnico principal, até receber o convite de comandar o Bolívar. Ali, viu a chance de abrir caminho no mercado sul-americano.

"É fundamental que a gente olhe para esse mercado. A gente vê o Brasil só como mercado, e o mercado brasileiro inchou. Se a gente olhar para o mercado sul-americano, principalmente, ele tem 500, 1000 postos de trabalho para nós, também, brasileiros", começou por refletir.

Eutrópio lembra que foi entrevistado para o cargo junto com dois técnicos espanhóis e um argentino. O processo, que contou com ligações do bilionário Marcelo Claure, dono do Bolívar, a Parreira, durou 15 dias. Mais recentemente, Eutrópio comandou o Taquary, do Paraguai.

Futebol em Brunei

A experiência internacional deu a Eutrópio a chance de comandar uma seleção de um sultanato com menos de 500 mil habitantes na Ásia: Brunei.

"Um agente entrou em contato comigo, tinha a função de levar um treinador brasileiro porque o presidente da federação é apaixonado pela seleção de 1982. Sonho dele é fazer com que Brunei tenha o estilo do futebol brasileiro", explicou o treinador.

Eutrópio assinou contrato de três meses, com opção para renovação de um ano. O brasileiro tentou nos explicar algumas das especificidades do futebol local.

"Brunei é um país muito rico, comandando por um sultão, uma monarquia, que prioriza o trabalho e a escola. É uma população de 500 mil habitantes. Os meninos têm aula de manhã e tarde, não se paga hospital, não tem imposto, todo mundo tem casa, um ou dois carros, no mínimo. Não tem buraco, em três meses não vi nenhum guarda. Um país extremamente organizado. Visitei todos os clubes, categoria de base, vi jogos, fiz um primeiro diagnóstico. Tem bons talentos, como em todo o mundo, porém não é desenvolvido principalmente na área de treinamento, para que possam dar um salto", contextualizou.

Em termos de estruturas futebolísticas, Eutrópio é só elogios ao país, que conta com um centro de treinamentos de primeiro nível. O grande desafio no país, para o brasileiro,  "é a questão da popularização do futebol. Não é, como no Brasil... A prioridade, no Brasil, é colocar o menino no campo, se precisar faltar a aula, os pais aprovam. Lá (em Brunei), dá até cadeia".

Vinícius Eutrópio chegou a convocar o filho do príncipe e sobrinho do sultão, Faiq Jefri Bolkiah, que é considerado o jogador de futebol mais rico do mundo. O principal desafio na trajetória na seleção foi um amistoso contra a Rússia, sem Faiq, proibido de viajar pela família real. Apesar do placar de 11 a 0 para os russos, o técnico considerou o resultado "uma vitória" para Brunei.

"Quem viu o resultado do jogo, pode achar absurdo, mas para a gente, foi uma vitória imensa. Não fiz nenhuma substituição por cansaço. O time jogou em bloco baixo, mas organizado, e com 37% de posse de bola, contra a Rússia", analisou.

O técnico ressaltou que no jogo seguinte, contra o time B do Krasnodar, Brunei ficou com 50% de posse de bola, criou chances para fazer gol e mostrou evolução. Mas esse ano, com a mudança no comando da federação, Eutrópio acabou não permanecendo no comando da equipe. O técnico entrou com processo na Fifa contra a federação local, e teve resultado favorável. Agora, espera um novo desafio.

"O que quero, realmente, é estar ajudando. Meu foco na América do Sul é trabalhar no Paraguai, por tudo o que fiz, tenho um vínculo grande lá, de 12 clubes, oito disputam torneios internacionais. Caso surja o mercado brasileiro, também, que possa ser algo bom. Já tive convites, não aceitei, porque achava que não valia a pena. Estou em processo de conversa com uma seleção sul-americana para fazer o ciclo olímpico, primeiro sub-20 e depois pode pintar um sub-23. Estou nessa conversa com eles há um mês", confessou.

Conselhos para Ancelotti?

No final do papo, pedi a Eutrópio, que já foi auxiliar técnico de seleção estrangeira em Copa do Mundo e técnico principal, para analisar a contratação de Carlo Ancelotti na seleção brasileira. O brasileiro vê com bons olhos a escolha, e dá um conselho para o italiano.

"Ele é um excelente nome para qualquer clube ou seleção no mundo. O que penso é: ele vai usar toda a experiência que tem. Ele tem de usar isso tudo sabendo que agora, é um treinador de seleção. Treinador de seleção é diferente de treinador de clube. Você tem três dias para receber esses jogadores e passar sua informação para que eles absorvam dentro de campo. Ele já vai tentar dar tranquilidade e força mental para os jogadores. E como vai aplicar a metodologia em três dias? Eu vivenciei isso, existem caminhos para que essas coisas possam acontecer com velocidade e com sucesso", começou por opinar.

"É sair da caixinha, sair do pragmatismo. Vi alguns vídeos da seleção, sem querer falar mal de profissional, até porque conheço todos e são todos meus amigos, mas falando de visão... Seleção chega três dias antes, os caras fazem fortalecimento, trabalho preventivo, depois aquecimento tradicional... Isso tudo que citei, um funcional, dura 1h, um aquecimento 30, 40 minutos... Metodologia didática. Que forma que você coloca seus conceitos para que o jogador absorva. Será que um Vini Júnior precisa passar por tudo isso, vindo do clube? Não é necessário, entre logo com questões práticas, com conceitos, sub-conceitos, princípios, sub-princípios, dentro do treinamento. Periodização tática... Fui muito questionado... Se tinha três dias... Eu eliminei o aquecimento. Dava uma ativação de cinco minutos e entrava direto (para o treino com bola). Vou dar trabalhos com meus conceitos para que ele melhore a tomada de decisão", finalizou.

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