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·20 marzo 2025

EY pediu por e-mail que Corinthians dividisse resultados de investigação com o Conselho do clube

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  1. Por Larissa Beppler e Daniel Keppler / Redação da Central do Timão

No final de janeiro, a Central do Timão publicou uma matéria sobre declarações de Augusto Melo, presidente do Corinthians, a respeito da investigação de sete contratos assinados por gestões anteriores. O trabalho foi realizado pela consultoria EY no primeiro semestre de 2024, enquanto esteve vinculada ao clube.

Embora o mandatário afirmasse que a empresa nunca informou ao clube os resultados obtidos nesses projetos, trocas de e-mails e fontes ligadas ao Corinthians sustentavam o contrário: a diretoria corinthiana já tem conhecimento desses resultados há meses. Essa versão, agora, é reforçada por novos documentos e conversas entre clube e empresa, aos quais a Central do Timão teve acesso.


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Foto: Divulgação

Cobrança por escrito

Um dos documentos é um e-mail enviado em 1º de julho de 2024 por um sócio da EY a Augusto Melo, com cópia para membros da diretoria corinthiana: Marcelo Mariano (diretor administrativo), Vinicius Cascone (secretário-geral), Leonardo Pantaleão (diretor jurídico) e Luiz Ricardo Alves, conhecido como Seedorf (então diretor financeiro adjunto).

Na mensagem, a EY informa à diretoria do Corinthians que estava sendo cobrada por Romeu Tuma Júnior sobre os serviços prestados ao clube. O presidente do Conselho Deliberativo (CD) alegava não conseguir obter essas informações diretamente da gestão alvinegra, o que levou a empresa a reagir no e-mail enviado a Augusto Melo:

“Temos o compromisso de esclarecer que a responsabilidade de prestar tais esclarecimentos ao Conselho Deliberativo incumbe primordialmente à Administração do SCCP, podendo contar com o suporte da EY, quando necessário. Neste contexto, instamos que a Presidência e/ou a Diretoria do SCCP conceda uma resposta ao eminente Presidente do Conselho Deliberativo, com a máxima celeridade, mantendo a EY devidamente informada sobre o desenvolvimento da situação.”

A EY segue reforçando que, em maio, firmou um compromisso com o Corinthians para investigar sete contratos assinados por gestões anteriores à de Augusto Melo. O trabalho incluiu análise documental, testes de transações e background check de fornecedores, pessoas relacionadas e ex-dirigentes do clube.

No e-mail, o sócio da EY confirma que, em 6 de maio de 2024, a empresa se reuniu com Rozallah Santoro, Yun Ki Lee e Fernando Perino, então membros dos departamentos financeiro e jurídico do clube, para apresentar os resultados da investigação. Embora a mensagem não detalhe esses resultados, uma apuração da Gazeta Esportiva, publicada na última terça-feira, 18, e confirmada pela Central do Timão, revelou que não foram encontradas irregularidades entre os fornecedores e dirigentes envolvidos nos contratos analisados.

Ainda segundo a apuração, ao tomar conhecimento dos resultados da análise, a diretoria do Corinthians optou por não pagar pelos serviços prestados pela EY, que deveriam ser quitados em duas parcelas: R$ 97.959,18 em 10 de junho e R$ 144.139,94 em 10 de julho. Como resultado, a EY não emitiu o parecer final, deixando o clube apenas com as informações compartilhadas na reunião de maio.

Cobranças continuaram

Este e-mail jamais foi respondido pela diretoria, que até hoje afirma não ter conhecimento sobre o conteúdo da análise dos contratos feita pela EY. Em razão disso, a diretoria se recusa a prestar esclarecimentos aos órgãos fiscalizadores do Corinthians. Mesmo assim, outras tentativas de obter o material foram realizadas, incluindo uma série de ligações feitas por Romeu Tuma Júnior, membros da EY e pessoas ligadas ao clube.

Diante da negativa da atual diretoria em fornecer o teor dos resultados da investigação, o presidente do CD passou a buscar o material em outras fontes. A justificativa era subsidiar a Comissão de Justiça com os documentos, já que o órgão estava, à época, examinando os contratos assinados entre o clube e a consultoria.

Um dos nomes abordados foi um dos sócios da EY, que confirmou ao dirigente o conteúdo do e-mail citado nesta matéria: a diretoria teve acesso aos resultados da investigação dos contratos. Ele também informou que o parecer por escrito só poderia ser entregue após o pagamento pelos serviços, o que nunca ocorreu. Tuma ainda alertou que, caso a situação continuasse sem resposta, convocaria a EY para explicar o caso no Conselho Deliberativo.

Outra pessoa procurada foi um membro da atual diretoria, com quem Tuma expressou preocupação pelo fato de a EY resistir em compartilhar os resultados da investigação com o Conselho Deliberativo do clube, alertando sobre as possíveis implicações caso essa situação persistisse.

Ainda assim, os órgãos fiscalizadores do clube continuam sem acesso às informações recebidas pela diretoria do Corinthians. Da mesma forma, a EY segue sem receber pelo serviço prestado.

Cobranças também foram internas

Conforme mencionado anteriormente, a diretoria estaria omitindo de forma sistemática as informações sobre os serviços prestados pela EY dos órgãos de fiscalização do clube. Um dos conselheiros que, nos últimos meses, tem insistido nas cobranças é Paulo Roberto Bastos Pedro, também membro do Conselho de Orientação (CORI) do Corinthians.

A primeira cobrança ocorreu em 12 de agosto de 2024, quando Paulo Pedro questionou diretamente Augusto Melo sobre vários temas, incluindo a consultoria, durante uma reunião do CD: “Peço, também, esclarecimentos sobre o fato de até o presente momento não ter sido apresentado o relatório da empresa EY, o relatório que seria doa a quem doer.”

O presidente corinthiano respondeu, afirmando que, caso recebesse o pedido por escrito, forneceria os esclarecimentos. O conselheiro, então, entregou as questões por escrito, mas não obteve resposta. Dois meses depois, voltou a interpelar o mandatário alvinegro, lamentando a “falta de transparência” da diretoria.

“São 63 dias e eu até agora não fui respondido. A transparência, presidente Augusto, ela não é uma dádiva ou uma qualidade de um gestor. A transparência, ela é uma obrigação e é tudo o que nós não estamos vendo aqui. (…) O senhor está tratando com a paixão de 35 milhões de torcedores e o senhor age sem transparência, sem diligência, sem nada?”

Após um bate-boca entre Paulo Pedro e Augusto Melo, o assunto novamente ficou sem resposta, mas voltou à tona nos bastidores do Parque São Jorge quando o vínculo do Corinthians com a EY foi citado como um dos problemas da prestação de contas do primeiro semestre de 2024 enviada pela diretoria ao CORI. A situação foi fortemente criticada, levando o órgão a recomendar o impeachment do presidente.

No relatório, aprovado por unanimidade pelo Conselho de Orientação, o colegiado criticou a “dificuldade de entendimento” dos contratos assinados entre clube e empresa, além do alto custo dos serviços (podendo ultrapassar os R$ 13 milhões) e o fato de não ter recebido da diretoria alvinegra qualquer documento relativo à rescisão contratual entre o clube e a EY, tampouco os demonstrativos dos resultados obtidos com os serviços prestados pela consultoria e pagos pelo Corinthians.

Implicações políticas à gestão

Alguns conselheiros ouvidos pela Central do Timão reforçaram o entendimento expresso pelo CORI no relatório mencionado acima, de que as omissões de informação por parte da diretoria configuram prática de gestão irregular ou temerária, e afirmam que o fato de Augusto Melo saber dos resultados da investigação feita pela EY e se negar a compartilhá-los com os órgãos fiscalizadores constitui uma infração grave ao estatuto social do Corinthians.

Um conselheiro citou os artigos que, em seu entendimento, estão sendo descumpridos pelo presidente alvinegro neste tema: o artigo 106, nas letras “b”, “d” e “e”, combinado com o artigo 112, que trata das atribuições do cargo.

“Art. 106 — São motivos para requerer a destituição dos administradores (Presidente da Diretoria ou de seus Vice-Presidentes):

b) ter ele acarretado, por ação ou omissão, prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do Corinthians;

d) ter ele infringido, por ação ou omissão, expressa norma estatutária.

e) prática de ato de gestão irregular ou temerária.”

Vale lembrar que a recomendação do CORI para o afastamento de Augusto Melo, devido à sonegação de informações na prestação de contas do primeiro semestre de 2024, resultou em um processo ético-disciplinar na Comissão de Ética e Disciplina (CED) e pode levar ao impeachment do presidente.

Fontes também informaram à Central do Timão que a cobrança pelos resultados da EY continua, pois outros conselheiros e órgãos fiscalizadores do clube seguem exigindo essas informações. Caso a diretoria corinthiana persista em resistir ao envio das informações ao CORI, a EY poderá ser convocada para explicar a situação aos conselheiros.

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