Gazeta Esportiva.com
·17 settembre 2024
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A parte física de Memphis Depay, contratação mais badalada do Corinthians na temporada, gera curiosidade entre torcedores. Em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva, a Dra. Flávia Magalhães, médica especializada em esporte, destacou que o histórico de lesões do holandês precisa ser bem analisado e destacou a importância do jogador ganhar ritmo de jogo para prevenir novas contusões.
O tempo de inatividade de Memphis também faz com que o jogador tenha atenção especial nessa chegada ao Brasil. A última vez que o jogador entrou em campo foi no dia 10 de julho, pela Eurocopa. Na ocasião, o atleta teve que deixar o primeiro tempo do jogo entre Holanda e Inglaterra por conta de problema muscular.
“A gente sempre tem um alerta. Quando o atleta não está jogando, o nível de performance dele é diferente, principalmente para a gente que está em uma segunda fase de Campeonato Brasileiro. Estamos em uma escala de jogadores performando muito alto, e ele chega vindo de uma lesão, de um tempo sem jogar. E tem o histórico de lesão. Quando há um longo histórico de lesões musculares também temos muita fibrose em geral no tecido, depende de como foi a recuperação. Ele já teve lesão de LCA, de tendão de Aquiles…”, destacou a médica que trabalhou por 11 anos no Atlético-MG e acumula convocações para a Seleção Brasileira desde 2015.
Segundo levantamento feito pelo Transfermarkt, Depay acumula 11 lesões desde a temporada 2021/2022, sendo todas musculares. Na temporada passada, pelo Atlético de Madrid, o atleta chegou a ser ausência por cerca de dois meses devido a um problema físico.
“Então, esse histórico precisa de um olhar primoroso de toda a equipe multidisciplinar. Não só a equipe médica, mas principalmente a equipe de fisioterapia, preparação física, nutrição, parte mental do atleta… Todos esses cuidados ao redor desse cenário são fundamentais para ele ter uma performance alta sem uma nova lesão”, complementou Flávia.
No meio desse cuidado com a parte física, Memphis vai passar por um período de adaptação não só ao futebol brasileiro, mas ao país. É a primeira vez que o atleta deixa a Europa para defender um clube de futebol.
“Desde a preparação física, ao ritmo de treino, de jogos, tipo de campo… Nós temos várias diferenças nesse cenário, o clima… Esse contexto vai ser analisado e precisa da resposta do atleta. A gente faz esse acompanhamento com o jogador para ter as percepções subjetivas do jogador, como ele se percebe nesse cenário. Não podemos negligenciar quando ele fala qualquer coisa sobre esse cenário. Relação com a umidade, fuso horário… Tudo é relevante. Cada detalhe pode ser um alerta para uma nova lesão. É um cenário de risco, mas com certeza a parte técnica pesou para o Corinthians tomar essa decisão”, comentou a Dra. Flávia, que atualmente atua como presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Esporte.
Para que o jogador não contraia novas lesões, a especialista destacou a importância do ritmo de jogo, mesmo que gradual. A tendência é que Memphis tenha seus primeiros minutos com a camisa do Corinthians no próximo sábado, contra o Atlético-GO.
“O cenário do Corinthians não é favorável, então neste momento que você precisa de reforços é desafiador falar que você vai contratar um cara de peso e não vai por ele para jogar. Então é a parte da avaliação médica, da avaliação fisioterapêutica, da avaliação física, da adaptação dele ao novo cenário do clube e estipular que ele comece jogando em intervalos menores, mas ganhando ritmo de jogo”, disse a Dra. Flávia.
“O ritmo de jogo é importante. Se ele faz um jogo e volta três rodadas depois, o ritmo é diferente. Quanto mais ritmo de jogo, menos risco de lesão. Mas tem que ser dentro do cenário, da adaptação dele. Não podemos forçar a qualquer custo um jogador que pode ter uma nova lesão, e ele tem o histórico”, complementou.
Aos 30 anos, a tendência é que Memphis leve mais tempo para se recuperar fisicamente em relação à atletas mais novos. Por isso, a Dra. Flávia reforçou a importância do cuidado no dia a dia, com avaliações precisas em relação ao físico do jogador.
“Isso é muito individualizado. Temos jogadores que ao longo da carreira tiveram cuidado, trabalho que favoreceu maior longevidade. Mas à medida que o tempo passa, mais tempo leva para se recuperar. Ele não é mais um menino de 20 anos. Ele tem 10 anos a mais, e esses 10 anos pesam na parte de recuperação muscular. E ele tem muitas lesões musculares. A gente fala que lesões musculares são evitáveis, mas até determinado ponto. Se a gente não está conseguindo estabelecer na parte da musculatura um bom equilíbrio, vamos ter mais riscos com ele tendo 30 anos. Não dá para prever nada, mas podemos fazer a avaliação dia após dia, precisa, consistente, com vários parâmetros, para evitar lesão”, comentou a profissional.
Memphis não viajou com a delegação do Corinthians para a partida contra o Fortaleza, pela ida das quartas de final da Copa Sul-Americana. O atleta está trabalhando no CT Joaquim Grava, mas a comissão técnica entende que ele deve ter condições de entrar em campo contra o Atlético-GO, pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro.
O atleta holandês assinou contrato com o Timão até meio de 2026. O clube adquiriu 50% dos direitos econômicos de Depay e vai contar com o aporte da patrocinadora Esportes da Sorte para bancar grande parte do salário do jogador.
Veja outros trechos da entrevista com a Dra. Flávia Magalhães
Existe diferença entre a medicina esportiva europeia e a brasileira? Memphis pode ter alguma surpresa nesse sentido?
“Está muito bem alinhado entre os clubes. Essa parte da ciência é globalizada, estamos sempre atrás dos estudos, do que tem de mais moderno, a gente faz sempre visitas técnicas em outros países, clubes, para entender como se trabalha. E existe um diálogo. O diálogo do atleta falar se não compreendeu, como prefere trabalhar, alguns até trazem os próprios fisioterapeutas para fazer um trabalho em conjunto. Existe esse diálogo, essa abertura. Quanto mais essa comunicação for efetiva, melhor o resultado. Em termos de medicina do esporte, estamos muito avançados no Brasil. Temos uma equipe qualificada, o Corinthians faz parte disso e tem profissionais de grande capacidade técnica. Acredito que não haja desafio nesse sentido. Os maiores desafios são mudança de país, de cultura, de campo, ritmo de treino e de jogo. A questão do embate, de como os jogadores aqui podem ser mais rudes na forma de jogar. Isso vai gerar a ele uma adaptação maior”.
Saúde mental de Memphis
“A questão da saúde mental dele vai ser um aspecto crucial. Como ele está vendo? A gente dá ênfase nas lesões, mas aí tem um Corinthians em situação complicada, uma cobrança da torcida, é uma torcida enfática… Então a saúde mental dele tem que estar muito bem amparada para ele entender o cenário e se adaptar sem o risco de lesões.”