Jogada10
·20 dicembre 2024
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Luiz Eduardo Baptista, o novo presidente do Flamengo, acentuou em relato público, durante a sua posse, que uma provável construção do estádio, tão celebrada pela diretoria anterior, necessitará de estudos prévios. O que é óbvio, pois não se tem a certeza do que há no terreno. Este deve ser submetido a uma limpeza física e técnica, para impedir futuros problemas.
O local se tornou por um gasômetro, criação de uma empresa belga em 1911. Em 1969 ocorreu a sua estatização. E sua desativação saiu em 2006. Vale lembrar que o decreto de desapropriação exige “a implementação de equipamentos específicos”.
Bap quer evitar – o raciocínio é correto – que o Flamengo seja vítima das dificuldades pelas quais passou o São Paulo, com o Morumbi. E pelo Corínthians, no Itaquerão. O Tricolor paulista teve perdas esportivas entre 1958 e 1969. Neste período, permaneceu sem conquistar títulos. Já o Alvinegro convive com problemas financeiros desde 2014, quando o estádio passou a receber jogos e espetáculos musicais.
É importante ressaltar que o terreno que abrigou o gasômetro por quase um século foi adquirido pelo Flamengo com evidentes fins eleitoreiros;Por parte do prefeito Eduardo Paes, que ganhou um novo mandato. E pelo ex-presidente do Flamengo, Rodolpho Landim, derrotado em sua tentativa de continuar à frente do clube. O maior erro do pessoal que acaba de deixar a Gávea, de acordo com algo próximo de uma pesquisa realizada por este que vos escreve, foi demitir Dorival Júnior. O técnico ganhou dois títulos de importância consecutivos. Caiu dez dias após as conquistas. E pior: substituí-lo pelo português Vitor Pereira, o pior técnico da longa trajetória do futebol do clube.
Jose Bastos Padilha comandou, com total suesso, o Flamengo entre 1932 e 1937 – Wikimedia Commons
Luiz Eduardo Baptista disse também, em breve entrevista à TV Bandeirantes, que o seu objetivo não é profissionalizar apenas o futebol. Mas o Flamengo como um todo, o que jamais foi realizado – palavras suas – nos 129 anos da história rubro-negra.
O pensamento é digno de muitos aplausos. Mas José Bastos Padilha, o maior presidente do clube em 13 décadas, teve a capacidade e a coragem para pôr em prática o mesmo desejo de Bap nos cinco anos que esteve à frente do Flamengo. Padilha assumiu em fevereiro de 1933 e renunciou por razões íntimas no fim de 1937.
Se você não sabe, o Flamengo teve sete presidentes de 1930 a 1932. Alfredo Dolabela Portela, Manoel Joaquim de Almeida, Carlos Eduardo Façanha Mamede, Rubens de Campos Farrula, Arthur Lobo da Silva, José Ildefonso de Oliveira Santos e Paschoal Segreto Sobrinho . O que é suficiente para o leitor imaginar a balbúrdia na qual vivia o clube. Muitos desentendimentos entre correntes políticas. E mais: a terrível discussão em torno de uma questão, o profissionalismo no próprio futebol. Enfim, tais situações atrapalhavam qualquer tentativa de organização interna.
É óbvio que as providências de Padilha foram postas em práticas há quase 100 anos. Ou seja, numa época em que os modelos de administração estavam bem distantes do mundo atual. Mas é fato que sem tais medidas o Flamengo hoje seria um clube sem a devida representação. Teria, digamos, perdido o trem da história.
Padilha adotou o profissionalismo no futebol, habilitou o terreno da Gàvea junto à Prefeitura e construiu o estádio, um monumento para a época. Além disso, aboliu definitivamente a política de restrição a negros. Enfim, Fausto dos Santos, Domingos da Guia e Leônidas da Silva são herança disso. E mais: introduziu uma gestão prática e inteligente, e lançar a propaganda – que hoje chamamos de marketing – capaz de transformar milhares de crianças e adultos em rubro-negros convictos.
Enfm, que o estádio saiba esperar a sua hora e que Bap seja o Padilha dos novos tempos.