Paulo Meneses: «Paços sem SAD? Podemos amanhã não estar no futebol profissional» | OneFootball

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·25 settembre 2024

Paulo Meneses: «Paços sem SAD? Podemos amanhã não estar no futebol profissional»

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Há 12 anos no comando das operações do Paços de Ferreira, Paulo Meneses enfrenta a fase mais conturbada da vida dos castores. Em entrevista ao zerozero, o advogado explicou qual o rumo que considera fundamental para a sobrevivência do clube, numa altura em que está iminente a venda da maioria do capital da futura SAD a um consórcio internacional, dono do Celta de Vigo e do Independiente del Valle. Ao mesmo tempo que tenta fechar um negócio estratégico, Meneses enfrenta uma forte contestação de um núcleo de sócios, que ameaça destituí-lo de presidente.

As novidades sobre a nova SAD e o comprador

Zerozero: Presidente, bem-vindo ao zerozero, é um prazer tê-lo aqui. Vamos conversar sobre um momento difícil do Paços de Ferreira. Não diria difícil, mas se calhar desafiante para si enquanto presidente. Gostávamos de começar pela parte desportiva. Desde que o Paços de Ferreira desceu, esperava-se que estivesse na luta por outros lugares. Este início de época está a preocupá-lo, ou ainda não?


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Paulo Meneses: É evidente que, quando usa a expressão «época difícil» pode não ser a mais apropriada. Eu diria que não é porque de facto não é difícil, é muito difícil. Esta é uma situação que eu não antevia tão difícil, mas a verdade é que também era um cenário que estava em cima da mesa, atendendo àquilo que é a realidade do futebol. Eu não diria só a realidade do Paços, mas a realidade do futebol para quem tiver a sua estrutura, uma definição de Sociedade Desportiva como o Paços de Ferreira tem. Não significa isto que uma outra definição possa alterar completamente o rumo das situações, mas acho que a partir daí começamos a ter todos muito mais capacidade de evidenciar a capacidade ou a incapacidade, a competência ou a falta dela, para que os resultados possam ser outros. Neste momento temos ainda uma estrutura que nos permite dizer se somos um clube com um único sócio, que é o Paços de Ferreira clube.

Ainda assim, recentemente, a direção foi legitimada para poder avançar no outro sentido. Mas ainda não o fez,  apenas e só porque esse caminho tem que ser trilhado de uma forma segura e acima de tudo de uma forma responsável. Porque eu digo sempre que ser presidente de alguma coisa, e neste caso da Paços de Ferreira, não significa ter direitos, significa ter obrigações. E obrigações, acima de tudo, de responsabilidade.

ZZ: Muitos sócios reclamam que não tiveram novidades sobre o processo desde que votaram a favor da constituição da SAD. Porque é que está a demorar tanto a haver novidades?

PM: Muito simples. Tudo isto tem uma lógica de legalidade. Quando o Paços de Ferreira foi abordado, num processo que começou em outubro de 2023, nós pedimos uma legitimação aos sócios para podermos ouvir eventuais interessados numa eventual mudança de gestão, para caminharmos para outro tipo de sociedade. Nessa altura fizemos uma Assembleia Geral. Legitimaram não para fazer a constituição de uma sociedade desportiva, mas para pudéssemos ouvir propostas.

Meses depois, nós apresentámos aos sócios algumas propostas, que não satisfaziam aquilo que eram as premissas que tinham sido colocadas. Mas entendi eu que deveria comunicar aos sócios aquelas que eram as premissas diferentes, mas que me pareciam que eu não me podia esconder. Eu não podia omitir aos sócios aquilo que eram as minhas preocupações e aquilo que eram, no fundo, as propostas que tinham chegado à nossa direção.

Nessa altura propusemos fazer uma nova Assembleia onde pudéssemos já ter em concreto alguma proposta e que pudéssemos, nesse caso, submeter à apreciação dos sócios. Foi o que fizemos e, portanto, em junho passado nós fizemos uma Assembleia Geral onde demos a conhecer aos sócios a proposta. Há muito quem diga que deveria haver um período de reflexão e eu considero que era justo que houvesse esse período de reflexão, mas justo dentro da urgência da situação. Foi uma Assembleia Geral extremamente concorrida, aliás à semelhança de muitas outras, onde os sócios tomaram duas decisões e deliberaram em duas vertentes. A primeira delas era a possibilidade de transformação da SDUQ em SAD. Isso foi aprovado.

Agora, estas negociações implicam confidencialidade, porque se assinou um contrato. Porque podemos nunca sequer ser SAD, ou ser SAD mas não transformar, ou não vender, ou não alienar este capital social nas formas que estavam previstas. Se depois de tudo isto, na fase de negociação concreta, não tiver pernas para andar... Aquilo que nós temos vindo a fazer é, com o sentido de responsabilidade, evoluir. Repare, eu posso dizer-lhe que a evolução foi tremenda. Neste momento, eu posso afirmar-lhe e, mais do que afirmar, posso provar isso aos nossos sócios. Estarei muito em breve a fazer essa comunicação mais formal, em sede própria, daquilo que foi uma evolução das negociações desde a Assembleia Geral até agora. Portanto, não há dúvida absolutamente nenhuma que houve uma evolução tremenda e essa evolução está prestes a ter um desfecho.

ZZ: Dentro do que pode revelar, e atendendo o que disse a presidente do Celta de Vigo, pode confirmar que é esse o grupo comprar o Paços de Ferreira?

PM: Eu nunca disse, em momento algum, que o Celta de Vigo era o clube que iria adquirir a participação social do Paços de Ferreira. O que eu disse é que havia um consórcio formado por dois clubes, que depois tinham apresentado uma proposta, neste caso pessoas ou consórcio ligado ao Celta de Vigo, juntamente com o Independente Del Valle, do Equador. Portanto, esse consórcio, essa sociedade, vamos dizer assim, é que propôs a aquisição do capital social da SAD. Não é propriamente o Celta, mas um consórcio entre o Celta e o Independente Del Valle. Portanto, é verdade que existe a intervenção do Celta, obviamente.

ZZ: E sobre as declarações da presidente do Celta de Vigo, Marián Mouriño que disse que as negociações ainda não estão numa fase assim tão avançada, estão apenas em fase de estudo? Os sócios consideram que há uma contradição.

PM: Eu não me senti totalmente confortável com essas declarações que eu vi. Tenho que o dizer claramente. Aceito e percebo que da parte da presidente do Celta haverá uma razão pela qual essas declarações foram transmitidas, nos modos em que foram. E aquilo que eu mais retive foi que estamos ainda numa fase de ouvir.

ZZ: Disse que estão a pesar os prós e contras.

PM: Para quem está de fora, e se eu me limitasse a ser sócio do FC Paços de Ferreira, parece que nós estávamos na fase mais embrionária de todo este processo. O que eu lhe posso dizer, e assumir aqui claramente, é que o FC Paços de Ferreira e o consórcio formado por esses clubes têm tido reuniões sistemáticas, contactos permanentes e quase diários, com troca de contratos, de formalização, de concretização de muitos aspectos que são importantes e estejam relacionados com a constituição da SAD. E posso-lhe dizer que este processo terá que ter um desfecho muito em breve. Na próxima semana terá que ter um desfecho decisivo. E para que haja um desfecho decisivo é sinal de que houve troca de contratos, análise de contratos e negociação dessas condições.

Agora há uma coisa que eu lhe garanto, eu poderei ter todas as acusações sócios. Nunca nenhum sócio me há de dizer que eu lhes faltei à verdade naquilo que é a informação. E nisto eu sinto-me tão tranquilo e tão seguro daquilo que estou a dizer, que se necessário fosse eu poderia comprovar tudo aquilo que acabei de dizer.

ZZ: Chegou-nos também esta manhã, antes também do presidente chegar, que cerca de 40 sócios apresentaram à Assembleia Geral o pedido para marcar uma assembleia extraordinária para destitui-lo. Como é que reage a isto?

PM: Eu espero que se alguém tiver a iniciativa de fazer uma coisa dessas, que pense seriamente nas consequências dessa atitude nesta fase. Temos de ter a noção de que cada atitude tem uma consequência. O Paços de Ferreira, de forma legítima, assinou um contrato, um memorando de entendimento, com determinadas pessoas, que a Assembleia Geral legitimou. Ao tê-lo feito de forma completamente legítima, assumiu com isso direitos e obrigações. Eu não creio que em momento algum alguém tenha a irresponsabilidade de tomar uma atitude tão temerária e tão perigosa, essa sim, para o futuro. Porque uma reversão depois da subscrição de um contrato de memorando de entendimento, traria consequências tão graves, tão graves, até economicamente, naquilo que seriam as penalizações, que eu espero que alguém tenha sentido de responsabilidade relativamente àquilo que se avizinha, que é o desfecho positivo ou não de negociações efetivas.

Não basta ter a irresponsabilidade de reagir com emoção àqueles que são os resultados desportivos, que não nos deixam confortáveis, nem a mim, como devem imaginar.  Agora, há uma coisa que eu sei, se for tomada uma decisão dessas, pessoalmente, respeito. Mas deixe-me dizer também uma coisa: eu respeitarei todos aqueles que assumirem publicamente essa atitude. Não respeitarei, em termos institucionais, aqueles que possam ter essas atitudes, mas que não as assumam. E tomar uma decisão destas implica assumir responsabilidades. E quem o fizer, se fizer, tem de ter a responsabilidade de, a partir daí, assumir responsabilidades.

ZZ: Portanto, se avançarem com esta tentativa de destituição e se o conseguirem fazer, o Paços de Ferreira correrá perigo de sustentabilidade?

PM: Eu vou-lhe dar só este cenário para que o possamos entender na prática. Nós não podemos desligar isto à questão legal.

ZZ: Haverá uma multa associada?

PM: Em primeiro lugar, um eventual pedido de destituição da direção terá como consequência direta que a direção reflita sobre esse pedido e tome uma atitude perante o mesmo. E estamos a falar em cenários hipotéticos. E portanto, pelo menos ao dia de hoje, e à hora de hoje, se isso acontecer, a direção vai ter de refletir e pensar e daí extrair as consequências. Depois imaginem um cenário desses: o que é que aconteceria? Seria destituída a direção do clube. A administração da SDUQ continuava em funções. E as pessoas esquecem-se disto. Porque a administração da SDUQ é nomeada pela direção do clube. Portanto, se amanhã o clube ficasse sem direção, não tinha sequer possibilidade de destituir a administração da SDUQ. Portanto, a administração da SDUQ continuaria a mesma. Se lá quisesse continuar.

Mas estejam tranquilos, porque se isso acontecer, não é preciso essa decisão. Se acontecesse uma coisa dessas, imediatamente eu deixaria de estar a assumir responsabilidades. Mas se isso acontecesse significava que, não havendo direção, também não se podiam nomear novos órgãos para a SDUQ. Porque é uma sociedade desportiva, que tem de registar os seus órgãos. E como é que a SDUQ teria administração? O que é que aconteceria a partir daí?

ZZ: Portanto, pioraria bastante a situação do clube neste momento, numa fase já decisiva das negociações?

PM: Quem não tiver conhecimento, ou não tiver esta capacidade de reflexão, ou quiser avançar para um processo destes, sem uma assessoria jurídica capaz e competente que alerte para as consequências de uma eventual decisão destas? Isto seria demasiado grave e eu não quero sequer pôr este cenário em cima da mesa, porque seria criar uma situação de insustentabilidade total e absoluta. Quem o fizesse teria de assumir as consequências. Esta é que é a questão de fundo. Poderia arranjar outros argumentos válidos mas que porventura ninguém teria refletido sobre eles. Porque se tivesse refletido sobre eles, não teria sequer a ousadia a não ser com sentido de irresponsabilidade de poder assumir uma coisa destas. Portanto, veja bem o vazio que uma situação destas criaria.

Até já ouvi falar numa coisa que me deixa ainda mais preocupado, que é a criação de uma comissão administrativa, que no passado já existiu, mas que nem sequer estatutariamente está prevista. Nada disso seria possível.

ZZ: Todo este clima conturbado prende-se um bocadinho com o facto de grande parte dos sócios, apesar de terem votado a favor, não querer que o clube se torne em SAD. O Paços de Ferreira conseguirá competir neste nível se continuar a ser uma SDUQ?

PM : Vamos ver uma coisa. O Paços de Ferreira está num péssimo lugar na classificação, a sete pontos do primeiro, a cinco pontos da subida e a três pontos do oitavo lugar. É mau. É muito mau. Mas o Paços de Ferreira, o ano passado, que acabou por fazer uma segunda fase de campeonato extremamente positiva, que acabou em quinto lugar, não tem, neste momento, nada que lhe garanta que vai manter-se na segunda liga, que vai descer ou que vai subir.

ZZ: Até porque é mais ou menos comum aos clubes, digamos, grandes da segunda liga, todos começaram mal o campeonato.

PM: Eu posso dizer que qualquer um destes cenários é possível. No início desta época, se tivesse havido a possibilidade de termos um investimento a tempo, e o timing não foi exatamente o melhor, mas era o possível, porventura podíamos ter tido a capacidade de fazer um maior investimento. E eu tinha, tenho de ser sério também nisto, a perspetiva de que ainda pudéssemos fazê-lo para esta época.

Se não nos mantivermos vivos, no sentido de podermos ser competitivos até determinada altura do campeonato, se o clube já tiver um processo de SAD, temos perfeitamente a possibilidade em janeiro de poder fazer um investimento que possa ser recuperado, seja para a subida, seja para a manutenção.

Porque garanto-lhe uma coisa, se a proposta final e a versão final de toda esta negociação não vier de encontro àquilo que eu assumi perante os sócios, eu não terei problema rigorosamente nenhum de dizer aos sócios aquilo que se passou, descrevendo cronologicamente o que se passou, comprovando cronologicamente o que se passou e dizer 'eu não fiz porque me comprometi com vocês a não fazer se não fosse nestas circunstâncias'. Prefiro isso do que fazer por fazer. Simples.

ZZ: E está confiante que vai ser um bom desfecho?

PM: Não seria justo e não seria correto que desse aqui e agora a noção concreta da situação. O que eu posso dizer é assim: nós já negociámos até à data dois contratos que são essenciais para este negócio.

Relativamente a esses contratos, houve negociações e chegámos a uma conclusão de que existe completa e absoluta viabilidade para o procedimento do negócio. Faltam pequenos pormenores, mas pequenos pormenores que não são impeditivos de podermos dizer hoje: 'se quiser eu fecho'.  A conclusão dessas diligências fará com que o investidor faça uma coisa, que é a confirmação das negociações que nos foram apresentadas, designadamente o preço e a percentagem, e se chegarmos a essa conclusão.

Eu posso dizer que o negócio tem de concretizar-se. Mas se porventura não houver a materialização dessas condições, eu vou dizer-lhe, e assumo-o aqui, que eu não faço.

Mas, sabe o que eu acho curioso? Há um ano e quatro meses, houve eleições. Na altura após a descida da divisão. Em junho passado, os sócios pronunciaram-se num determinado sentido. No próximo ano, em maio, há novamente eleições, se não houver antes, pelo mês de maio haverá eleições. Eu acho que quem fala, quem tanto assume uma posição de contra, não pode limitar-se a criticar. Tem de aparecer, tem de dar a cara.

São 23 anos de dedicação ao clube, com descidas de divisão, com subidas de divisão, com competições europeias, com momentos terrivelmente maus e com momentos de felicidade, Eu teria sido covarde se tivesse fugido em determinadas circunstâncias. Mas quem não aparecer, e puder aparecer, não é menos do que aquilo que poderia ter sido.

ZZ: Há várias declarações suas no sentido de dizer que não era a favor da SAD. E há, obviamente, uma razão para ter mudado de opinião. Qual foi?

PM: Se você me perguntar se eu sou a favor do SAD, por princípio, eu digo que não. Eu não sou adepto da SAD. E eu disse isto aos sócios. O que nos chamou, ou o que nos levou a tomar uma deliberação, não foi perguntar aos sócios, afinal aqui de vocês quem é a favor da SAD ou contra a SAD?  A questão aqui que se coloca é o que é que eu quero do futuro do FC Paços de Ferreira. E eu sei, tenho a noção exata, que daqui a uns tempos todos os clubes vão ser SAD na primeira liga e dois vão descer.

Agora, aí estamos a falar de estruturas que têm a mesma capacidade de poder discutir com as mesmas armas. E eu acho que os sócios têm o direito, e disse-o na Assembleia, e dizer «eu não quero nenhum investidor». A partir daí, têm a obrigação de assumir o risco associado a essa questão. Porque hoje no futebol o Paços de Ferreira é dos poucos clubes em Portugal que compete contra empresas. E se nós não tivermos a capacidade de perceber isto, e depois daqui resultar uma tomada consciente de posição, eu posso dizer «ok, mas eu quero que o Paços de Ferreira continue a lutar contra empresas até a exaustão, até ao limite da sua capacidade.» O Paços de Ferreira está no futebol profissional, estando neste momento fragilizado naquilo que é a sua estrutura e na sua capacidade econômica.

Mas podemos lutar até à exaustão, conscientes de que amanhã podemos não estar no futebol profissional e podemos estar, já não digo sequer na terceira liga, sabe porquê? Porque a terceira liga é toda ela profissional.

A gestão financeira e desportiva do clube

ZZ: Consegue-nos dar um exemplo de onde é que o Paços de Ferreira não consegue chegar, hoje em dia, e que um clube que tenha SAD e investimento consegue?

PM: Hoje cometem-se autênticas loucuras. Eu vou-lhe dar um exemplo só para você perceber. O Paços de Ferreira tem um salário médio mensal que poderá rondar os três mil euros. Estou a falar de valores líquidos, e porventura até menos em termos de líquidos.

O ano passado, tentamos contratar um jogador, jogador esse que tinha rescindido com determinado clube. Fizemos-lhe uma proposta no limite daquilo que eram as suas possibilidades efetivas de 3.500 euros. Esse jogador, que até demonstrou alguma vontade de poder fazer parte dos quadros do Paços de Ferreira, acabou por assinar com outro clube, não por três mas por nove mil euros, com um prémio de assinatura e outro prémio caso esse mesmo clube subisse de divisão. Quando nós temos esta realidade, nós temos que ter a consciência de que temos limitações.

Alguém tem a noção de que o Paços de Ferreira tem um orçamento da televisão que ronda os 600 mil euros, e tem todos os meses um déficit de cerca de 200 mil euros, em relação à estrutura global do clube e da SDUQ?  Temos um déficit mensal na ordem dos 200 mil euros. Todos os dias é preciso inventar soluções e não criar dívida a mais. Mas sabe uma coisa? Eu acho que era giro, que as pessoas que potencialmente ameaçam com destituições, terem que assumir responsabilidades e teriam que ir para a direção, que não se escondam atrás de comissões administrativas. Porque isso não faz com que eles assumam responsabilidades, inclusive criminais, no caso de falta de pagamento de impostos.

ZZ: Mas mesmo com esse déficit consegue gerir o clube? O ano passado saíram algumas notícias, inclusive a da saída do Cipenga, que havia salários em atraso.

PM: O Cipenga não tinha salário rigorosamente nenhum em atraso no momento em que nós recebemos qualquer comunicação. Nenhum!

ZZ: Mas ele alegou essa questão para sair.

PM: Agora já está a decorrer um processo contra o Cipenga. Ele entendeu que devia rescindir, aconselhado ou não, não faço a mínima ideia. Eu só sei que o Cipenga nos enviou uma carta que, não foi escrita naturalmente por ele, com argumentos que eram completamente falsos. Eu lembro-me que foi a 15 de maio, se não me falha a memória, foi numa altura do controle salarial em que ele alegou que tinha salários em atraso desde fevereiro. Repara uma coisa, eu tive que comunicar isto ao plantel e todos disseram «é impossível que ele tenha dito isso».

Agora, como ele tem um clube onde foi inscrito, o clube em causa é solidariamente responsável para com o Paços de Ferreira por ter contratado alguém a quem não será reconhecido à justa causa. E não tenho dúvidas nenhumas que daí haverá uma receita para o futuro do Paços de Ferreira.

Existem receitas extraordinárias que nos têm vindo a permitir dizer que hoje a situação econômica do Paços de Ferreira, quatro meses depois da última Assembleia, não tem mais déficit do que tinha. Pergunte-me como? eu já nem sei exatamente como, mas o Paços não criou dívida, não ficou a dever mais dinheiro, encontrou soluções daquilo que são direitos que vêm do passado.

ZZ: Portanto, dormirá mais descansado se alguém o ajudar na SAD futuramente a gerir o clube.

PM: Não, não. Está enganado. Porque eu não quero que ninguém me ajude. Eu quero que alguém ajude o Paços. Mas eu não quero fazer parte disso... Não quero, não faço questão. Porque acho que estou ligado ao Paços de Ferreira há demasiados anos para me perpetuar no Paços de Ferreira, porque nunca foi essa a intenção.

ZZ: Não se imagina a continuar, em caso da venda de capital da SAD, à frente do clube? Acha que o seu ciclo termina por aqui ou terá energia para continuar?

PM: Isso não tem a ver com energia, tem a ver com motivação. Eu aceito a crítica se for com respeito. Eu acho que nós, quando assumimos um cargo de responsabilidade, temos que ter a consciência que a primeira coisa que nos vai acontecer é a crítica. E temos de ter capacidade de encaixe. Isso não preocupa. Porque eu sei que é uma das consequências. Sabe o que é que me preocupa? O que me preocupa é... a covardia de quem fala e não assume responsabilidades. Isso é que me preocupa.

O Paços de Ferreira tem um património imobiliário incrível. Eu diria o melhor da segunda liga em Portugal.

Porque quem se pudesse comparar ao Paços de Ferreira em termos de estrutura, de estádio e condições desportivas, não o fez por conta própria. Fez porque teve a ajuda do Estado. Não vale a pena concretizar. E, curiosamente, no dia em que eu sair, o Paços de Ferreira deve zero do todo investimento e tudo o que tem de património.

E bastava isso para que eu tivesse orgulho daquilo que as direções a que eu presidi tenham dado ao Paços de Ferreira. Ninguém deu mais. Deu tanto, eventualmente, como eu dei. Mas ninguém deu mais.

ZZ:  Sobre a demissão do Jaime Sousa, diretor de futebol. Há adeptos que dizem que ele afirmou que queria sair, depois há uma versão a dizer que ele não sai, a verdade é que ele esteve no banco no último jogo. Quer esclarecer só esta questão?

PM: Houve um jornalista que me ligou e pediu para eu confirmar a demissão de Jamie Sousa.  Aquilo que eu fiz, no segundo imediato, foi ligar-lhe. O Jaime disse-me que houve uma conversa onde ele assumiu, na contestação a que fomos sujeitos na saída do estádio após o jogo no Feirense, «Se o problema sou eu, não se preocupem, então eu demito-me». Qualquer coisa deste género.

A verdade é que ele nunca apresentou nenhum pedido de demissão, nem me comunicou a mim. A mim confirmou-me que tinha tido este desabafo, que teve um determinado contexto, mas eu não quero falar mais sobre isso. O que eu lhe posso garantir é que não é verdade. Agora, o contexto e as coisas que me se passaram, eu não assisti, não vi.

ZZ: O sócios falam muito sobre a política de contratações, responsabilidade de Carlos Carneiro. Está alinhado com ele, no que diz respeito à compra e venda dos jogadores? Na verdade este mercado foi um bocadinho agitado para o Paços de Ferreira, em termos de entradas e saídas. Está confortável com o que o Paços tem feito?

PM: Eu vou lhe responder isso de uma forma perfeitamente clara. Eu não vou falar só do Carlos Caneiro, mas também do Carlos Caneiro. No dia em que qualquer funcionário do clube, qualquer colaborador do clube, tiver comportamentos que me provem a mim, que são incorretos, que são ilegais e que são com interesses difusos, esse colaborador, esse funcionário, não continuará a mais no Paços de Ferreira. Agora, não podem é dizer, têm que provar. Porque, naturalmente, eu nunca poderia pactuar com alguma coisa que eu tivesse conhecimento claro dessa situação.

O Carlos Caneiro foi diretor desportivo do Paços de Ferreira em outros anos em que o clube também conseguiu competições europeias, como por exemplo agora na Conference League, com o Pepa. Era diretor desportivo no momento em que descemos de divisão, há dois anos.

ZZ:  No futebol acerta-se e erra-se.

PM: Eu vou dar-lhe este exemplo. O ano passado fomos jogar a Santa Maria da Feira, foi dos piores jogos que fizemos na época. Se eu tivesse tido a possibilidade, naquele jogo, de devolver o Gorby ao Braga,  eu tinha pedido ao presidente do Braga e teria devolvido. E peço desculpa agora porque é um grande jogador, mas se eu pudesse naquele jogo, pela emoção, teria devolvido o Gorby ao Braga.

ZZ: E hoje em dia tem jogado a titular até no Braga...

PM: Mais que isso. O problema é que eu acho que o Gorby foi dos principais responsáveis pelo Paços de Ferreira ter tido o crescimento que teve. Agora, isto é emoção. A razão não me levou a fazer nenhum telefonema para o Presidente António Salvador. Levou-me a acreditar naquilo que tinha feito. E espero que muitos daqueles que hoje criticamos não se revelem mais valias para o Paços de Ferreira no final da época. Mas há muitos erros que se cometem. Mas cometem-se e avaliam-se lá de frente. Não é agora.

«Nunca vi nenhum saco de dinheiro a meter um golo, mas...»

ZZ: Já aqui descrevemos a grande oscilação do Paços de Ferreira, desde a pré-eliminatória da Champions League até à descida...

PM: Quais são os clubes, daqueles que oscilam sempre, usando a sua expressão, que nos últimos 25 anos mais presenças têm na Primeira Liga?

ZZ: O Paços de Ferreira estará no topo.

PM: Sabe há quantos anos é que estou no Paços de Ferreira? 23. Respondi?

ZZ: Mas a pergunta era se confia que voltará a haver o Paços de Ferreira nessas metades superiores da Primeira Liga.

PM: Confio claramente. Desejo isso brutalmente e confio claramente que isso pode acontecer.

ZZ: E estará dependente desta fase?

PM: Repare, nós podemos ter aqui um golpe de sorte no meio disto tudo que nos aconteça e que consigamos criar um plantel que não tenha que buscar jogadores desconhecidos para aquilo que é a generalidade das pessoas, ou a divisões inferiores. Não há necessariamente uma relação direta entre aquilo que é o orçamento e o sucesso desportivo. Há um presidente que eu gosto imenso, o Patrick, do Belenenses, que usava uma expressão que ficou relativamente famosa, que dizia alguma coisa do género: «Nunca vi nenhum saco de dinheiro a meter um golo».

Mas agora vou acrescentar outra. Eu também nunca vi nenhum saco de dinheiro a meter nenhum golo, mas já vi sacos de dinheiro a escolher quem os meta.

ZZ: E quanto maior o saco de dinheiro, mais probabilidade há de fazer golos, não é?

PM: Tenho tudo para poder ser Presidente do Paços de Ferreira (risos).

ZZ: Para fecharmos, Presidente, só uma última pergunta em relação à época desportiva. Quais são as suas expectativas, apesar deste mau início?

PM: Num cenário de dificuldade, e a manter-se este cenário que temos, a ficarmos continuamente sozinhos até ao final da época, temos que pensar seriamente em preparar a manutenção, com calma.

Portanto, vamos dizê-lo de forma clara e aberta: Se o Paços se mantiver vivo no campeonato até ao final deste ano civil, e na janela de transferências de janeiro tiver capacidade de investimento, terá que ir ao mercado, isso é natural, não vale a pena dizer o contrário. Depende da forma como nós nos situarmos nessa altura. Mas é possível que nós possamos aspirar a ter uma classificação digna, como tivemos o ano passado. Pode acontecer algo melhor, espero e acredito sinceramente que será algo melhor.

ZZ: Manteve o treinador, apesar da não subida da não subida de divisão...

PM: Eu acho que o treinador, neste momento, é o único que tem um guarda-chuva grande sobre ele. Não vejo a chover muito em cima do treinador e justamente.

Acho que o treinador demonstrou já ter competência e qualidade. E eu costumo dizer que quem é muito bom nunca fica no Paços, passa pelos Paços. Agora, acho que o treinador tem as competências suficientes para poder, desde que tenha condições, se fazer um excelente trabalho. Seja a manutenção, dependendo das condições, ou de subir da divisão.

ZZ: Presidente, muito obrigado pela sua presença aqui, e boa sorte para o futuro do Paço de Ferreira.

PM: Obrigado, obrigado de forma sincera.

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